Princípios, Dezembros e Fins

A Beleza dos Fins

Théo deixa escapar um sorriso irônico de canto de boca, com um ar machista, visível mente debochando do plano de Alice, enquanto Jaime, apenas temia pela sua segurança.

Ela não deixou por menos, e desafiou os dois, os intimando a bolarem um plano melhor, o que foi uma perda de tempo, visto que ela era o "cérebro" entre os três.

Sem sucesso, o jovem recruta e o experiente ex-tenente decidiram topar participar do plano da ruiva, já que se viram sem outra opção para ajudar Lorenzo e salvar o garoto. Era uma tentativa arriscada, mas necessária.

Enquanto eles recuaram, ela estava caminhando no meio da avenida, aparentemente segura e muito determinada. Ela definitivamente não parecia uma ameaça, estava mais para uma convidada da festa.

Um passo atrás do outro, sempre à frente e decisivo. Antes que a sua presença pudesse ser notada, ela já podia ouvir o som do motor do carro do exército se aproximando, e isto lhe dava a sensação de que ela não estava sozinha, o que não significava exatamente uma cobertura, ou uma retaguarda.

Ao olhar para trás, de longe, Théo diminui a velocidade e com uma das mãos no volante e o fuzil sobre apoio do peito, faz um sinal estratégio. Jaime com seu binóculo pendurado no pescoço, sempre prevenido, faz um sinal positivo com a cabeça, já que as mãos estavam ocupadas com uma metralhadora e muita munição, em seguida, prestou continência.

Alice torna a olhar para frente, avançando da posição onde estava. Era impossível não ficar tensa, enquanto as lembranças curtas e espaçadas dos últimos meses estavam invadindo os seus pensamentos desordenados. Ela sabia que a felicidade existia, mas não tinha endereço fixo, e agora ela estava ali, bem na sua frente mais uma vez, e não menos arriscada. Ela a deixaria escapar?!

Alice segue em frente, como quem procura a felicidade, até seus olhos castanhos cruzarem com os pretos de Lorenzo, que os reconheceriam mesmo tendo o rosto envolvido por um véu mulçumano ou um lenço brasileiro.

Lorenzo estava se abaixando devagar, prestes a encostar sua arma no chão, vítima de uma chantagem de um pequeno grupo de rebeldes, que tomaram Rachid como refém.

Rachid com a sua graça de menino, espontânea mente conquistou a empatia de Enzo, ganhou a sua amizade, e tinha toda a sua cumplicidade e fidelidade. Mais uma vez ele estava provando o seu caráter e a sua nobreza.

Na praça central, o garoto inquieto juntou seus joelhos contra o peito e abraçou suas pernas, ficando sob a mira do Rebelde que parecia liderar outros dois "capangas". Ele tinha características peculiares que lembravam Braga, e isto fez Lorenzo pensar que havia uma chance de negociar com ele, já que depois de passar meses no quartel, estava acostumado a lidar com corjas.

O líder dos patifes estava de frente para Lorenzo, que estava de frente para a avenida em direção ao ginásio, enquanto tentava desesperadamente ser frio e racional, apesar de que ver uma pistola apontada para a cabeça de uma criança em plena praça central, definitivamente não era uma cena comum para ele, mas em tempos de guerra, as leis parecem não existir. São simplesmente ignoradas, diante de uma busca desenfreada pelo poder.

Era assim que os rebeldes costumavam se sentir: poderosos e buscavam diariamente essa sensação, mesmo que ela custasse sangue inocente.

Lorenzo de imediato, acreditou estar delirando, e que a imagem de Alice, não passava de uma miragem, mas logo lembrou do artigo dobrado e guardado em seu bolso, levando a sua assinatura. Então teve certeza de que ele estava errado, e ele nunca desejou tanto estar certo! Duas das poucas pessoas pelas quais ele colocaria sua vida em risco sem hesitar, estavam correndo perigo agora.

Ela chegou ali com a serenidade de quem não quer nada, apesar de sentir o estômago embrulhar. Os homens se olharam, aparentemente confusos. Um dos integrantes do grupo rebelde se aproximou dela, que estava estrategicamente posicionada, como em uma reta matemática, ficando de frente para Lorenzo, e deixando o garoto e o patife no centro da operação.