Parte 1 : A Lenda

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Há determinados temas cujo  interesse é sumamente absorvente, mas que são horríveis para propósito de ficção legítima...


O que estou prestes a lhes descrever é algo de um horror tão surreal, arraigado a profunda tristeza de minha alma, onde jaz os maiores temores da minha vida. -E quando digo "Temores", também me refiro a dor da tristeza, destas saudades imortais de pessoas antes muito próximas...amigos, familiares e minha doce mulher amada, (que descanse em paz). Todos, levados e mortos no clarear da mais bela e amaldiçoada lua-cheia, que pairava, brilhante lá no céu daquelas noites tais. - Não me restou ninguém...

O que estou prestes a lhes contar é algo terrível, a história de como eu nasci para enfrentar esta maldição. Mas antes de manchar a folha do papel com estes fatos horrendos e pavorosos, saiba, que aquele que me assombrou está caído perante a mim... manchando o meu velho soalho de vermelho; e sua cabeça... –Ah sim! Sua face gélida e morta, vasa o sangue por onde antes ali um rígido pescoço se pusera. Essa, essa rígida face rabugenta sobre a mesa está próxima a folha a qual escrevo... e olhando para mim nesta rígida postura morta, ela me grita, os horrendos fatos ocorridos.

Antes de acabar com tudo isso, antes do cair de minhas pálpebras-mortais, estes olhos mortos que jamais irão se abrir de novo, tento me recordar enquanto devaneio por esta cena; recordar do ar frio e da neblina daquela meia-noite terrível onde tudo começou...

Eu era jovem, morava num sítio com a minha mãe, o meu pai e o meu irmão recém-nascido. Morávamos afastados de qualquer civilização. Lembro que era uma noite escura, fria e calma. A minha mãe estava pondo a mesa para o jantar enquanto o meu pai estava olhando a televisão com a imagem horrível que falhava a cada segundo. De repente, meu irmão mais novo começou o seu choro inacabável. Depois de um tempo, minha mãe — que naquela minha época não sabia como ela chegara a tal conclusão; disse que meu irmão estava ardendo em febre. Meu pai então não perdeu tempo; "Ponham suas vestes" -Disse. Levaria minha mãe e meu irmão à cidade, onde lá, consultariam um médico.
Meu pai apressado então disse para mim que eles iriam demorar, que precisava de mim em casa. Tínhamos um enorme relógio na parede da sala, meu pai põe a mão no meu ombro antes de sair de casa, aponta para o relógio e disse que quando os ponteiros dessem meia-noite, eu então saísse de casa e o encontrasse com uma marmita de baixo da árvore de laranjeira, a alguns metros da nossa casa subindo o campo, e que juntos voltaríamos à cidade para cuidar de minha mãe e meu irmão. Depois de concordar com meu pai, ele dispensou em cortesia; virou e bateu à porta.
Entendia completamente a ação do meu pai... estava com fome, pois ainda ninguém havia jantado e ele tinha trabalhado duro o dia inteiro; muito menos havia dinheiro para comer em algum lugar.
Fico em casa... sozinho... naquela tediosa e silenciosa quinta do interior. Com o passar de cada minuto, eu podia ouvir cada ruído lá de fora. Os campos ao redor da nossa casa eram imensos; quando o vento soprava, podia ouvir as folhas das árvores se mexerem. Algo naquela noite, dentro de mim, fez com que por um segundo eu imaginasse todo sofrimento que o meu destino reservara para mim, pois fico tenso, ereto e imóvel, sentado no sofá da sala com a marmita na mão. Penso isto, logo esqueço, pisco, aqui estou; nada do que pode-me assombrar é real -penso eu! Falta apenas alguns minutos para meia-noite. Estou pronto há horas desde que eles se foram, não ouso ligar a televisão, não queria fazer nenhum barulho naquela noite — nenhum! Não sabia o porquê, mas aquele ar pesado que tornava a minha respiração tremula, deixando-me ansioso a cada segundo que se passava comigo olhando para aquele relógio no alto da parede da sala, impedia-me de pensar direito. Era como se a cada volta do ponteiro que aquele contador dava a minha ansiedade ele aumentava, a cada som que aquele aparelho produzia lá no alto; leve e baixinho, um som silencioso da batida que vai e vem, ele me espremia e oprimia-me lá do alto. Um som, uma opressão tão sorrateira com uma leve sensação de hipnose, meus olhos não saiam daquele enorme relógio... De repente o silêncio é interrompido. Nosso cachorro começou a latir -Dou um pulo com o susto que ele me deu. —O que há em mim? O que há? Hem? Seria medo de ficar em casa sozinho? —Não, não pode! Sou um jovem do interior e fui criado por um dos mais perspicazes fazendeiros, já matei diversos tipos de animais e sempre fui muito encorajado por meu pai a ser valente como tal, sempre proteger a minha mãe e eu irmão, sempre! Medo algum podia se apossar de mim, jamais! —Deve ser isso! —Ri. Deve ser isso -Soltei o ar preso de meus pulmões. Um menino bem-criado pelo pai, criado para não ter medo, está lutando internamente, evitando qualquer tipo de fraqueza. —Bom menino!

