E meus olhos se abriram. Eu estava deitado sobre meu sofá, o som de Jingle Bells ainda ecoava lá fora, mas eu não me importava. Era a minha música preferida! Olhei para o relógio: ainda eram cinco horas da tarde. Caramba, era Natal! Eu sei, você deve estar pensando: seu idiota, foi só um sonho, mas, uma fala de Alison não saia da minha cabeça.
"Não é no que as pessoas dizem, ou deixam de fazer que o natal se baseia. É nos bons sentimentos, é no amor que fica no ar. É na alegria, são nas poucas pessoas que realmente fazem algo que a magia está. Não é nos presentes, são nas ações. São nos sorrisos que se abrem por você contar uma história em um hospital ou pelo carinho transmitido em um abraço."
Isso havia realmente mexido comigo, havia me feito acreditar, não em Papai Noel (obviamente eu não sou um retardado), mas sim na magia do Natal. Eu não havia percebido, mas julguei tanto as pessoas, que não percebi que eu era uma das que ficava sentada esperando que o mundo se resolvesse sozinho. E, aproveitando que o Natal estava ali e que todas as lojas ficariam abertas até meia noite, era hora de aproveitar!
Coloquei novamente meu cachecol no pescoço e peguei as chaves do carro. Quando eu saí de casa, as crianças que cantavam Jingle Bells se calaram instantaneamente, me encarando assustadas. E para que aquele clima não se instaurasse entre nós, busquei meus dons artísticos e comecei:
— Jingle bells, jingle bells, Jingle all the way. Oh, what fun it is to ride in a one horse open sleigh... - vendo as crianças abrirem um sorriso doce, começando a se animar, os instrumentos me acompanhando devagar e baixo, continuei, da mesma forma sem ritmo de antes — Ladies and gentlement. — E então, em uníssono com as crianças, ouviu-se apenas uma voz e ela cantava —I give you the jingle bass. Merry Christmas!
E as crianças bateram palmas para mim. E eu sorri de verdade, como não sorria desde que me tornei um homem ranzinza. Segui para o meu destino: o shopping. O engarrafamento estava a toda, o trânsito completamente paralisado. Foi assim por uma hora e meia, quando eu finalmente cheguei ao meu destino. Lá estava tudo decorado e bem no centro havia o trenó, com suas oito renas. Pude jurar ter visto Magia entre elas.
Não sei bem no que estava pensando quando comprei vários presentes diferentes e uma roupa de Papai Noel. Demorei horas pra fazer isso, já que o shopping estava no pico do movimento e eu esperei para que embrulhassem todos os presentes. Confesso que não foi fácil voltar ao meu carro carregando aquele saco enorme, mas eu faria um esforço. Quando finalmente consegui chegar em casa, me dei conta que já era uma e meia da madrugada. E fui dormir, obviamente.
Na manhã seguinte me dirigi ao Hospital. Conversei com algumas enfermeiras, para ver se eu podia mesmo entregar os presentes. Fui até um dos banheiros e vesti a roupa de Papai Noel.
Fui para a ala do câncer. A minha surpresa foi imediata: Eros e Robert estavam lá. E de repente, tive vontade de dizer:
— Ho Ho Ho! Feliz Natal!
Eles me olharam e por um momento vi um resquício de felicidade brotando em seus olhos. Eles não eram crianças, mas mereciam alguma felicidade, por isso entreguei um pacote dourado para cada um, e para cada uma das outras pessoas do lugar.
Segui para a ala dos queimados. Eu tinha certeza que tinha medo do que viria ali. Tinha medo de que a aparência das crianças dali me assustasse, de que eu não conseguisse manter meu propósito.
"E você não vai só entregar presentes, alias, eles são o que menos importa. O que importa é o sorriso e a felicidade que surgirá amanhã pelas crianças não por terem um novo brinquedo, mas por saberem que Noel novamente não se esqueceu delas."
E com essas palavras ecoando na cabeça, adentrei o recinto.
— Ho Ho Ho! Feliz Natal! — vi várias crianças assustadas, mas quando assimilaram quem eu era, ou melhor, do que estava vestido, correram pra mim. Eu abracei todas, uma de cada vez. Elas sorriam enquanto eu lhes entregava seus presentes em pacotes dourados, e sorriam, fosse uma boneca, um livro, um carrinho... Qualquer coisa!
E eu me sentia feliz, e as achava lindas, mesmo com os pequenos rostinhos desfigurados pelas chamas, os membros carbonizados, mas o que mais me fazia feliz eram seus sorrisos. Simplesmente seus dentinhos brancos expostos. Elas me abraçavam, beijavam e corriam para o fundo da sala. Quando a ultima criança pegou o seu presente, foi que eu vi o porquê de se direcionarem com tanta pressa para aquele local: havia ali uma mulher contando histórias. Vislumbrei-a de costas, vestida com uma roupa de Mamãe Noel e segurando um violão. Seus cabelos em ondas cor de chocolate caíam até o meio das costas... Espera ai!
Despedi-me das crianças ainda sem ver a mulher, mas esperei-a na porta do hospital. Se ela fosse quem eu estava pensando...
Cerca de meia hora depois a moça saiu, usando apenas a touca vermelha e não a fantasia completa. Reconheci imediatamente aqueles olhos castanhos e seu rosto angelical munido do sorriso mais meigo que eu já havia visto. Andei até o lado dela.
— Alison? — Chamei. Ela se virou para mim, seu rosto tomado pela surpresa, mas, em seguida, ela sorriu.
— Oi. — Respondeu e, aparentemente, reconheceu o homem que estava embaixo da barba alguns minutos antes, então seu sorriso se abriu um pouco mais. — Papai Noel. Eu já te conheço?
— Não ainda. — Sorri, pegando sua mão e beijando a parte de cima. Suas bochechas coraram levemente — Me chamo Mark, mas pode me chamar de Noel. — Ela sorriu em concordância. — Gostaria de um café?
— Claro, Mark Noel. — Disse.
Ela sorriu e eu pensei, nesse momento, que talvez pudéssemos ficar juntos, algum dia.
Olhei para cima, vendo um ramo de visco diretamente acima da minha cabeça, parte da decoração da entrada do hospital. Recado entendido, destino. É claro que eu não a beijaria ali, mas entendi o sinal.
Parece que a magia do natal acontece pra quem acredita e, aparentemente, Papai Noel também se lembrou de mim, afinal, quantas vezes você sai de um hospital com o amor da sua vida ao seu lado?
♥♥♥
Oi, gente! Como vocês estão? Provavelmente comendo, porque é natal e a gente faz muito isso até dia 31.
Aí está a última parte do conto! O que vocês acharam? Fofinho? Como assim eles não ficam juntos com dois filhos e um cachorro? Pelo menos a Alison é real!
Pois é.
Espero que vocês tenham gostado, de verdade!
Ah, esse capítulo é dedicado para a lindeza da Unizinha, que faz aniversário hoje! Parabéns, amorzinho! Muitas felicidades! ♥
Beijos, feliz natal e obrigada por ler,
Gabs ♥
VOCÊ ESTÁ LENDO
Visco (Concluído).
Short StoryMark Davis tem uma certeza na vida: O natal é a pior época do ano. Ao contrário da maioria das pessoas, que se enchem de alegria e bondade, ele simplesmente não vê sentido no espírito natalino e sente vontade de hibernar e só ser acordado quando o...