Capítulo 5 - Vivo, Morto.

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Era incrível que mesmo sendo de anos atrás, o radioamador ainda funcionava, poderíamos testar, para ver se conseguiríamos falar com alguém, mesmo que tinha maior chance de cair numa ligação com um caminhoneiro.

- Vamos testar? – pergunto. – Se ele ligou, quem sabe poderemos falar com alguém.

- Não, melhor não. – responde James. – Ele está todo cheio de poeira, você vai ficar espirrando.

- Não seja chato. – digo. – Limpamos todo o sótão, limpar uma coisa desse tamanho não é trabalho de nem uma hora.

- Você não mora aqui não faz nem dois meses e já quer mandar? – diz James, sorrindo.

- Se vou morar contigo, tem que aprender a dividir, não é? – digo. – E como estava lá embaixo esquecido, esse radioamador será meu, ponto final.

- Certo. – diz James. – Mas toma cuidado quando for limpar.

- Por quê? – pergunto.

- Hum...você pode se cortar. – ele responde.

- Tá né. – digo.

Passo uns vinte minutos limpando e decido liga-lo novamente para ver se funcionaria, e para minha felicidade, ele continuava funcionando.

- James! O radioamador continua funcionando. – grito, chamando o James. – Vem ver!

- Não precisa gritar, eu estou a dois metros de você. – diz James.

Fico aleatoriamente alternando entre as estações, a maioria era estática e outras era alguma música antiga, afinal, não era porque ligou, que iriamos conversar com alguém.

- Alô? – diz uma voz, vindo do radioamador. Alô? Tem alguém aí?

- Sim, tem alguém aqui, estamos te ouvindo, cambio. – digo. – Está funcionando, está funcionando.

- Legal. – diz James.

- Quem está falando? – pergunta a voz dentro do radioamador. – Meu...amigo sumiu e ainda não voltou.

- Nós não somos da policia, tchau. – diz James, quase mudando a estação.

- Não faz isso. – digo, dando um tapa na mão dele. – Talvez possamos te ajudar, onde você o viu pela última vez?

- Na sorveteria, nós sempre nos encontramos aqui. – diz o cara, no radioamador. – Na verdade, ele era...ele é meu namorado, por favor, me ajuda.

- Ah, certo. – digo. – Qual o nome dele?

- Luke! Luke Carpediem. – diz o cara, no radioamador.

- Isso é algum tipo de brincadeira sua? – pergunto à James.

- Querido, eu estou sabendo seu sobrenome agora. – responde James.

- Alô? Tem alguém aí? – pergunta a voz.

- Sim, sim. – digo. – É...quem está falando?

- Meu nome é Jake, Senhor. – responde.

- Archibald? – pergunto. – Seu nome é Jake Archibald?

- Sim... – responde. - Como sabe meu sobrenome, Senhor?

- Jake, sou eu, o Luke. – digo, com a voz tremula. – Eu sou o seu namorado.

- Não brinca comigo, Senhor, eu sou cardíaco. – diz o tal do Jake. – Luke, eu achei que você estivesse morto.

- Eu que achei, quer dizer, eu te vi morrendo, eu fui ao seu velório, eu vi seu caixão descendo, eu vi jogarem terra nele. – digo, chorando. – Tudo por culpa daquela viagem maldita viagem à praia.

- Luke, nós nunca fomos à praia. - diz Jake. – Nós se quer temos carro, eles são muito caros.

- Como não? – pergunto. – Até tiramos uma foto antes de irmos.

- Você está sumido há três dias, estava, e agora '' volta '' com essa conversa estranha.- diz Jake.

- Você morreu e eu estou falando com você, isso é estranho também. – digo. – E também tiramos uma foto, eu até postei no Instagram, e ainda não a apaguei.

O quê é Instagram? – pergunta Jake.

- Não estou brincando, Jake. – digo.

- Nem eu! – diz Jake.

- Onde nos conhecemos, Jake? – pergunto.

- Na sorveteria! – diz Jake. – Que foi também o local do nosso primeiro encontro.

- Jake, não existia sorveteria quando nos conhecemos. – digo.

- Existia sim, eu lembro a data exata de quando nos conhecemos – diz ele.

- E qual foi? – pergunto.

- Vinte e três de Julho...

- É ele mesmo. – penso.

- De Mil novecentos e sessenta e quatro. – diz Jake, terminando de falar.

- Jake, não somos tão velhos assim. – digo.

- Só temos vinte anos de idade. – diz ele.

- Jake, eu te conheci na escola, no dia que pensei em faltar. – digo. – Em Vinte e três de Julho de Dois mil e quatorze.

- Dois mil e quatorze? ­– pergunta Jake. – O mundo vai acabar nos anos dois mil, não podemos ter nos conhecido em 2014.

- Jake, estamos em 2016. – digo.

- Não, estamos em 1968. – diz ele. – E eu não te conheci na escola, eu te conheci no dia em que te salvei de ser atropelado.


Good Luke [ FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora