Segredos

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Depois de ele dizer seu nome a nossa relação foi progredindo aos poucos, pequenas coisas, mas que se tornaram muito importantes para mim. Nós caímos em uma rotina confortável e agradável e ele parecia bem mais receptivo a mim. Eu os visitava na parte da manhã e ia antes do almoço todos os dias e eu passava o resto do dia pensando sobre ele.

Ele enfim me convidou para entrar em sua casa um ciclo de lua depois que me disse seu nome. Foi em um dia ,quando o céu estava coberto de nuvens carregadas e o vento soprava frio nas folhas das arvores. Assim que eu chequei na casa dele o vi sair de dentro de sua casa vestindo um grande casaco de cor escura que constatava com a sua pele clara e o fazia parecer ainda mais bonito. Eu não sabia se ele tinha percebido que eu estava lá. Ele parou no alpendre da porta e olhou para o céu como se esperasse que a qualquer momento algo fosse cair de lá. Eu estava olhando para ele tão atentamente que não percebi o Ghost chegar ao meu lado e quando ele bufou pedindo atenção, eu quase dei um pulo em meu lugar.

—Ghost!—disse baixinho em tom de reprovação e ele baixou a cabeça como se entendesse. Eu ri com isso e passei meus dedos por seus pelos como ele gostava e me abaixei ao seu lado.—Me desculpe, eu estava distraída.

Mais uma vez, como se entendesse, ele olha na direção do JungKook que agora olha para mim. Eu me endireito e aceno para ele como se eu tivesse acabado de chegar e ele se aproxima.Assim que ele está perto o suficiente para me ouvir, eu digo.

—Acho melhor comermos rápido. Pode chover enquanto estivermos aqui fora.— recebo apenas um olhar vazio em resposta.Ele não para de andar e por um momento acho que ele vai passar por mim e ir para floresta, mas ao invés disso ele se inclina um pouco sobre a mesa e pega a cesta que eu trouxe e se vira voltando em direção a casa. Eu fico lá parada, sem saber se ele

quer que eu o siga ou se está me mandando embora. Quando ele sobe a pequena escada parece perceber que eu não o sigo então vira a cabeça para olhar para mim e pergunta.

—Você não vem?— Ele entra sem esperar uma resposta.

Eu fico tão atordoada que eu permaneço lá, parada e não é até que eu sinto o Ghost encostando na minha perna e me andando como se estivesse me empurrando que eu começo a me mover.

Eu paro na porta olhando para dentro e ainda esperando que ele diga que não é para e entrar. Ele está arrumando as coisas em cima de uma mesa pequena localizada perto da janela da sala e me olha, mas não diz nada, apenas continua o que está fazendo.

A sala era confortavelmente mobiliada sem extravagancia e parecia muito com a personalidade dele. Havia um sofá na frente da lareira baixa e tapetes de pele de urso no chão, um grande móvel de madeira escura em um dos cantos exibia uma grande coleção de livros e um outro bem menor na parede oposta exibia pequenas miniaturas de cristal de animais.

As paredes eram enfeitadas com pinturas coloridas de paisagens e imagens de lobos. Era aconchegante.A iluminação que tremulava nas arandelas das paredes era de grandes velas colocadas em cima de suportes de metal prateados e ordenados com desenhos de arvores.

Eu continuei ali na porta, absorvendo a imagem de sua casa até que ele cansou de esperar e veio até mim me puxando pelo mão para dentro e fechava a porta.

—Está frio lá fora.—justifica ele e eu apenas o olho.

Vejo que estou fazendo papel de boba e me junto a ele na mesa e tomo o café junto com ele.Quando eu termino, eu olho para ele que olhava para fora e digo.

—Obrigada.

—Pelo quê?—perguntou sem me olhar.

—Por tudo.—respondo e então ele me olha.Ele me encara por alguns segundos e por fim assenti para mim. Eu sorrio e posso ver seus lábios se comprimirem impedindo a formação de um sorriso de resposta.

Depois disso, todas as vezes que eu chegava lá a porta estava sempre aberta em um convite silencioso para mim.

