Primeiro dia de aula

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O despertador tocava, incessantemente, não me lembro de ter programado, deve ter sido a Sra. Carmem. Aos poucos, fui abrindo os olhos, a luz entrava pela porta de vidro e iluminava, timidamente, o quarto. Estiquei o braço e desliguei o despertador, que marcava sete em ponto. No internato, eu costumava acordar meia hora depois, talvez por isso, os meus braços e pernas estavam tão pesados, querendo me trair. Levantei, vagarosamente, até sentar na cama, Michael ainda dormia, profundamente, como quem trabalha duramente a madrugada.

Fiquei de pé, deixando que a minha visão ficasse lúcida o bastante para que eu pudesse me mexer, e comecei a dar os primeiros passos rumo à varanda. O céu estava meio acinzentado, com algumas nuvens que o escondiam, o sol tentava chegar à Terra por qualquer fresta. As pessoas já começavam a sair das casas e a retomar os seus típicos afazeres de segunda-feira. Espreguicei-me, entrelaçando os dedos e esticando os braços para cima, bocejando logo em seguida. Um menino, que passava na rua, ficou parado, me olhando com uma cara meio esquisita, presumi que minha expressão estava assustadora, o que me fez voltar para dentro.

- Meninos?! Vocês já acordaram? – interrogou uma voz, do outro lado da porta.

Michael abriu a porta, era Melanie, já com roupas normais, aos seus pés, alguns gatos que miavam felizes, pareciam querer nos dar bom dia.

- Bom dia, rapazes - começou ela – desculpe ter batido na porta. Não quero que cheguemos atrasados na escola, pois quero apresentar uma pessoa importante.

- Oh, tudo bem. Bom dia. – respondi. Melanie saiu logo em seguida.

- Quem você acha que é? – me perguntou Michael.

- Não faço a mínima ideia, - respondi – mas espero que não seja nenhum professor.

Não que eu tivesse algo contra professores, todavia, preferia não ficar muito próximo deles, porque acreditava que, desta forma, eles não me fariam perguntas em sala - baseados na suposição que eu era um CDF. Porque, por algum motivo que eu não sei explicar muito bem, todo aluno que um professor consegue ficar amigo, é, automaticamente, considerado um CDF. Talvez seja, somente, paranoia da minha cabeça, ainda assim, preferia não tirar a prova.

Pegamos nossas toalhas e escovas e saímos pelo corredor, não tinha quase nenhum gato, creio que a Sra. Carmem estava colocando a ração deles. Chegamos quase no fim do corredor, e parei, automaticamente.

- Onde é o banheiro? – perguntei espantado.

Michael, de forma bastante natural, continuou até o fim do corredor e entrou na última porta, com um sorriso malicioso na cara. Com certeza, perdi essa parte da aula de "anatomia" da casa. Resolvi descer, para beber um copo d'água, estava somente de pijama, porém confiei na minha toalha como escudo, em caso de possíveis olhares. Desci as escadas e atravessei a sala, que também possuía poucos gatos. Ao chegar à cozinha, minhas suspeitas foram confirmadas - a Sra. Carmem colocava ração para os gatos. Quando a percebi, segurei a toalha sobre o meu peito, deixando que escorregasse sobre o meu corpo.

- Bom dia. – falei. Ela me olhou por alguns instantes, com uma reação meio espantada.

- Bom dia, Jimmy. Michael já acordou?

- Já, ele está tomando banho, eu vou fazer o mesmo, logo que ele sair.

- Ok!

A Sra. Carmem vestia outro vestidinho, dessa vez, era verde, estampado com pequenas flores cor-de-rosa; nos pés, uma sapatilha creme, que lembrava bastante o formato do que ela usara ontem. Fui até a geladeira, quase cai com os gatos que se amontoavam pelo piso. No armário ao lado, estavam alguns copos, cada um de uma cor e com um desenho particular, peguei um amarelo que tinha algumas estrelas desenhadas. Abri a geladeira, que estava bem preparada com mantimentos e peguei um litro de água, após beber, me dirigi em direção à pia. Foi quando um gato passou correndo pelos meus pés, me impedindo de dar um passo. O meu corpo continuou com o impulso que eu lhe dera, de modo que eu caí no chão, fazendo o copo voar e se quebrar em cima da pia.

Jimmy Stuart e O Livro dos Anos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora