Capítulo 4 Juliana

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As paredes daquele lugar pareciam menores, o corredor mais estreito quando a adrenalina baixou. A ficha havia caído junto com todos os sentimentos que estava segurando. O choro encheu meus pulmões, mas não iria chorar, mesmo que minha vida estivesse complicada, não choraria, precisava encontrar uma forma para contornar aquilo de alguma maneira , apenas fiquei olhando o homem se distanciar e sumir de vista, nenhum músculo de meu corpo queria responder, parecia uma estátua. Um barulho de teclas sendo apertadas me acorda daquela realidade que não queria acreditar. Olhei em direção de onde veio o barulho e encontrei o olhar da moça o mesmo de desprezo, não sabia o que havia feito de errado para ela. Queria a questionar, contudo as palavras do secas do senhor T'namisan me destruíram de tal maneira que não encontrei minha voz para brigar com ela e a mandar longe por estar olhando daquela maneira.

Respirei fundo afastando aquele sentimento para longe, precisava ser forte dali para frente. Não sabia exatamente quanto tempo fiquei ali esperando a moça terminar de digitar e entregar os meus papéis de demissão. Agora estava caminhando como um robô em direção à minha mesa para pegar meus pertences.

Eliria me olhou e soltou um meio sorriso e voltou a atender, fiquei com uma vontade de arrancar a minha amiga da cadeira e poder conversar com ela. Contudo, não poderia ser tão egoísta ao ponto de fazê-la perder o serviço, porque sabia que Eliria não ia tão bem nos atendimentos como eu. Entretanto minha vontade era arrancá-la daquela mesa e a carregar junto para onde fosse. Meu corpo lutava contra as minhas ações impulsivas e o raciocínio. Cada minuto ali dentro estava ficando cada vez mais complicado. O atendimento de Eliria acabou rápido e eu ainda estava ali juntando minhas coisas, Eliria começou a mover os lábios para dizer alguma coisa, mas eu não quis ouvir.

Só que o aperto de não responder nada foi uma dor pior que uma faca atirada no peito. A olhei e esbocei um sorriso amargo pra ela, peguei minhas coisas e a mochila e saí de lá, antes que chorasse, algo que era muito difícil de fazer.

Pior de tudo eram já cinco e meia da tarde de uma sexta feira, não tinha possibilidade de sair à procura de outro emprego e muito menos marcar alguma entrevista. Aquilo me irritou muito, acabei dando um soco na lateral do carro por toda a indignação que sentia, apoiei a testa no capô soltando o ar preso dentro dos pulmões, o peso de não chorar estava me corroendo por dentro, mas não largaria uma lágrima se quer.

— E agora ? Como é que vou pagar a minha faculdade? O valor da rescisão só vai dar para pagar dois meses ? Não posso trancá-la, estou no meio do semestre e se trancar terei que pagar uma multa muito alta e não tenho dinheiro para isso, o que vou fazer agora?— resmunguei para mim mesma e soltei outro suspiro pesado.

Escutei dois rapazes passarem conversando, um deles tinha uma bunda muito bonita, revirei os olhos, tinha muitos problemas para resolver do que ficar cuidando garotos naquele momento. Precisava com urgência encontrar outro serviço para conseguir pagar minha faculdade e ajudar em casa como sempre vinha fazendo, o meu dinheiro em casa era contado, ou seja, iria fazer falta se não conseguisse pagar o que havia me comprometido. Meus pensamentos de angústia cessaram quando ouvi o comentário de um dos rapazes sobre uma corrida clandestina que acontecia na cidade, levantei a cabeça e fiquei prestando atenção melhor na conversa dos dois, que pararam alguns metros longe de mim.

— É sério, cara. Essa corrida que tem hoje é para carros normais, não precisa ser tunado para participar.

— E o prêmio é de quanto?

— Depende muito, de quantas pessoas vão comparecer no local e fazerem aposta. Tipo, o dia que eu fui lá só para olhar, um cara tirou uns dois mil tranquilinho.

— Sério?

— Sério mesmo.

— E onde fica esse tal local?

— Fica do outro lado da cidade, se quiser posso te levar lá agora, mas as corridas só acontecem à noite.

— Sem problemas,vamos lá. É mais fácil gravar o local de dia.

— Então vamos lá. – falou o garoto que vestia uma blusa vermelha e entrou no carro e o seu amigo fez a volta e sentou no banco do motorista e saíram.

— Hum, numa noite tirar dois salários e assim não precisar trancar a faculdade?... Não custa nada dar uma olhada pra ver como funciona. Caso role uma grana alta posso correr e se ganhar conseguirei pagar a faculdade e ficar com uma grana para passar o resto do mês – maquinava comigo mesma, num tom baixo para que não me ouvissem, peguei minhas coisas e joguei para dentro do carro. Atendi uma ligação fajuta para conseguir entrar com pressa no carro para os seguir. — Se der certo, transformo isso em trabalho periódico, muito melhor que aguentar engravatados, hora para trabalhar e todas as outras burocracias de trabalho normal.

Os segui a uma distância segura, ocasionalmente os ultrapassava, entrava em ruas que sabia onde dariam, assim não perceberiam que estavam sendo seguidos.

Os segui até o outro lado da cidade, para região leste, onde não havia nada, apenas empresas de transportadoras e casarões. Entrei numa rua que não possuía movimento, só depósitos de empresas dos dois lados da rua. Olhei para o asfalto e avistei marcas de pneu bem peculiares, poderia apostar meu carro que era por ali que ocorriam as corridas. Os garotos pararam na frente de uma porta de depósito. Passei por eles e entrei na próxima quadra. Sai do carro correndo e parei na esquina atrás de uma árvore, contudo ali ficaria muito distante para escutar algo, então aproveitei o momento quando não estavam olhando e mudei correndo para outra árvore e fui fazendo esse movimento até chegar perto o suficiente deles para conseguir os escutar. Contudo, poderiam me ver, então escalei a árvore com exímia habilidade e me escondi atrás dos galhos, pois além de ficar de olhos neles conseguia ficar de olho no meu carro que o deixei aberto devido à pressa que saí.

Os dois garotos já haviam descido do carro, estavam em frente a uma porta de um depósito que estava aberta e conversavam com um homem que vestia uma regata preta e calça jeans largas, com pirulito na boca. O rapaz de calças jeans apontou com a mão para dentro da loja ficando de costas para mim, então não consegui escutar nada da conversa. Bati a testa na árvore, se não tivesse sido tão meticulosa em ficar escondida teria os escutado. Quando comecei a descer a árvore escutei um nome Heck, entretanto não tinha ideia de qual deles poderia ser aquele nome. Quando escutei a porta do depósito sendo fechada desci da árvore e corri para dentro do meu carro.

— Droga! Não consegui escutar se vai ter corrida hoje e que horas vai começar, pelo menos sei o nome de um deles, Heck e que nome mais estranho para uma pessoa, deve ser apelido. Bom, o jeito é dar uma passada aqui mais tarde, pra ver se vai ter alguma coisa e usar o nome Heck pra conseguir alguma informação – sussurrei e voltei para o carro e fui embora.

Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto e me atirei na cama, pensando na loucura que faria mais tarde. Correr numa corrida clandestina, meus tios e parentes surtariam ou coisa pior, sem contar que não sabia se seriam amigáveis, todavia essa loucura toda apenas para conseguir dinheiro e pagar a faculdade e os gastos que tinha.

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Quando trombei em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora