I hate the proud

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Feuerschütte

Com o terno preto que as empregadas haviam recomendado, eu descia as escadas ao lado de Poffo até o primeiro andar. Ele carregava algumas pastas, que eram pautas que deveriam ser tratadas no Jornal Oficial desta noite para os telespectadores.

Vi Lucas, com o braço encostado em uma das paredes no corredor que ficava de frente para as portas de entrada para a sala de filmagens. Ele esperava sozinho ali, já que os selecionados não eram autorizados, sem nenhuma exceção a adentrar o cômodo antes da permissão de alguém da família real, o que era para ser uma regra que favorecesse para nós em uma espécie de revisão de pautas, entretanto, na maioria das vezes isso só me deixava mais nervoso lá dentro.

Ele me olhou, e sorriu meio de canto, com aparência de ignorância, talvez não porque quisesse, mas só porque nossos olhares se cruzaram em meio a todos os outros que estavam ali.

O som ambiente da sala tocava Thinking Out Loud do Ed Sheeran em tom baixo, o que fazia meu cérebro dançar e querer que meu corpo o acompanhasse ao ritmo dela.

"People fall in love in mysterious ways" Cantarolei, por momentos assimilando a música à Lucas, ao nosso complicado relacionamento.

Continuei no ritmo da música até subir no pequeno palco de filmagens, onde estavam dispostas as cadeiras reais e dos selecionados. Meus pais não estavam lá e aquilo me causava um certo estranhamento, mas tinha motivo. A regra é que, no dia em que é anunciado a escolha do príncipe pela "Escolha Final", ele deve apresentar o programa sozinho neste dia. Não que fosse algo incomum, já que meus pais já me fizeram apresentar o programa sozinho para, segundo a alegação deles, me acostumar com isso porque um dia terei de apresentar sozinho.

Parei atrás da bancada, que mais parecia de padre do que de um apresentador, e peguei uma das pautas que Luan havia deixado no canto da mesa, comecei a revisá-la, sem ler, apenas pensando nos temas que abortavam aquela pauta, apenas pelo nome principal.

Após um, não tão curto, não tão longo tempo terminei uma tentativa de uma rápida revisão das pautas da noite e avisei a um dos funcionários da sala, que abrisse as portas para que liberasse a entrada para os selecionados entrarem na sala.

"Boa noite, querida nação Illeá. " Fiz minha primeira tentativa de achar uma apresentação ao Jornal Oficial. "Boa noite cidadãos de Illéa. Boa noite, Illéa. "

Tentei de várias maneiras, alterando palavras, alterando posições, alterando tom de voz, mas nada estava dando certo, aparentemente.

Um dos diretores andava rapidamente com algumas pessoas pela sala, parecia nervoso.

"Temos 5 minutos! " Ele gritou, enquanto atravessava a sala em direção às câmeras.

Uma das funcionárias responsável por vestimentas e maquiagens se aproximou de mim, verificando minha roupa e concertando os lugares que já estavam com pequenos ou grandes erros à mostra, deixando tudo perfeito.

O diretor continuava correndo pela sala e gritando, de tempos em tempos, quanto tempo ainda restava e aquilo só me deixava mais nervoso, por final, ele contou, regressivamente da cabine de filmagem de 5 à 1 e eu me posicionei, com os olhos na enorme lente da câmera.

Minha mão direita foi ao peito no momento em que o brasão de Illéa apareceu sobre a tela, ao som do hino nacional por sua duração.

"Boa noite cidadãos de Illéa. " Falei a primeira saudação que viera à minha cabeça no momento em que o hino se encerrou. Eu continuava sem jeito e sem ideia de como daria saudações e iniciaria o Jornal Nacional, de alguma forma, não gostei da forma que fora.

O Jornal se desenrolou rapidamente e eu fui perdendo o nervosismo por durante dele, finalizando-o com total conforto.

Olioti

Lucas, o príncipe saiu do palco rapidamente e seguiu pelas portas, nos tirando a visão de seus passos. Saí logo em seguida, percorrendo o corredor que levava as escadas dos quartos direcionados aos selecionados.

