Complexo C

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Tempos atuais

  Estava ao lado do sargento Hasson Godfrey, seu peito estufado de orgulho. Os dez estavam colocando suas malas dentro do ônibus, todos vestidos com suas fardas.

  - O restante da quantia que lhe foi prometida cairá hoje à tarde. – Sussurrei num resmungo, cansada da presença daquele homem ganancioso.

  Ele sorriu e colocou uma das mãos em minhas costas, fazendo minha pele se arrepiar.

  - Todo esse dinheiro, e ninguém para gastar comigo. – Replicou ele, tentando fazer voz sedutora.

  Dei risada, fazendo com que todos os dez me encarassem.

  - Agora você é um homem rico. – Falei me afastando da gorda mão dele. – O que não vai te faltar é companhia.

  Fui até Anne, que estava com dificuldades em arrastar a mala. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo desalinhado, e seu rosto estava suado pelo esforço.

  - Precisa de ajuda?

  Ela me encarou por uns instantes e sorriu.

  - Acho que devia ter deixado algumas armas aqui, mas é que não consigo me desfazer delas. – Replicou Anne, com um sorriso meigo.

  Peguei na alça da mala e juntas começamos a arrastar a mala, que estava incrivelmente pesada.

  - Não precisava trazê-las. Terá um arsenal só seu lá. – Respondi.

  Anne piscou sonhadora, a garota parecia delicada, mas um de seus hobbies prediletos era tiro ao alvo, sempre acertando os lugares de maior pontuação.

  - Precisam de ajuda? – Perguntou August Kovanaugh, o vulcão. O homem tem mais de 1,85 de altura, com ombros largos e pesando mais de 100 kg.

  Sem esperar nossa resposta, ele pegou a mala e colocou nos seus ombros, indo em direção ao ônibus. Anne e eu nos encaramos e rimos. Vi o modo como ela olhou para o vulcão, observando cada movimento dele atentamente.

  - Quando é que você vai falar com ele? – Interrompi Anne em seus devaneios.

  Ela pareceu assustada, seus olhos negros saltando das orbitas. Por um momento ela pareceu negar, mas depois voltou os olhos apaixonados para o soldado.

  - Ele nunca vai prestar atenção em mim. – Anne suspirou. – Ele gosta é de Marjorie.

  Passamos por Colin, que batia um papo animado com Alice White, ambos pareciam afobados com algo.

  Depois de colocarmos todas as malas no ônibus, sentei-me ao lado de Tess e esperamos a partida. Durante o trajeto, pequenos focos de conversas foram brotando, até Tess pareceu animada em falar dos pais que estavam no Brasil, e de como ela sentia falta do irmão mais velho, que cursava direito em uma faculdade no Oregon.

  - Eu tenho medo de não poder mais conversar com eles, de tocar eles, de olhar... Minha família sempre foi minha maior preocupação, eu amo eles mais do que a mim mesma, e tudo o que eu quero é a sua segurança. – Refletiu por um momento.

  Tess olhava atenta pela janela, estávamos em um deserto quente, sem muito para onde olhar.

  - Quando me apresentaram esse programa, mesmo sem muitos detalhes, eu aceitei sem pestanejar, porque eu precisava proteger eles, independente do que estiver lá me esperando, eu preciso encarar, eu preciso salvar eles. – Falou Tess.

  Assenti, sorrindo. Tess Rud iria proteger a família dela, ela iria morrer pelos pais, e não parecia com medo e nem propensa a dar com o pé para trás. Essa era a primeira vez que não estava me sentindo culpada pelo meu trabalho, ela queria estar ali, mesmo sabendo dos riscos.

  - Seus pais ficaram em segurança, assim que tudo isso acabar. – Repliquei.

  Coloquei meus fones de ouvido e tentei cochilar, mas as imagens de tudo o que já passei com esse programa fazem meus pelos arrepiarem. Eu sabia que eles não eram os primeiros a serem enviados, e tampouco seriam os últimos.

  - Estamos entrando. – Gritou o motorista para o porteiro da fábrica. Quando coloquei meus olhos a primeira vez nesse lugar, fiquei encantada com sua magnitude. Com quatro andares extensos no prédio principal, tinha seis longos prédios afastados, a fábrica era quase uma cidade, por isso dividimos ela em complexos, que iam do A ao E.

  Era a primeira vez que conhecia este lado da fábrica, era a entrada dos fundos, era onde a mágica da criação estava apodrecendo.

  Descemos todos do ônibus, reparei nos olhares atentos em cada movimento. Meu tablet tremeu, e uma mensagem em formato de vídeo chegou, estava para começar.

  - Preciso que olhem para esta tela agora, daqui viram todas as informações que necessitam. – Disse o mais alto que consegui.

  Esperei que todos se reunissem a minha volta para apertar o play. Não conseguia olhar para a tela, mas sabia que era o chefe quem iria passar todas as informações.

  - Sejam todos bem-vindos ao complexo C, é aqui que sua aventura começa. – Comentou o tablet, a voz irônica.


Fenômenos EfêmerosOnde histórias criam vida. Descubra agora