Reunião

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  Esperei que todos os dez estivessem confortáveis em suas cadeiras para começar a reunião.   Ajeitava a cada cinco segundos as folhas de papel que continham as informações necessárias para a reunião.

  - Parece nervosa, está tudo bem? – Indagou Colin Shankman, os olhos azuis infantis brilhando de preocupação.

  Colin tem cabelos curtos e ruivos, é pequeno e magro, o mais jovem do grupo com apenas 22 anos. Foi recrutado por ter um ótimo desempenho em memorização de caminhos e por correr muito rápido.

  - Não esperava que essa reunião acontecesse tão cedo. – Admiti.

  Ele apertou carinhosamente meu ombro e foi para seu lugar, ao lado de Marjorie Pollack, uma loira corpulenta, que não tinha medo de absolutamente nada.

  - Boa noite. – Disse, chamando a atenção de todos para mim.

  Jonathan Johnson, mais chamado de JJ, parou de cochichar com Tess Rud e olharam ambos para mim.

  - O assunto que está em pauta hoje, é o que vem cozinhando suas mentes desde que aceitaram serem membros desta comissão. – Falei calmamente. – Vocês passaram por testes e treinamentos, que mostraram suas habilidades. Passaram por longas horas no psicólogo, que mostrou o quão perto da loucura vocês podem chegar, e o que venho aqui hoje pedir a vocês, está perto do pandemônio.

  Respirei fundo, e liguei o notebook, que mostrou na tela com o amplificador de imagens, a foto de uma antiga fábrica em ruinas.

  - Está é uma antiga e falida fábrica de automóveis, localizada em algum lugar dos Estados Unidos, e é ali que vai começar a sua missão. – Acrescentei.

  Um vento forte entrou pelas janelas, fazendo meus cabelos castanhos baterem em meu rosto. Ainda conseguia lembrar-se do rosto severo do chefe, e das palavras ainda mais rudes: "Eu quero que conte quantas mentiras forem necessárias, mas traga os dez".

  - Um grupo de cientistas que trabalhavam ilegalmente, criaram uma doença psíquica, capaz de matar e trazer novamente o ser humano de volta a vida, para que assim possa contaminar novos corpos. Quando o governo descobriu, era tarde demais, e o número de infectados passava dos cem. Mas graças a Deus, os indivíduos estão confinados na velha fábrica, onde o risco de saírem é quase nulo. – Falei a mentira pesando em minha mente.

  Esperei pelas reações, mas nada houve apenas o silêncio. Apertei o botão no notebook, e pude ver a expressão de assombro de cada um dos dez. A nova imagem era um dos infectados na fase larva, onde ainda não era tão absurda a aparência, mas não deixava de amedrontar. Os olhos estavam fundos, e veias azuis partiam do pescoço e iam até a ponta dos dedos, os dentes estavam amarelados e alguns já não existiam.

  - É contra isso que vamos lutar? – Exclamou Marjorie.

  Olhei para onde a loira estava. Seus olhos demonstravam medo, mas seu corpo parecia seguro de si.

  - É exatamente contra isso. – Confirmei. A coisa só estará um pouco mais violenta e decomposta, mas é contra isso que vão lutar, mal sabiam eles o que os esperava.

  Anne levantou de sua cadeira agitada, seus cabelos escuros presos em um rabo de cavalo apertado, deixando o rosto delicado de fora.

  - Eu não posso, não vou conseguir. – Disse Anne, perdendo o controle.

  Colin levantou e foi até Anne, abraçando-a.

  - Você consegue sim, fomos treinados para isso. – Colin interrompeu o acesso de pavor de Anne.

  Andrew suspirou, desinteressado.

  - Olha essas criaturas, Colin. – Atalhou Anne, apavorada. – Sabíamos que tínhamos que lutar com algo, mas nunca imaginei que fosse isso.

  Pigarreei, tentando chamar a atenção novamente.

  - Os infectados são facilmente destruídos, uma bala em seu cérebro e estão acabados. Não costumam correr e nem se esconder, são atraídos pelo som e pelo cheiro, mas são enganados com facilidade. – Disse.

  Tess Rud deu de ombros e se espreguiçou. George Bonaventura estava quase dormindo. A única que estava realmente agitada era Anne.

  - Viu Anne, vamos acabar com eles rapidinho, vai ser como nos vídeo games. – Falou o Colin sorridente.

  Adair Tooley levantou e veio até mim, seus ombros são largos e tem um ar misterioso.

  - Você mente mal. – Cochichou ele. – Só estou interessado na quantia que vamos receber ao fim disto.

  - Sobre o que estão falando? – Perguntou Anne ansiosa.

  Fiquei tensa, mas consegui sorrir.

  - Adair quer saber quando vamos partir. – Respondi.

  Ele sorriu e afirmou, voltando para o seu lugar.

  - Partiremos amanhã, logo após o amanhecer. Temos uma viagem de três horas até a fábrica. Portanto podem ir dormir. – Acrescentei, deixando claro que a reunião havia sido encerrada.

  Aos poucos, a sala foi ficando vazia. Colin saiu com Alice, sussurrando palavras confortadoras. Tess e Andrew foram logo depois, seguidos de Marjorie, August, Jonathan e George. Adair ficou os olhos atentos em cada passo meu.

  - Precisa de algo? – Perguntei.

  Ele tem cabelos escuros e os olhos ainda mais escuros.

  - Porque não nos conta a verdade? Está nos enviando para morrer. – Disse ele.

  Engoli em seco e coloquei as folhas dentro da pasta de couro.

  - Eu sei tanto quanto vocês, Adair. – Repliquei.

  - Não é o que parece. – Falou com voz rouca. – Boa noite Lygia, tenha bons sonhos.

  Ele saiu em passos lentos e preguiçosos, dando uma última olhada em mim antes de sumir de vista.

  Pelo menos não houve desistências, fui autorizada a matar qualquer um que se recusasse a ir, e não estava muito a fim de matar ninguém hoje. 

Fenômenos EfêmerosOnde histórias criam vida. Descubra agora