Eu também descobri, alguns dias depois, como ele foi parar ali, sozinho e com tantas histórias horríveis a cerca dele. Foi em um dia que eu não pude ir cedo e acabei só indo depois que o sol estava no meio do céu, a temperatura era alta e não havia nem uma brisa para refrescar fora do abrigo das sombras da arvore. Eu cheguei a sua casa e o procurei lá dentro, mas nem ele nem o Ghost estavam, então eu comecei a preparar a mesa para o jantar deles e me contentei em vê-los amanhã já que eu não podia ficar muito tempo ali.

Quando eu terminei, eu sai e fechei a porta pronta para ir embora, mas eu vi o Ghost andando até a parte de trás da casa e o segui. Quando sai da cobertura da parede, vi o JungKook perto do rio, sem camisa ,se lavando provavelmente para espantar o calor. Ele estava caçando, pois eu vi o cervo abatido no chão.

Ele se reclina mais para frente e joga agua em todo seu rosto. Observo plenamente seu corpo, a forma como suas mãos jogam a água por seus braços, a pele clara distendida sobre músculos rijos.Ele era magro, mas os músculos estavam lá, todos definidos e perfeitos.

Queria que meu rosto parasse de queimar agora.

Ele se levantou da beira do rio e passou a mão por seu cabelo molhado, tirando-o de sua testa.Fechando os olhos, ele virou o rosto para o sol, banhando-se em um brilho dourado, sorrindo. Ele parecia relaxado e em paz assim e eu confesso que fiquei um pouco triste. Ele não sorria assim quando eu estava perto e os poucos sorrisos que vi dele foram todos quando ele achava que eu não estava por perto.

Eu me escondi atrás da parede da casa novamente e fechei meus olhos, tentando conter o desapontamento que crescia em mim. Será que ele não gostava mesmo de me ter aqui? Será que eu..eu era um incomodo e ele apenas me tolerava por causa do Ghost?

Eu tive que engolir o caroço que se formou em minha garganta e me forcei a sorrir quando vi o Ghost parado me olhando. Eu me ajeitei e chamei o JungKook de onde eu estava.Eu não queria que ele pensasse que eu o estava espionando, apesar de ter aproveitado bastante a vista de seu corpo daqui.

—Hey, Snow, está ai?

Eu continuava o chamando assim apenas quando queria ver alguma reação nele. Ele ainda era muito reservado e isso me incomodava um pouco.

Um minuto depois ele aparece na minha frente, ainda sem camisa e diz.

—Pensei que não viesse hoje.

—Meu tio veio me visitar, eu não pude sair até ele ir embora.—explico e ele começa a andar em direção da casa.Eu ia gritar com ele, dizendo qualquer coisa só para tentar fazê-lo voltar, mas algo me chama a atenção, algo que eu não consegui ver antes por ele estar longe. Uma cicatriz nas suas costas. É irregular e grande o suficiente para chamar a atenção, mas pequena se comparada com as que meu pai possui de suas brigas quando era jovem. Ela é rosada e se destaca em sua pele branca. Eu corro até ele e seguro seu braço fazendo-o parar e me olhar com surpresa. Eu olho para a sua barriga rapidamente e vejo que ali também tem uma marca.

—O quê?—pergunta ele quando eu não digo nada e isso me faz olhar para seus olhos. Eu quero perguntar o que causou aquela cicatriz, quero que ele me diga mais sobre ele, mas eu não pergunto. Não tenho coragem.

—Eu não posso entrar.—digo.—Tenho que voltar.

Ele se solta de mim e entra na casa sem dizer nada. Eu penso em ir embora, mas não consigo. Eu estou com raiva agora, por ele parecer nunca se importar comigo, por ele ser tão frio e tão teimoso. sei que não faz sentido, mas eu estou com raiva dele por ele me deixar ir sem ao menos perguntar se não posso ficar.

Eu vou atrás dele e paro na porta de seu quarto, onde ele esta vestindo uma blusa. Eu estou respirando com dificuldade e meu coração bate apressado em meu peito. Ele se vira e me vê ali e levanta um sobrancelha, como se perguntasse o que eu estava fazendo ali.

—Essa cicatriz. Como você a conseguiu?—Eu não sabia o que estava fazendo, mas eu tinha que fazer alguma coisa e pela expressão em seu rosto quando ouviu minhas palavras, eu tinha feito a coisa errada. 

A sombra do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora