Parte Um - Eu deveria estar brincando na neve do inverno.

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I should be playing in the winter snow...

Minha cabeça doía e minhas pálpebras pesadas se recusavam a abrir de um modo decente, mas, liberaram uma fresta para que a luz explodisse minhas retinas - metaforicamente, é claro. Não existe nenhuma explosão de retina por luz documentada até hoje. Após alguns segundos, quando a luz não mais parecia alguma espécie de explosivo em potencial (especialmente porque eu parei de tentar abrir os olhos), passei minha mão direita pela testa, sentindo um líquido unindo-se à minha pele. Só então parei de tentar – inutilmente – usar a visão e botei outro sentindo pra funcionar: olfato. E então senti cheiro de sangue.

— Ele vai desmaiar de novo! – Ouvi uma voz feminina anunciar, já levemente mais grogue do que antes — Será possível que ele ainda tenha problemas com sangue? — Dado as circunstâncias, eu diria que sim, ele ainda tem problemas com sangue.

Senti algo sendo pressionado contra a minha testa e então o cheiro de sangue sumiu parcialmente. Forcei novamente as minhas pálpebras a se abrirem e, dessa vez, funcionou. Uma mulher estava abaixada ao meu lado, usando um vestido vermelho com a barra com aquela penugem fofinha e branca, além de uma touca daquelas de Papai Noel. A única coisa que contrastava com todo aquele branco e vermelho era o cinto negro que ela usava, além dos cabelos castanhos caindo em pequenas ondas pelos seus ombros. 

— Você está bem? — Foi o que ela perguntou. Sua voz era melodiosa e leve, o que, por algum motivo, me fez compará-la a algodão doce.

— Acho que sim. — Olhei em volta e deparei-me com um corredor de paredes brancas decoradas com todos aqueles enfeites de natal. Um corredor simples e completamente desconhecido. — Quem é você?

— Definitivamente, ele não está bem. — A moça anunciou enquanto falava com as demais pessoas que estavam em volta de mim. Na sequência, seu olhar se voltou a mim. — Vou levá-lo para o quarto e ver o que posso fazer.

Dito isso, ela me ajudou a levantar, passando com habilidade meu braço sobre seus próprios ombros como forma de apoio, me guiando pelo mesmo corredor até a porta branca que tinha a maior guirlanda. Com a lateral do corpo, ela gentilmente empurrou a madeira e, ainda me ajudando, colocou-me sobre a cama de casal. Mexeu no cabelo, incerta do que fazer. Senti-me obrigado a tentar de novo.

— Quem é você? — Tentei novamente. Até onde eu sei, perguntas devem ser respondidas, não é mesmo?

— Você realmente não se lembra? — Suas sobrancelhas se apertaram, formando um vinco no espaço livre entre elas, logo acima do nariz.

— Não. Eu realmente não faço a menor ideia de quem você é. — Respondi enquanto tentava me colocar sentado, o que me levava a ficar levemente tonto.

— Sou eu, Noel. — Eu não sei bem que parte do "eu realmente não faço ideia de quem você é" deu a entender que responder "sou eu" ajudaria em alguma coisa. Ela suspirou, tentando novamente: — Alison.

— Alison... — Tentei buscar na minha mente qualquer informação associada àquele nome, até me dar conta do óbvio: — Espera. Do que me chamou?

— Noel. — Ela respondeu. Tenho certeza que esse tal "Noel" é muito lindo, porque aparentemente ele se parecia bastante comigo para ter feito uma maluca me colocar dentro do próprio quarto, mas, definitivamente, não era eu.

Olhei-a um tanto espantado.

— Eu me chamo Mark Davis. — disse.

Ela suspirou pesarosa, um misto de "pelo menos ele se lembra de alguma coisa" com "estamos todos perdidos". Olhou-me e tirou a touca vermelha que lhe cobria o topo da cabeça, deixando a mostra todo o seu cabelo perfeitamente alinhado.

Visco (Concluído).Onde histórias criam vida. Descubra agora