Impacto

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-Bom dia - escuto uma voz feminina me chamando minha atenção.
-Ah.. Bom dia. Você dormiu aqui? - pergunto esfregando os olhos e ela parece se assustar.
-Sim.. - Jeniffer responde envergonhada.
-Acho que seria bom você ir até o escritório. - digo e ela se levanta rapidamente e vai até o banheiro. 

Pego meu celular e percebo que tenho 11 chamadas perdidas da minha mãe, o que será que aconteceu? Ela nunca me liga. Resolvo então retornar.

-Bom dia, mãe - digo com a voz sonolenta.
-Beatriz, aonde você estava? Eu te liguei várias vezes. - ela diz com a voz trêmula.
-Me desculpe, mãe. Eu estava ocupada.
-Seu pai foi levado para o hospital, ele teve um derrame no cérebro - ela diz e eu a escuto soltar o choro.
-Ah... - tento procurar alguma palavra que possa parecer confortante, mas nada vem em minha mente. - Eu estou indo. - digo e desligo o celular.
-Aconteceu alguma coisa, Beatriz? - Jeniffer me pergunta parada em minha frente de peças íntimas.
-Meu pai teve um acidente vascular cerebral. - digo e levo minhas mãos até a cabeça e entrelaço os fios sobre os dedos.
-Ah.. Você quer que eu te acompanhe até o hospital? - ela pergunta agachada em minha frente.
-Não, você precisa resolver as coisas no escritório. - digo e ela me encara.
-Você tem certeza que não quer que eu te acompanhe? Acho que não seria uma boa ideia você dirigir nesse estado.
-Só faça o que eu estou mandando. Ainda sou a sua chefe. Vá até o escritório e resolva as coisas por lá. - digo rispidamente.
-É... Me desculpe, eu não sei porque me ofereci, você tem toda razão. - ela diz e engole seco. Ela passa por mim e volta ao banheiro, a escuto sussurrar alguma coisa depois ela sai e pega sua bolsa ao meu lado. - Eu espero que fique tudo bem, até mais. - ela diz e se afasta de mim, e em seguida passa pela porta e bate a mesma.
Me levanto da cama e me encaro no espelho.

-Você precisa ir até o hospital. - repito pra mim mesma.

 Vejo Bob parado olhando fixamente para meus pés como se ele estivesse concentrado em algo, e em seguida e vem em minha direção e deita em cima dos meus pés.
 -Eu preciso ir agora, mas vai ficar tudo bem, Bob.
Me afasto dele e saio pela porta.
-Beatriz? - escuto uma voz familiar.
-Betânia - digo e me aproximo dela. -Meu pai teve um AVC. - digo e ela me encara.
-Sua mãe me ligou Be. - ela diz e se aproxima de mim e me abraça. - Eu vim para te levar até o hospital.
Entro no carro de Betânia e começo a pensar em todas as histórias que já ouvi sobre derrame no cérebro.
Me lembro vagamente de quando um tio distante teve um AVC, todos da família ficaram completamente apavorados, a situação dele na época chegou a ficar muito critica, mas ele acabou se recuperando só que ficou com algumas sequelas permanentes.
Já sentiu como se o mundo estivesse rodando de forma mais lenta?
Quando estou em alguma situação extrema de ansiedade eu começo sentir as coisas de forma diferente, as coisas e as pessoas me parecessem mais lentas, como naqueles momentos de tédio que as horas passam devagar, só que nesse caso, tudo passa devagar.
-Beatriz? - Betânia me pergunta e em seguida leva uma das mão sobre minha perna.
-Me desculpe, eu acho que não prestei atenção no que você me falou. - digo olhando fixamente para o porta-luvas em minha frente.
-Tudo bem... - ela pega em meu queixo e ergue minha cabeça - Ele vai ficar bem. - eu solto sorriso de canto de boca e volto a olhar fixamente para o porta-luvas.
"A esperança é a última que morre". Durante toda vida eu escuto pessoas falando sobre ter esperança, sobre acreditar em algo, dizem que isso sempre consegue confortar as pessoas. Na maioria dos casos as pessoas sempre dizem que tudo irá ficar bem, e que as coisas vão voltar a ficar como antes. Sempre ouvir dizer que ela era a última a morrer, mas ela também é primeira a nascer quando tudo parece está perdido. A esperança nunca foi uma coisa que cativei, sempre preferi acreditar em mim, sobre o que eu era capaz de fazer. Mas agora, sentada nessa banco a única coisa que eu consigo pensar é que eu preciso acreditar que as coisas iram ficar bem.
Chego em frente ao hospital e um calafrio percorre pelo meu corpo. Meu pés parecem estar fincados na frente daquele grande hospital.
-Beatriz, precisamos entrar. - Betânia me diz segurando a porta giratória.
-Ah. - eu respiro fundo e adentro pela porta principal.
Vejo minha mãe sentada na recepção com as mãos sobre a cabeça.
-Minha filha, ele não está nada bem. - ela diz vindo em minha direção e me abraçando, ela acaba desabando nos meus ombros. 
-Vocês são da família Nattzel? - escuto uma voz masculina indagar.
-Sim, somos. -  minha mãe diz e se vira.
-Eu sou o Dr. Ramirez e sou o neurocirurgião responsável pelo  procedimento  do senhor Nattzel. Vocês tem alguma pergunta? - ele termina a frase com o olhar de entusiamo. As linhas de expressão do rosto do Dr. Ramirez eram tão marcantes que em cada palavra que saia da sua boca alguma denunciava o que ele realmente queria dizer. 
-Me diga, existe chances dele sair vivo dessa? - minha mãe pergunta bruscamente. 

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