Capítulo 1 Juliana

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Meu dia de serviço no call center, começava sempre da mesma forma: chegava, fazia login no computador e começava receber as ligações. Digitava no sistema as solicitações dos clientes para deixar registrado, aguentava suas reclamações, porque raramente, alguém entra em contato com uma central de call center para bater-papo ou elogiar pelo serviço prestado. Em certas ligações, tinha vontade de enfiar a mão pelo fone e dar uns tapas no cliente, algumas vezes pelo desaforo do que estava dizendo, outras pela sua bestice mesmo. Sério, quem em sã consciência, em pleno século vinte, acharia que o roteador de internet era o responsável por trocar de canal? Sendo que todo dia, essa mesma pessoa, usava o controle para trocar os canais? Das únicas pessoas que eu aceitava esse tipo de engano, eram os idosos. Apenas eles aceitava. Então puxava a minha paciência do dedão do pé. Usava o meu unicórnio de borracha, que era feito para aliviar o estresse, para ficar apertando enquanto controlava a minha ansiedade e raiva, para não sair gritando com eles por cada pergunta sem sentido ou as perguntas repetidas diversas vezes na mesma ligação.

Naquele momento estava nesta exata situação, quase mordendo o meu bicho anti estresse, por causa de um cliente que estava teimando na ligação. Olho para o lado e vejo minha amiga Eliria com as mãos esticadas para frente pedindo para eu ficar calma e respirar fundo. Mostro para ela a forma que estava esmagando o meu unicórnio na mão e escuto a risada de um colega atrás de mim. Olho para ele e vejo-o fazendo uma cara fofa. Aquilo foi a gota d'água e acabei chutando o pé da cadeira dele, fazendo-o escorregar um pouco para longe de sua cabine, já que as cadeiras tinham rodinhas e a criatura riu quando foi empurrado, porque conhecia meu jeito e que a minha vontade era bater nele. Eu não podia nem rir com ele, pois a minha intenção era chutá-lo, mas consegui apenas o empurrar para longe, pois estava em ligação. Me virei para minha cabine e continuei a ligação.

— Sim, senhora, exatamente, este é o... Não, senhora, o que pisca é o da internet... Não, senhora, não temos nenhum plano de televisão que não inclua internet — respondi com a voz calma e minhas mãos estava esticando o meu bicho de borracha, que estava a ponto de estourar.

Tanto Eliria, quanto o colega que eu havia chutado a cadeira, já tinham saído de suas ligações e estavam indo fazer um lanche. Ficávamos em cabines uma do lado da outra, que nada mais eram do que mesas pequenas, aonde cabia apenas o computador, teclado, mouse e o telefone ao lado. Todas as baias ficavam uma ao lado da outra, com uma pequena parede que era do tamanho da altura do PC, formando filas horizontais ficando de costas para a fila de trás e uma fileira na frente e atrás seguindo o mesmo modo. Em que a central inteira seguia o mesmo padrão. Contudo, se esticasse um pouco o pescoço dava para enxergar a porta de vidro da entrada da central que estava. Lá estavam os dois saindo. Aquilo me incomodou mais ainda, porque era o único momento que podia conversar melhor com eles.

— Não senhora, não temos essa... Sim, senhora... não quer que eu a encaminhe para o setor de cancelamento da internet e assim a senhora ficaria apenas com a televisão?— cocei a cabeça, tentando me controlar, enquanto escutava ao longe a conversa dos dois rindo de algo que eu queria saber muito o que era.

Minha vontade era mandar a cliente para outro setor sem ela pedir, deslogar e ir para o lanche conversar com os meus amigos, mas precisava ficar na linha, afinal, a cliente precisava ser bem atendida, eu não conseguia deixar ninguém sem ajuda.

— Como?... Eu posso lhe informar os pacotes existentes, senhora, mas apenas o setor de cancelamento poderá ajudá-la, já que a senhora, vai cancelar um produto e ficar com outro... Não, não tenho como fazer isso por aqui, posso apenas alterar os pacotes que a senhora já possui... Sim, senhora. No outro setor vai conseguir fazer o que precisa... Claro que não, nosso serviço é o melhor, com os preços mais acessíveis... eu pesquisei para poder garantir aos clientes como a senhora, que o produto é o melhor do mercado... Obrigada senhora... certo, então vou transferi-la para o setor responsável que fará o processo correto... Não, não teria como senhora, se eu pudesse eu iria com a senhora para o setor para ajudá-la, mas realmente não posso. Certo, então, vou encaminhá-la — digitei as informações necessárias para poder transferi-la corretamente para o setor que faria as modificações que ela queria, encaminhei-a apertando um botão meu telefone.

Respirei fundo quando a ligação ficou muda. Aquela cliente havia feito perguntas demais e acabou me deixando tonta, ainda bem que consegui fazê-la ir para o setor que resolveria o problema dela. Desleguei, coloquei a minha cadeira no lugar e fui em direção ao refeitório. Acionei no relógio de pulso o despertador, para tocar três minutos antes de voltar, para não perder a hora. Quando passei pelo meu supervisor, com os olhos semicerrados, me barrou colocando um braço na minha frente. Engoli em seco, devo ter feito algo errado em algum atendimento.

— Tem um minuto, preciso perguntar algo para você — num tom sério e ergueu um dedo indicador da mão esquerda para sinalizar o minuto que queria comigo.

— Sim — meu coração disparou, aquele seu olhar fechado não era boa coisa, nunca havia me olhado daquela maneira. Cruzei os braços na frente do peito e respirei fundo para o que viria. Minha paciência estava por um triz, pois acabei a esgotando na conversa com a cliente para fazer o correto.

— Por que o atendente ligou para o telemarketing?

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Quando trombei em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora