Eric Hall

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    Tempos atuais

  Desliguei o celular e encostei minha cabeça na poltrona, estava na hora, tudo estava pronto. Eu precisava de uma boa noite de sono, mas a única coisa que tinha a minha disposição era um copo de café.

  Há um ano eu conheci os dez, estavam assustados e não sabiam como lidar comigo, e agora eu me tornei amiga fiel de cada um deles, uma confidente.

  Beberiquei um pouco do café e liguei para a única pessoa que sabia mais do que eu. Ao fim de três toques, o cientista mais bem dotado de toda a costa dos Estados Unidos atendeu.

  - Eric Hall falando, quem é?

  - Sou eu, Lygia. – Respondi.

  - Oi Ly, como você está? Ficou tanto tempo com os militares que se esqueceu dos velhos amigos? – Replicou Eric.

  - Já está pronto não é? – Perguntei nervosa com a resposta que receberia.

  Ouvi um suspiro do outro lado da linha.

  - O que você acha? Tivemos que correr com os preparativos depois da sua saída, e seus relatórios cada vez mais vagos deixaram todos preocupados. – Disse Eric.

  - A segurança deles está garantida? – Perguntei, já sabendo a resposta.

  - Você sabe que segurança é a única coisa que eles não terão. – Falou ele, com voz distorcida por conta do sinal.

  - E a nossa segurança? – Perguntei.

  Eric ficou em silêncio, eu sabia que ele estava pensando, ele sempre ficava quieto demais enquanto pensava.

  - Estamos seguros não é? – Perguntei mais aflita.

  - Eu não sei Lygia, eu não sei. – Exclamou Eric com secura. – Novos cientistas foram contratados para acelerar todo o processo, eu não posso afirmar com toda a certeza, eu não posso.

  Senti meu coração acelerar, nada podia dar errado nessa experiência, caso contrário, estaríamos condenados.

  - Você está bem? – Perguntei. Eric nunca foi muito normal, seu QI acima da média sempre fez com que parecesse diferente, mas ele sempre tinha certeza das coisas que fazia, ele sempre sabia todos os resultados possíveis para tudo.

  - Estou ficando maluco, Ly. – Gritou do outro lado da linha. – No começo eu sabia que estamos certos em fazer tudo isso, mas agora, depois de ver tudo isso, depois de ver eles...

  E eu sabia exatamente do que Eric estava falando. Fazia três dias que tinha voltado do laboratório, fazia três dias que eu não dormia direito, a imagem deles fazia meu estômago dar pulos.

  - Onde está Nikki? – Perguntei.

  - Levaram ela para longe, outro laboratório, para que não pudéssemos mais invadir os computadores de segurança. – Respondeu ele, com voz chorosa.

  Nikki é a irmã gêmea de Eric. Juntos eles podem fazer qualquer coisa, mas separados tornam-se frágeis, como se precisassem um do outro para pensar.

  - Ly, eu preciso desligar, mas tome cuidado, você sabe o que eles estão fazendo, não é mais o mesmo objetivo. – Falou o homem, e desligou.

  Não é mais o mesmo objetivo, será que alguma vez foi aquele o objetivo, ou tudo não passou de uma ilusão para nos enganar, provavelmente a segunda opção.

  Começamos com poucos patrocinadores, conheci Eric e Nikki pouco tempo depois que entrei na empresa, queríamos a cura de uma doença, mas uma doença que ainda não existia. Esse era o diferencial da pesquisa, estamos investindo em algo que iria acontecer, e quando acontecesse tudo estaria bem, pois teríamos o antidoto, mas não é tão fácil assim.

  Ficamos instalados em uma antiga fábrica de carros, localizada nos Estados Unidos, e lá começamos a desenvolver a doença. Os experimentos foram inicialmente em animais, mas percebemos que não surgia efeito em nenhum deles, foi quando começou a ficar estranho. Uma reunião foi feita com todos os patrocinadores, que duplicaram o número inicial, e todos concordaram que as pesquisas não podiam parar, tínhamos que ir além, tínhamos que usar humanos.

  Desde ai, as coisas alavancaram de uma forma intensa. O número de infectados cresceu, mas não conseguíamos mais prever os sintomas, até que um desses sintomas foi à morte do individuo. Paramos por ai, desanimados, até que de um dia para o outro, nosso cobaia volta à vida, mas o processo de decomposição dele não estava paralisado, nem mesmo sua fome.

  Estamos lidando com mortos-vivos. O presidente da empresa colocou em minhas mãos o treinamento de dez pessoas, para que se fosse necessário, eles caçariam os mortos.

  Hoje pela manhã, uma ligação foi feita, era necessário que a caça começasse.


Fenômenos EfêmerosOnde histórias criam vida. Descubra agora