Lembre-se disso

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Em cima da grande a sacada, tento imaginar a cena onde Victorine se declarava para minha mãe.
Agora tudo fica claro, é por isso que ele não quer que eu me envolva com Marlon... ele não quer que a mesma coisa aconteça. Eu não o culpo, eu e minha mãe somos muito parecidas, ambas abandonam os outros quando eles mais precisam de nós, tanto minha mãe quando deixou meu pai e eu, que na primeira chance de voltar para São Diego, não pensou duas vezes.

Ali em cima, o sol se despedia e minha mãe sentada nas beiras da sacada ficava perdida em pensamentos, me aproximo dela e toco em seu ombro, ela olha para mim como se compreendendo.

-Acho que você vai ter que contar essa história de novo- lanço um olhar sério em sua direção

Ela abaixa a cabeça e eu me acomodo na sacada junto com ela.

-Eu nunca quis ir embora- ela começa- mas todos me tratavam tão mal e você estava prestes a vir e eu... eu não- seus olhos ficam embasados de lágrimas- eu não queria isso pra você

Fico olhando a compreendendo.

-Eu fiquei alguns meses na cadeia, morrendo de medo de acabar ganhando você naquele lugar, e não teria ninguém para cuidar de você... foi aí que Cristinna me salvou, ela pagou a minha fiança e comprou um apartamento pra mim em São Diego

Arregalo os olhos surpresa com essa parte da história que nunca antes havia descoberto.

-Ela me deu a notícia... dizendo que seu pai havia desmaiado em cima da mesa de seu escritório e que sua saúde estava piorando cada dia, ela me levou para o hospital em Lomdres onde ele estava internado e... ele estava tão alegre quando eu cheguei, ele viu minha barriga e quis sentir você

-Ele chegou a me ver? - aperto seu ombro quando uma lágrima escorre pelo meu rosto

-Sim- ela sorri- ele pegou você, era tão frágil, tão pequena, tão viva- ela toca em meu rosto carinhosamente- quando ele melhorou, eu ainda estava em observação no hospital... ele teve que voltar para Manchester, para resolver algumas coisas, mas quando me venho a notícia de que ele havia sido encontrado morto na mesa de seu escritório- ela começa a chorar novamente

Eu a abraço forte e choro também.

-Meu mundo caiu filha, eu fiquei sozinha e você também, eu fui uma mãe tão horrível pra você, eu sabia que não queria nada disso, mas... mas eu não tive escolha quando Cristianna correu até mim implorando para que eu a levasse de volta ao palácio, foi aí que formamos aquele trato... queria te dar a chance de ser livre como o seu pai não foi- ela sorri novamente- queria que crescesse forte, sabendo que o mundo não é apenas vestidos e bailes com príncipes superficiais, queria que soubesse o que é se apaixonar de verdade e o que é ser feliz, queria que fosse você- ela toca meus cabelos e me beija minha testa com todo o amor maternal que já senti vir dela

Ficamos alguns minutos olhando o sol se por até eu lembrar das fotografias.

-Mãe- chamo a

-Sim? - ela pergunta de olhos fechados sentindo os últimos raios de sol do dia

-Você chegou a me trazer no castelo quando eu ainda era menor? - pergunto olhando para as fotografias em meu bolso

-Aaaaaah... sim, foi em 1999 se não me engano, eu trouxe você para apresenta-lá a Cristianna e ao rei Victorine

-Victorine?!- arregalo os olhos surpresa com o nome citado

-É, como Alexander tinha partido sem descendentes, Cristianna teve que tomar conta do país como uma espécie de secretaria real, você era a verdadeira rainha daquele país, mas o clero e a igreja não abençoava um reinando onde a mulher não tivesse um parceiro, então aqui mesmo no Castle Purple, eu tive que assinar seus documentos para noivado- ela fala como se sentisse culpada

-Então eu estava destinada a me casar com Marlon desde pequena? - pergunto sem acreditar

-Sim, mas agora está tudo cancelado graças ao rei, aquele babaca, ele era contra de casar você com Marlon desde o princípio, mas por um lado é bom, eu sei que não é isso que você quer

-É...
...

Em meu quarto, eu ficava observando as fotografias sem acreditar, Marlon e eu nos conhecemos desde criança, como isso é possivel? E por que ele nunca disse nada?

-Ahaaaaaa!!! - grito me debatendo sobre a cama- Por que minha vida tem que ser tão complicada?

Alguém bate a porta de repente e eu já imagino quem pode ser.

-Camy, sua vaca, eu já disse que a noite os cachorros ficam espalhados pelo castelo, você tem que tomar- paro de falar quando me deparo com Sofia na frente da porta

Ela parecia uma boneca de porcelana no vestido que usava, suas bochechas coradas e seu senhor preocupado demonstravam um certo nervosismo vindo dela.

-Fi- fi- fique longe dele! - ela fala com a cabeça baixa
-O- o que? - sorrio sem entender

-Fi- fique longe de Marlon, eu-eu- eu é quem vou casar com ele! - ela me encara furiosa

-So-Sofia... está tudo bem?! - não entendo o porque de tanta fúria

-Eu vi... eu vi vocês dois, você o ama não é? - ela pergunta segurando a barra do vestido com força

-Você já fez essa pergunta- desvio o olhar para o corredor escuro

-Responda! Você o ama, e não é como uma irmã! - ela parece prestes a explodir- você o ama de verdade, não é mesmo? - ela começa a tremer de raiva

Não respondo nada e fico de cabeça baixa.

-Por que você voltou?! - ela grita e sai correndo para longe de mim

-Sofi- fico olhando a desaparecer no corredor escuro e frio

-Você está sempre decepcionado os outros Valentine- reconheço a voz que vem do corredor contrário

O rei surge das sombras e fica olhando na direção onde Sofia fugiu.

-É uma pena que ela tenha que afugentar tudo isso antes de seu próprio casamento- ele fala sarcástico

-O que você quer? - cerro os punhos sem encara-lo

-Quero apenas aconcelha-lá, não prometa coisas que você não pode realizar, meu filho veio hoje até mim com a ideia de anular o noivado dele com Sofia, eu não sei se você está tramando alguma coisa, mas se estiver, estará em São Diego antes que eu possa dizer: Adeus

-Vai me expulsar daqui assim como Gabrielle expulsou minha mãe? - pergunto ironicamente

-Então você descobriu- ele fala sem surpresa- um dos meus maiores erros foi me envolver com a sua mãe e-

- Uns dos seus maiores erros Senhor Victorine, é não ter sido um bom amigo para o meu pai, lembre-se  disso- fecho a porta a minha frente e levando as mãos a cabeça, deixo meu corpo deslizar pela porta até o chão

-O que eu vou fazer?

Valentine apenas uma rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora