ATO 19

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Existem desafios que, se aproveitados de forma criativa, transformam-se em oportunidades

Existem desafios que, se aproveitados de forma criativa, transformam-se em oportunidades

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 A Neve desencadeou algumas lembranças da minha infância.

Agora consigo lembrar que mamãe fazia sopa de abobora nesta época, e ao termino do dia, montávamos um boneco de neve que raramente parava em pé pois papai insistia que todo ano ele deveria ser maior que seu antecessor.

Curioso. Espero que eu consiga lembrar o que houve na fatídica noite em que ambos se foram. As lembranças se dispersavam enquanto descíamos a íngreme montanha de neve.

Nossos pés afundavam alguns centímetros conforme andávamos. A tempestade estava diminuindo, mas o frio ainda castigava. Tentamos enxergar um pouco adiante, mas a nevoa era densa e nada se via além dela.

— As disputas estão ficando mais complicadas a cada mês, já perceberam? — Questionou Patrick.

— Sim. Antigamente sempre tínhamos o mesmo desafio, mas em lugares diferentes. O contexto era sempre pegar algum animal bonito para a diretora. Estão mais criativos e sádicos, agora — Respondeu Alisson.

— Ou eles só não têm mais o que fazer e ficam atormentando nossa paz — Concluí. A estrada estava ficando plana e arvores secas e tortas apareciam timidamente entre a nevoa junto de rochas brancas felpudas. O fim da montanha nos levou a uma floresta morta, com alguns troncos dominados por gelo. Enquanto reclamávamos uns para os outros sobre o quanto é cansativo ter que estudar e ainda encarar desafios como esse, pausamos a conversa quando Mavis escutou um barulho entre a relva seca.

— O que foi isso? — Sussurrou ela. O silencio foi absoluto. Olhamos em todas as direções mas não avistamos nada. Nem mesmo silhuetas — Eu tenho certeza que escutei barulhos vindo das arvores — Afirmou. Fui na direção em que Mavis apontou o ocorrido. Era uma arvore comprida, ao lado de uma das rochas brancas.

Inclinei o pescoço para cima, e vi um pássaro pousado em um dos galhos, completamente congelado. E naquele mesmo instante, fui golpeada por algo que não consegui ver de onde vinha. Ao cair no chão, me afundando na neve, de rosto dolorido e visão embaçada, vi a rocha ao lado da arvore se mexer, e em seu centro, dois olhos pequenos e azuis cristalinos se abrirem.

— PAN! SAIA DAÍ! — Gritou Patrick. Dois braços saíram do rochedo, e seu tamanho aumentara duas vezes mais.

Logo vimos cabeça e pernas se esticarem dali. Aquilo não era uma rocha. E quando se formou inteiramente, uma criatura peluda, de rosto acinzentado, semelhante a um babuíno adulto, com garras grandes, afiadas e olhos pequenos nos encarava. Tinha mais de dois metros de altura.

Me levantei e corri em direção aos demais da equipe, mas fui pega por ele, pela cintura e erguida até a altura de seu assustador rosto. Um urro ensurdecedor saiu de sua bocarra, jogando meus cabelos para trás e me fazendo fechar os olhos.

O odor que exalava da sua bocarra parecia de enxofre.

Quando o monstro pensou em dar seu primeiro e último golpe em mim, uma bola de neve atingiu um de seus olhos, desequilibrando-o e me arremessando de volta para o chão. Na sequência, as demais rochas vistas no caminho também começaram a se transformar.

— VAMOS! FUJAM, AGORA! — Gritou Patrick com algumas bolas de neve em mãos. Não olhamos para trás para contar quantos eram, mas eram muitos. O chão tremia conforme nos perseguiam. Eles urravam cada vez mais, em uma sinfonia ensurdecedora.

Nossos corações pulavam pela boca. Alguns deles corriam de quatro, enquanto outros apenas com as duas pernas. Seguravam pedaços de troncos afiados.

Naquele momento, Alisson bateu o pé em uma pedra e caiu.

— ALISSON! NÃO! — Gritou Claire — Mas já era tarde. O garoto fora atingindo no tórax por um dos troncos que os monstros seguravam, e morreu ali mesmo. Outras das criaturas não pararam de correr, passando todas por cima dele. Claire ficara em choque ao ver toda a cena. Isso foi a brecha para a sua derrota também. A criatura que estava mais próxima, arremessou sua arma afiada, atingindo as costas da garota, matando-a no mesmo instante.

— NÃO PAREM DE CORRER! — Ordenou Mavis.

O vento gelado cortava nossas gargantas enquanto nossos pulmões latejavam. Parecia que iam parar de funcionar a qualquer momento. A tempestade de neve voltara à tona. O caminho adiante era limpo, sem arvores, facilitando nossa fuga. Arrisquei olhar para trás e apenas uma das criaturas vinha ao nosso encontro, devagar. As outras permaneceram distantes, observando-nos.

O monstro que se aproximou pisava fundo no chão até percebemos o que de fato estava acontecendo.

— Estamos... em cima de um lago congelado... ELE ESTÁ RACHANDO O GELO! — Bradou Mavis. Algumas rachaduras apareceram de fato, logo metade do lugar estava se partindo. Voltamos a correr, com os passos mais acelerados que nunca. O chão embaixo de nós explodia em rachaduras cada vez maiores. O vento gélido das frestas batia em nossos rostos.

Do outro lado, avistamos um templo em ruínas. Era nossa única chance.

Quando as rachaduras nos alcançaram, pulamos para a outra margem, onde o lago terminava. Se tivéssemos pulado apenas um centímetro para trás, teríamos todos morrido congelados. A criatura que estava no meio do lago afundou junto com o chão. As demais continuavam nos encarando do outro lado.

Paramos para retomar o folego, quando uma delas começou a bater as mãos no peito, desencadeando uma sequência de golpes fortes que todas fizeram ao mesmo tempo. Pareciam primatas selvagens, descontrolados.

— Maldição... olhem o que eles fizeram... — Apontou Petúnia para a montanha de onde viemos. O lugar inteiro começou a tremer, quando por fim, toda a camada de neve começara a descer montanha abaixo. Uma avalanche gigantesca descia varrendo todas as arvores e engolindo todo o caminho. As criaturas também foram tomadas por ela.

Voltamos a correr.

As ruínas se aproximavam.

O local era composto por grandes pilares. Tínhamos que atravessar uma estreita ponte de pedra para alcançar o centro do templo. A gigantesca onda de neve chegou ao lago e o cobriu por completo.

Breve nos alcançaria.

— ALI ESTÁ A ENTRADA DO TEMPLO! VAMOS! — Gritei aos demais sobreviventes. A avalanche alcançou os pilares, arremessando-os longe. Já estávamos passando a metade da ponte quando ela começara a despencar devido ao impacto da neve. Tudo fora para baixo.

O grande penhasco engoliu a vasta onda que arrastara metade do cenário junto com ela. Patrick, Mavis e eu conseguimos atravessar a tempo. Infelizmente, Petúnia ficara para trás, sendo levada junto com o amontoado de neve. Já não existia mais uma ponte ali.

Era impossível retornar.

Era impossível retornar

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II - Rebelião dos IrrecuperáveisOnde histórias criam vida. Descubra agora