Valentine apenas uma rainha

Angeline Clark

-Ei, você tem certeza disso? - pergunto insegura

-Claro que tenho, confie em mim, eu sei todos os horários dele, a gente só tem que esperar- ela diz confiante

-E se a gente for pega? - pego um pedaço de frango frito no balde enquanto continuo a observar o rei Victorine em seu escritório com o binóculo

-Olha, você quer saber o que é esse colar exatamente não é? O rei tem um diário em seu escritório e no final de cada dia ele registra tudo o que aconteceu de importante, é só a gente achar esse diário e bom! Conseguimos nossas respostas

-É, ate que é um bom plano mas... já se passaram muitos anos desde que o baile aconteceu, o que garante que ele ainda use o mesmo diário? - pergunto me endireitando em cima da arvore onde minha mãe e eu nos escondíamos 

-Aaaaaaaaaaaaah...

-Você não havia pensado nisso não é? - pergunto mesmo sabendo a resposta 

-Olha, não me critique, eu já estou te ajudando me desculpe se eu não parei pra pensar que ele não estaria usando o mesmo diário mesmo depois de quase vinte e três anos- ela dá de ombros 

Continuamos a espionar o rei até que uma duvida me vem.

-Ei, você disse vinte e três anos, qual era sua idade naquela época? 

-Ah... eu tinha- ela pensa um pouco- uns vinte e pouco anos... é, isso mesmo, eu tinha vinte anos- ela conclui 

-Se você tinha vinte anos, e atualmente estamos em 2016 quer dizer que... o baile aconteceu em 1992! - faço as contas- só precisamos achar uma data parecida, descobrir se realmente houve um baile nessa época

-Assim você me faz parecer velha- ela faz bico

-Mas você já é- me volto para o binoculo e vejo o Sr. Victorine saindo de seu escritório- vamos, ele já saiu 

Ainda em cima dá arvore, nos equilibramos em um galho grande que dava para uma janela ligada ao corredor onde ficava o escritório, abro a janela e ambas pulamos para dentro. 

-Nós duas parecemos as três espias demais- minha mãe afirma imitando golpes de carate 

-É, só falta a outra integrante- digo revirando os olhos e me direcionando a porta 

-Então, então... parecemos os mosqueteiros! - ela começa a imaginar uma espada 

-Também são compostos de três- tento abrir a porta 

-Que tal as meninas super poderosas? - ela sugere

-Dá pra você parar de ficar comparando a gente com personagens fictícios e me ajudar a abrir essa bodega? - falo chamando sua atenção 

-Tá bom senhorita TPM- ela zoa - eu tenho um truque pra abrir essa porta- ela puxa as mangas da camiseta e dá cabeça tira um grampo de cabelo

-Igual aos filmes- sorrio ansiosa 

-Vire de costas- ela manda 

-Ok- obedeço e ao mesmo tempo cinto algo prender meus fios de trás do meu cabelo 

-Pronto assim está bem melhor- ela diz examinando meu cabelo 

-O- oque você fez? - encosto a mão em meu cabelo notando que o grampo que ela pegou antes prendia alguns fios do meu cabelo- Por que você... 

-Tava um nó aí a trás, só arrumei um pouquinho- ela dá uma piscadela 

-Ma... mas... o grampo, não... e o truque? - fico sem entender 

-Ah! O truque- ela pega um extintor próximo a nós e martela a maçaneta da porta com ele quebrando a tranca e abrindo a porta 

-Você é demente!!! O rei vai ver isso sua burra! - entro em desespero quando olho para a maçaneta estirada no chão 

-É claro que ele vai ver, ele tem olhos, mas não se preocupe, ele vai saber que foi eu- ela fica calma 

-É CLARO QUE ELE VAI POR QUE ISSO É A SUA CARA!!! - elevo a voz irritada 

-Calma, calma, esqueceu que todo mundo aqui é rico? Uma maçaneta pra eles que nem uma bala, agora vamos, eu estou doida pra mexer nas coisas do rei- ela dá uma risadinha sinistra e adentra o escritório

Sigo e ela e fecho a porta atrás da gente.

-Como tá escuro- minha mãe sussurra

Com a tela do meu celular, ilumino a grande mesa do escritório e noto um pequeno abajur sobre ele, ligo ele e alguns papéis sobre a mesa do rei ficam expostos.

-Hum... o que temos aqui- minha mãe esfrega as mãos e começa a cheretar nas gavetas do móvel

-Não rasgue ou quebre nada, ninguém pode saber que estivemos aqui

-Pode deixar

Começo a procurar o tal diário pelas grandes prateleiras do cômodo e entre alguns livros velhos acho um envelope grande e um tanto cheio.

Coloco ele em cima da mesinha de centro do outro lado do cômodo e sento me no sofá de couro vermelho vinho.
Com muito cuidado abro o envelope e de dentro tiro algumas fichas pessoais e em uma delas uma ficha com minha identidade e foto, igual as fichas que fazem nas escolas, na verdade era uma cópia dela com notas, lembretes e destaques, começo a ler:

Valentine Cristandey

Atraente, talentosa e  esperta, esses são seus pontos fortes quando chegou ao palácio, porém constantemente tem se mostrado uma má influência a Marlon, além de ser uma pessoa extremamente desequilibrada e irresponsável, não foi surpresa quando renunciou ao trono, não há culpo pelo passado cruel que sua família viveu graças ao Lorde Waterberg, entretanto esperava mais dela.

Por que o rei tem uma ficha minha aqui? É como se ele estivesse me vigiando esse tempo todo.

Junto com a ficha algumas fotos estavam unidas as folhas por um clipe de papel, tirando o começo a examinar as fotos e me assusto quando percebo que são todas minhas.

Uma quando eu tinha cinco anos tirada em um playground na praia de São Diego, outra aos quinze tomando sorvete com Camily, outra com dezessete na saída da escola, a que mais me intrigou foi uma foto onde se encontrava minha mãe e meu pai, e no bolso de seu terno, um skate de dedo, o mesmo skate da foto que eu possuía.

-Mãe- desvio a atenção dela do computador- vem ver isso

Ela vem em minha direção e começa a observar a foto.
-O que é esse skate? - indico o brinquedo na foto

-Ah, foi um presente de aniversário, eu dei ao seu pai no vigésimo segundo aniversário dele- ela fala segurando a foto- que nostalgia

-Quando ele faz aniversário? - pergunto examinando as outras fichas

-Aaaaaah... dezoito de outubro de 1970, por aí- ela fala recordando

-Hum, se eu não estiver errada, esse baile que ocorreu em 92 pode ter sido o mesmo baile onde você ganhou o colar, e quando o papai fez aniversário- começo a espalhar as fichas pela mesa

-É bem possível, mas não temos um registro do baile nem nada- ela afirma pessimista

-É... mas temos isso-digo segurando vitoriosamente a ficha que coincidia

Angeline Clark