Segredo Revelado

2.2K 372 65
                                    


—Essa cicatriz. Como você a conseguiu?—Eu não sabia o que estava fazendo, mas eu tinha que fazer alguma coisa e pela expressão em seu rosto quando ouviu minhas palavras, eu fiz a coisa errada.

Ele fica em silêncio por um longo tempo olhando para mim como se eu tivesse cometido o pior dos pecados. Eu quero me bater, quero me ajoelhar aqui e pedir desculpas a ele, mas eu não consigo falar.Eu apenas fico ali parada, esperando.O que eu não sei.

Ele olha para fora da janela e caminha até ela como se tivesse ouvido algo lá fora. O céu está começando a perder o seu azul claro e ganhando tons alaranjados do entardecer. eu dou um passo em sua direção, prestes a pedir desculpas quando ele diz.

—Um lobo.—A palavra me atinge como um tapa no rosto, e quando ele me encara novamente seus olhos estão diferentes, estão distantes como se não estivesse ali comigo e sim no dia em que aquilo aconteceu.— Quando eu era mais novo, eu fui mordido na floresta por um grande lobo cinza. Ele era velho, foi deixado para trás pelo seu bando para morrer e eu acabei chegando perto demais de seu esconderijo enquanto brincava com meus amigos.

"Passou muito tempo até meus pais sentirem minha falta e procurarem por mim.Eles me acharam a noite e eu estava ardendo em febre por causa da ferida. O Lobo me mordeu apenas para me assustar e logo em seguida fugiu, o que foi minha sorte."

Algo nas suas palavras o fazem rir, uma risada fria e sem humor, e ele caminha e se senta na beira da cama e deixa a cabeça cair entre as mãos enquanto continua.

"Meus pais correram comigo para o médico local e ele disse que não tinha jeito e graças as histórias que os velhos contavam para assustar seus filhos, ele colocou na cabeça dele que eu viraria um lobisomem e não quis me tocar. Provavelmente ele foi uma dessas crianças assustadas por seus pais.— disse ele sorrindo e olhando para mim, mas seus olhos contavam outra história. Era doloroso de ver ele assim.

Eu dou um passo para frente, mas ele me parar com um movimento de mãos. Eu abro a boca para pedir que ele pare, que eu sinto muito por ter perguntando, mas ele continua a sua história.

—Um curandeiro, que por sorte estava na vila para comprar mantimentos, ouviu os boatos e procurou meus pais. Ele não esperou nem pela aprovação deles e fez uma unguento de folhas antes de chegar a nossa casa e colocou na minha ferida assim que convenceu a minha mãe a deixá-lo entrar.Ele ficou comigo até a febre abaixar e meus pais ficaram muito agradecidos a ele e ofereceu moradia a ele ate que ele tivesse que partir da cidade.

"A ferida fechou por completo alguns dias depois, rápido demais de acordo com o médico que me encontrou na rua algum tempo mais tarde.Ele deixou que as pessoas soubessem do meu "feito" e depois disso, toda vez que meus pais saiam, as pessoas ficavam me olhando e cochichando. Meus amigos não eram mais permitidos brincar comigo e ninguém queria ter um "lobisomem" em sua loja.

"Meus pais não quiseram que eu passasse por isso e se mudaram para outro lugar. Mas as histórias viajam mais rápido que uma flecha ao que parece. Quando eles morrerem, enquanto caçavam, algumas pessoas disseram que fui eu e me casaram como um animal. Eu me escondi aqui na floresta. Achei essa casa abandonada e fiquei aqui tentando sobreviver sozinho. Eu era apenas uma criança assustada e eles estavam me tratando como um monstro ... Acontece que as pessoas que saíram para me caçar não voltaram para suas casas. Uma alcateia de lobos que vivia aqui estavam os matando, pois eles entravam em seu território e matavam seus filhotes. Depois de um tempo eles pararam de me procurar e foi dai que a lenda surgiu."

Ele me olhou novamente e seus olhos ainda estavam longes, mas pareciam um pouco aliviados. Talvez tivesse sido bom ele falar disso para alguém, talvez ele tivesse esperando por alguém pergunta.

—E o Ghost?—pergunto e ele dá de ombros enquanto levanta e vai até a janela novamente.

—Eu o achei na beira do rio em uma noite muito fria. Ele estava todo molhado e machucado e eu o trouxe para dentro. Ele era um filhote, não conseguia ficar por conta própria. Eu o criei e o ensinei a caçar . Ele não quis ir quando eu o mandei e voltou para cá depois de eu o deixar na floresta. Ele sempre foi teimoso assim.—diz ele rindo e eu rio também.

Aquilo era algo que eu podia imaginar.

Ele caminha até mim e para bem na minha frente e diz de forma fria. Eu podia ver que ele não estava mais feliz pela lembrança só pelo olhar e pelo rosto dele. De repente eu me sinto muito nervosa.

—Agora que eu sanei a sua curiosidade e você já brincou de lobo mau e chapeuzinho, você não precisa mais voltar.

Suas palavras me atingem como um soco no estomago e eu tenho que me concentrar muito para conseguiu formar uma palavra agora.Eu estou muito surpresa para ser eloquente.

—O-o quê? O que quer dizer?

—Eu estou falando para você ir e não voltar mais. Eu já cansei de ter que aturar sua presença complacente como se eu fosse algum tipo de obra de caridade para você.—As palavras dele conseguem penetrar minha consciência e eu protesto prontamente, tentando dizer a ele que aquilo não era verdade que eu não o via como um projeto ou qualquer coisa e que eu realmente gostava de estar ali com o Ghost, com ele.

—O que? Não ..eu não.—Mas ele não me dá chances de terminar.

—Vai. Eu não quero te ver mais aqui.— O desespero irrompe no meu peito, turva minha visão como uma névoa de medo, desbota todas as cores do quarto e faz com que eu me sinta totalmente perdida.

—JungKook...—tento mais uma vez, mas ele não me ouve, ele apenas diz com sua voz fria, de um modo que ele nunca falou comigo antes.

—Vá.—Eu dou um passo para trás com a força e a raiva que essa única palavra exala e meus olhos se enchem de lágrimas, que escorrem por meu rosto sem a minha permissão. Ele não muda sua expressão e me olha como se eu fosse nada mais que um incomodo.

Eu quero ser teimosa agora e ficar, mas ele não me deixa. Ele caminha até mim, empurrando-me para fora do quarto e de sua casa e fecha a porta para mim. Eu desço a escada com as lagrimas caindo dos meus olhos com mais força e olho para a casa por um instante e me pergunto se algum dia voltarei a vê-la. Mas dessa vez eu faço o que ele me pede.

Eu o deixo em paz.

A sombra do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora