DIA 02 #ABagunça
02 DE DEZEMBRO, 09:34 da manhã.
Abro meus olhos, estou deitado de barriga para baixo, olhando fixamente para o despertador que insiste em tocar. A coragem está escondida no subconsciente, bem distante do meu coração.
Levanto, desligo o alarme, calço meus chinelos, olho-me no espelho. Não gosto de espelhos, evito meu reflexo, mas hoje permito-me ver o estado do meu rosto. A bagunça da minha vida.02 DE DEZEMBRO, 10:05 da manhã.
Depois de me aprontar e caminhar pela pequena cozinha do meu apartamento, tento tomar meu gole matinal de Chá, sim chá, não gosto de café como a maioria, prefiro chá, de preferencia chá verde.
Perto da geladeira, logo ali no espaço vazio da parede tem uma foto minha com minha irmã, eramos crianças, estávamos sorrindo, nem recordo o motivo, mas lembro do momento. A quanto tempo não a vejo, não dou um sorriso, está tudo bagunçado. A bagunça da minha vida.02 DE DEZEMBRO, 16:10 da tarde.
Pego meu celular, vejo inúmeras notificações, notificações essas que nem tenho curiosidade em ver. Estou vazio. Todos os dias tento não pensar, mas hoje é o aniversário dela, da minha irmã.
Desde a morte da nossa mãe eu não a vejo, desde quando discutimos não tenho coragem de falar com ela, mas ela desistiu de me procurar. Dois orgulhosos arrumando desculpas, deixando a vida passar, sem se preocupar com um simples "oi" ou um "bom dia" está errado. A bagunça da minha vida.02 DE DEZEMBRO, 19:00 da noite.
Digito o número dela no celular, apago. Várias repetições desse mesmo ato. Até que em um momento impensável clico no chamar, meu coração acelera, minhas mãos gelam, meus lábios secam, mas já é tarde demais.
- Alô! - Escuto a voz mansa da minha irmã - Tem alguém na linha? - Tenho que falar, fui eu quem ligou, dou um suspiro.
- Estou aqui, sou eu o Marcelo, não sabia se podia ligar, mas agir sem pensar muitas vezes é a melhor forma de encontrar soluções - Não sei como lidar com as palavras.
- Você está uma bagunça, Marcelo, sumiu, trocou de número, me bloqueou das redes sociais...
- Tá tudo uma bagunça, eu sei, mas posso arrumar tudo - Lágrimas caem dos meus olhos, o que é isso afinal? Sinto falta da minha irmã? Falta de ter família?
Depois de um doloroso silêncio escuto ela dizer - Não tem o que arrumar, eu gosto de bagunça, lembra? Obrigado por quebrar o silêncio.
Desse dia em diante percebi que sentimentos não são sinônimo de fraqueza, o orgulho nem sempre é a opção mais segura. Tudo passa, tudo se resolve, tudo tende a se encaixar. Basta amar intensamente, unir laços, fazer da nossa bagunça a nossa própria motivação.-Leandro Alves-
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PH Poem A Day - 2016
ПоэзияTextos, palavras, sentimentos, dores, amores e muito disso neste lindo projeto de escrita criativa que está fazendo dos meus dias tediosos um turbilhão de ideias e mundos paralelos.