O relógio marca meia-noite. Devia agora provar a mim mesmo que sou capaz. Provar ao meu pai que ele podia contar comigo, provar que podia cuidar da nossa casa. Mas o destino me lançara o primeiro desafio e me arrepio com esta ideia: Abrir a porta do nosso humilde lar. E então o cachorro volta a latir lá fora, lati, chora e para imediatamente como se algo tivesse o abatido com força, em seguida retorna o silêncio. — O que poderia ser? O que? O que poderia ter ocorrido com meu pobre cachorro? Que sensação é esta que está se apossando de mim de novo? —Eia, jamais terás medo! Eia, acorde, eia, erga-se! Um jovem pueril a flor da idade, bravo, forte, saudável e de ombros largos. Não terás medo das sombras que rondam seu umbral- jamais, eia, JAMAIS! A porta eu escancaro; o vento da calada noite fria toca a minha pele. Naquela noite levemente nebulosa, o grilo guizalha. Em minha posição na beirada da porta, olhando para noite umbrosa, escura como o breu; Via, que ela não me trazia, muitas estrelas lá no céu, mas, há uma bela e gigantesca lua-cheia que a noite me clareia, mostrando o caminho que devia seguir.
Também em minha posição, aonde eu não dera nenhum passo, eu sentia (não parecia! Sentia!) Que alguém estava me observando ao longe. Aquela sensação me tonteia, ela agredia meu estomago... poderia ser os meus extintos, gritando para que eu entrasse para dentro "imediatamente" e trancasse a porta agora escancarada. —Pare, menino tolo! Não desafia a noite umbrosa -Dizia os meus instintos! Não desfie a lua-cheia- Não! —Digo a mim mesmo! —Não! Então me viro e fecho a porta, mas estava no lado de fora... não desisti! Deixo a luz de fora, a luz de nossa varanda, ligada, após dar meus primeiros passos ela pisca como num último aviso do destino de tentar me parar, continuo e ela pisca sem parar, apaga e liga de novo- Viro-me! Olho a lâmpada que agora firme se mantém brilhando e iluminando. Mas atrás de mim, a alguns metros entre as árvores algum vulto se mexe e faz barulho. Viro novamente em direção ao campo e as árvores... há somente o grilo guizalhando, somente ele. Não perco meu tempo e deixo meu medo despachado na varanda. Deixando a lua-cheia iluminar o meu caminho e somente ela, sem qualquer presença de luz elétrica, caminho em direção à arvore de laranjeira no topo do campo.
O que estou prestes a lhes descrever é algo que me corrói a alma e agride os meus mais sensíveis sentimentos até hoje. Desculpe-me, mas o medo que senti naquela noite fria e nebulosa foi tão perturbador; amaldiçoando minha mente para sempre... e eu nunca... nunca mais fui o mesmo...
Depois de caminhar, tenso e medroso por aquele campo, na nebulosa e fria noite de lua-cheia, me vi a alguns metros da árvore de laranjeira... Insanidade... Surrealismo... o sobrenatural que todos adoramos apenas em livros de ficção. A licantropia que agora me amaldiçoa sem eu saber...
A baixo da árvore de laranjal, eu via, a alguns metros, algo que parecia sentado ou agachado. —Pai! —Digo aliviado e soltando o ar que o combate pelo medo prendia em meu peito. Mas, ao me aproximar, ao prosseguir meus passos, tudo se desparzia...
— Mentira! —Digo. —Mentira! —Estremeço. Isto não é meu pai ou coisa similar a um ser humano! ... a sombra enorme ali naquela arvore agachada, se levanta lentamente. Foi neste instante, que o inferno em minha vida começou.
Não escreverei mais sobre meu medo! Mas agora mostrai ele a ti, leitor, que agora lê os fatos e acontecimento que levaram a trágica morte da minha alma...
Digo como ele era: aquele ser umbroso... —Oh Deus! —Oh Deus! Por favor ajuda esta alma perdida e sofrida... aquele ser umbroso que se ergue frente a mim, aquele ser umbroso que possuía mais de dois metros de altura, aqueles músculos, que no mais absoluto escuro se mantinham nítidos aos meus trêmulos olhares. Ele se mantém de lado, onde posso ver o seu perfil: Tem a cabeça no formato de um lobo feroz e gigantesco, orelhas horrendamente grandes, tem as pernas firmes de um animal saltador e não ouso descrever o brilho daqueles olhos.
Vi que o ar então se enxia de um cheiro de enxofre, um zumbido horripilante que vem ao longe, como um sopro, como quando o vento assovia, se juntou com as fortes batidas de meu coração vindo a minha alma um grito de puro desespero; e minha reação? Fiquei completamente imóvel... o medo tomara completamente conta de cada parte do meu ser, até que... Ele vira para mim! Tenho mais medo que ele encoste em mim do que o medo de perder a vida, pois, perder a vida e desaparecer era tudo o que eu queria. Não penso. Abro a marmita cheia de carne e a jogo no chão, não espero mais nem um segundo e de um jeito um tanto estabanado me viro, corro em direção a minha casa, posso vê-la ao longe com a luz da varanda ainda piscando.

Quando eu olhei para trás ele havia sumido, mas não hesitei, corri, corri muito, dei o máximo de mim, esforcei para correr ao máximo e mesmo assim, não parecia ser o suficiente. Quando eu olhei para trás novamente o que pensei que não podia piorar se agrava na maior cena de horror que eu poderia me encaixar: Ele está correndo atrás de mim! Dispensou cada carne jogada no chão — Queria a mim! Desço este campo mais rápido do que nunca, entro em casa e tranco a porta
-Por Deus, eu vi um Lobisomem...
Tranco a porta e não ligo a luz, vou rapidamente para meu quarto e fico em baixo da cama tremendo tanto, tremendo descontroladamente, tão tremulo e medroso, que meu corpo não aguenta... eu desmaio.

A Maldição Do LobisomemOnde histórias criam vida. Descubra agora