Em partes, eu estava totalmente afim de continuar ali, de lutar por Lucas, e sua apresentação me lembrava disso. Eu tinha extrema vontade de ter aquele sorriso comigo todas as noites, de arrancar aquele sorriso de seu rosto em momentos estressantes inesperadamente, eu queria. Mas haviam tantas coisas me impedindo, coisas que, em grande parte, eram suas próprias ações.

Lembrei, em um flash de segundos em minha cabeça do beijo que demos na praia naquele dia, seus doces e macios lábios tocando os meus e transmitindo maravilhosas sensações.

Abri a porta bruscamente e a fechei em seguida. Me dirigi logo até o banheiro para me trocar daquela roupa ridícula e nada confortável e colocar algo normal.

"Senhor? " O mordomo adentrara o quarto e me chamava. Respondi apenas com um som, mostrando que estava presente no quarto, e ouvindo o que falava. "A rainha solicita sua presença no jardim. "

Me surpreendi com o que havia dito, não imaginava nada parecido. Antes de pensar em colocar outra roupa que não fosse aquela, continuei com a mesa para não ter de trocar para outra.

Abri a porta do banheiro, que dava para o quarto e ele já havia saído, fiz o mesmo sem custar muito tempo e desci as escadas até o andar térreo.

Carmem me esperava do lado de fora em um dos bancos, tomando conta dos fios de seus cabelos loiros que voavam com a brisa do vento do jardim. Parei em frente a ela e executei uma reverência cuidadosa demonstrando respeito.

"Senhor Olioti? " Ela questionou, embora com certeza soubesse quem eu realmente era. "Nós precisamos conversar um pouco. "

Andamos, com os braços entrelaçados, sob a luz do sol que nos fazia manter os olhos levemente fechados. Andamos e falamos sobre tudo, tudo o que se podia imaginar, passamos longo tempo debatendo, comparando ideias, concordando em vários aspectos.

"Partindo ao assunto que eu queria falar com você. " Ela mudou de assunto rapidamente, tomando outro caminho. Um caminho desconhecido para mim. "O que você pensa sobre Lucas? "

Suspirei fundo antes de continuar a conversa.

"Com todo respeito, eu amo seu filho. Meu amor por seu filho é imensurável e ele sabe disso. " Falei, soltando respirando e dando algumas paradas para enfatizar. "Mas eu não sei se quero ter uma relação com ele, não tenho certeza disso. Ele me magoou. É a seleção, eu sei, ele tem que ficar com os outros selecionados, mas eu pensei que seria diferente. "

"Só queria tentar te preparar. Não sei se estou obtendo sucesso. " Ela disse e tirou a franja de seus olhos para observar ao redor.

"Me preparar? "

"É! " Respondeu, até ter que completar por notar que eu continuava sem entender totalmente. "Não seja tão 'tanso', Lucas. Todos já sabemos que é a você quem ele escolherá no dia da cerimônia. Ele o ama, tão intensamente... " Disse, após deixar a conversa em aberto, como se não pudesse medir aquilo.

Eu também o amava, com todas as minhas forças. Eu deveria dizer isso? Eu não deveria dizer isso?

"As palavras saem quase que naturalmente da boca dele. Todos os elogios que ele já fez a você, todas as vezes que fala sobre você, todas as vezes que você está sendo citado na conversa. " Ela continuava a dizer. "Os olhos dele brilharam quando eu disse, finalmente, que apoiava vocês dois. Porque eu apoio, eu quero vocês juntos. Eu quero meu filho feliz, mais que tudo! "

Ela abriu um sorriso em seu rosto e ficou observando as flores de longe, no jardim. Aquilo me deixara com um pedaço sem sentido. Em partes eu me sentia idiota, só queria correr até ele e pedir desculpas de tudo. Mas eu não o fiz, não conseguia. Tudo pelo orgulho.

Não sei como posso odiar algo que não existe. Mas eu o odeio. Eu odeio o orgulho.

Pn

The Boy Who Changed EverythingOnde histórias criam vida. Descubra agora