Me levanto rapidamente e inspirei profundamente, sabendo que meus olhos tinham se arregalado. Foi a surpresa , não era medo, ao vê-lo carregando vários galhos de arvores secas e um grande machado em suas mãos, mas ele não parece ter sabido distinguir pois seu corpo ficou tenso e ele levantou o queixo em uma atitude superior.
—Como você achou esse lugar?—Me perguntou e meus olhos foram para o Ghost que , eu percebi, estava fingindo dormir.
—Bem eu ...—Sussurrei e suas feições duras ficaram ainda mais severas diante da minha falta de eloquência.
—Você pode voltar.—Ele se virou e andou um pouco, parando perto de um tronco de arvore cortado perto do rio e colocou os galhos do lado.—Eu não vou dizer duas vezes.—disse ele sem olhar para mim e então eu sai do meu torpor e desci as escadas, pegando a cesta que eu tinha deixado do lado e dando um olhar apreensivo ao Ghost que bufou, espalhando algumas folhas no chão e fechou os olhos novamente.—Seu lobo ingrato—Sussurrei e me dirigi até onde ele estava.
—Eu...—Comecei e nesse mesmo instante ele bate com o machado em um pedaço de arvore e ela se parte facilmente em dois. Ele me olha por cima dos ombros e eu engulo em seco, perdendo um pouco daquela coragem que eu havia reunido para vir aqui.
—Hum...Eu fiz isso para você.—estendi a cesta para ele e ele olhou para ela como se fosse mordê-lo.
—Por que?—quis saber e eu pisquei para ele, confusa diante das suas palavras.
—Para te agradecer.—disse como se fosse óbvio.
—Por que?—Repetiu ele.
—Porque você me salvou ontem e a meus pais.
—Eu não fiz isso.—ele desvia seu olhar para longe de mim.
—Fez sim. Eu te vi.—ele ficou tenso, mas não me olhou novamente, voltando ao seu trabalho e me ignorando.—Eu vi você me seguindo, ouvi seus passos. E quando o Ghost se foi, eu ouvi você chamando-o.—Acrescentei e ele me encara, e sua expressão é difícil de interpretar.
—Eu não fiz isso.—diz ele quase como um rosnado. Ele está querendo me intimidar, mas ele não vai ter sucesso com isso.
—Fez sim.—rebato e ele levanta a sobrancelha para mim.
—Você esta dizendo que eu sou mentiroso?
—Não, estou dizendo que você não precisa fingir, eu vi.—falo num tom baixo de voz. Por alguns segundos nós apenas nos olhamos. É ele quem desvia o olhar e em seguida, diz em tom autoritário.
—Vá.
—Você já disse isso.—murmuro baixinho e ele me encara, irritado.
—E por que você ainda não foi?—pergunta ele em tom áspero e eu respondo de forma direta.
—Estou esperando você aceitar minha gratidão. —Estendo a cesta para ele que a olha e depois a mim.E permanece assim por alguns segundos e eu faço a minha cara de cão sem dono, como diz a minha mãe e ele rola os olhos para isso e enfim pega a cesta da minha mão.
—Pronto, você já pode ir._ele diz com impaciência, mas eu nego seu pedido.
—Não posso.
—Você disse que iria se eu aceitasse._ele fala , com a expressão confusa e cheia de irritação e eu dou de ombros.
—Sim, mas eu preciso levar a cesta.—Eu dou a ele meu melhor sorriso inocente e ele me olha com ar desconfiado.—Vamos comer. Eu esperei muito por você, estou com fome também.—digo fazendo uma careta exagerada e corro até a escada e o chamo.—Você não vem?
Ele fica me olhando e, quando percebe que eu não vou a lugar nenhum, joga o machado no chão com irritação e caminha até onde eu estou. Eu quero sorrir com a minha pequena vitória, mas eu contenho isso. Quando ele chega perto, eu dou espaço para ele, mas ele não sobe as escadas, ele passa direto e começa a sumir atrás da casa.
—Onde você vai?—pergunto descendo a escada e o seguindo.
—Comer.—é tudo que ele diz.
—Não vai me convidar para entrar?—Eu franzo meu cenho e exijo saber.
—Não.—diz ele sem perder o ritmo. Frustração agita dentro de mim e eu pergunto.
—Por que?—Ele para de andar de repente e eu acabo batendo em suas costas. Murmuro um "ai" e levo a mão a minha testa que recebeu todo o baque com suas costas e me ajeito, olhando para seu rosto ,com irritação.
Eu ia perguntar para ele por que raios ele havia feito isso, mas paro, de repente sem palavras. Aqui, na luz do sol posso ver seus traços claramente. Ele tem cabelo castanho e não preto como presumi no outro dia.Ele está desalinhado como se ele não tivesse o penteado quando acordou.Suas linhas faciais são suaves, mas marcantes.Uma pinta negra em seu pescoço me chama a atenção. Seus lábios são finos e rosados e eles estão em uma linha reta e dura, mostrando sua irritação, que eu sei bem, é direcionada a mim. Mas são seus olhos que me paralisam. São castanhos e estão recebendo a luz direta do sol o que os faz parecer mais claros do que são, e eles olham para mim como se esperassem que eu fosse fugir a qualquer momento, como e eu fosse me assustar pelo que vejo neles. Mas tem algo mais que isso, algo como esperança que eu não vá também. Ele encara dentro dos meus olhos procurando por medo e é tão intenso. Eu prendo a respiração.
Aquele olhar me faz sentir vazia e triste por ele.
—Por que...—ele começa a dizer e eu paro de encarar seus olhos e me concentro nas suas palavras e como um soco em meu estomago, ele termina sua frase.—Você não é bem-vinda aqui.
Sinto minha expressão cair e, por alguma razão, lágrimas se formarem em meus olhos. Dou um passo para trás e limpo a minha garganta, segurando as lágrimas para que ele não possa ver o quão chateada estou.Tenho meu orgulho e não gosto de impor minha presença quando não sou bem-vinda, então eu vou sair. Já entreguei o que queria mesmo, o que mais eu queria? Ele está sozinho nessa floresta por um motivo e eu estava apenas o irritando com minha presença. Só porque ele me salvou uma vez não quer dizer que ele gosta de mim ou algo assim.
Estou prestes a me desculpar quando sinto o pelo do Ghost roçar o meu lado e quando olho para ele, ele está me encarando como quem diz: Vamos lá.
Como disse, não gosto de impor minha presença, mas também não sou de me acovardar tão facilmente. Ainda mais quando eu tinha uma ajuda tão especial quanto a que eu tinha. Era tudo o que eu precisava para me decidir e o Ghost parecia saber disso.
Eu sorrio e olho para o homem na minha frente e com determinação e uma alegria nascida no fundo do meu ser, eu declaro.
—Sou sim.—Passo por ele indo me sentar numa mesa, que agora eu vi, estava postada ali fora, com o Ghost ao meu lado.—Você não vem?
Eu não espero por ele mais, vou direto para a mesa e me sento, escovando os pelos do Ghost com meus dedos. Um minuto depois a cesta é jogada na mesa e ele se senta, sem me olhar, abrindo-a e tirando de dentro todo o conteúdo.
Ele come em silêncio, como eu sabia que ele faria, mas como ele ainda não me mandou ir embora eu aceito isso. Eu teria muito tempo para tentar fazer ele falar, até porque me conhecendo tão bem, essa não seria a ultima visita que eu faria ao Ghost e seu dono. Ele teria que falar em um momento ou outro.
Quando ele termina de comer, ele se levanta e sai da mesa sem olhar para trás. Eu olho para o Ghost e digo.
—Teimoso.—O Ghost Bufa como se concordando e eu sorrio. Arrumo tudo ali deixando limpo e do jeito que estava antes de nos sentarmos e me inclino para o Ghost, dizendo.
—É melhor eu ir, não é?—Ele olha para o homem parado a beira do lago e eu também o faço. Ele está lá, parado e olhando para frente como se fosse tudo o que existia. Ele parecia solitário. Eu me ergo e começo a andar até ele, mas o Ghost me para, entrando na minha frente e me encarando com seus grandes olhos de lobo e logo ele começa a andar em direção a floresta.
Ele não precisa saber falar para eu entender a mensagem.
Eu o sigo e mais rápido do que seria se eu tivesse vindo sozinha, estamos em minha casa.
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A sombra do Lobo
Fanfiction- Me dê apenas um motivo para não te matar. Eu não gosto de intrusos na minha terra. - ele disse e pela primeira vez olhou para mim. Seus olhos eram escuros, como seu cabelo. Não sei se era pela falta de luz na floresta, mas parecia qu...