Sem saída

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O espelho do banheiro revelava o meu cabelo, totalmente, armado e, dentro dele, uma pequena folha esverdeada que eu desconhecia a origem. Peguei a folha e fiquei analisando-a, em meus dedos, por alguns segundos. Ela só poderia ter caído de alguma das árvores do quintal, mas será que ela ficara em meu cabelo todo este tempo? Ao menos, acho que ninguém a vira, pois não falaram nada, a não ser Michael. Eu o castigaria, se não tivesse me avisado.

Joguei a folha no lixeiro e entrei no boxe do banheiro. A água, como já era de se esperar, estava, um pouco, gelada. Peguei o sabonete, muito cheiroso por sinal, e comecei a passá-lo em meu corpo. Fiquei espantado, quando passei o sabonete em minha perna direita e percebi uma pequena elevação, não tão alta, em meu tornozelo direito. Levantei o meu pé, de modo, que eu pudesse observar melhor o meu tornozelo e, por incrível que pareça, lá estava a mesma inscrição alienígena que eu visualizei em meu sonho. Passei a mão, novamente, no local, belisquei-me, fortemente, porém o sonho já havia acabado. Fiquei parado, tentando entender como era possível, não podia acreditar que tudo o que aconteceu fora verdade. Duendes não existem, pensei, nem unicórnios, nem... um frio subiu pela minha espinha, só de pensar no que havia corrido atrás de mim. Eu, certamente, estava ficando louco, era, somente, uma alucinação. Como três duendes vieram parar no meu quarto e me levaram para uma floresta, com unicórnios e criaturas esquisitas?

- Jimmy, eu preciso banhar! – Michael voltou a bater na porta, impaciente.

Terminei o meu banho, estava, totalmente, desvirtuado do que acontecia, como iria explicar aos outros? Talvez, me chamassem de esquizofrênico, diriam que eu ando me cortando - que situação. Vesti o meu roupão, abri a porta e fui expulso do banheiro por Michael, que não percebeu a minha cara de preocupação. Caminhei até o quarto, entrei e vesti a roupa. Na rua, que passava lá embaixo, nada além de pessoas e alguns animais domésticos, nada sobrenaturais. Como era possível que isso estava acontecendo? Passei os dedos, novamente, no tornozelo, a palavra, ainda, estava lá. Sentei na cama e olhei ao meu redor, me senti, como se tivesse sido sequestrado e levado para um lugar desconhecido, tudo era tão inexplicável.

Os gatos já estavam agitados pela casa, alguns corriam ao nosso encontro e desviavam, antes que nos atropelassem. Na mesa, Melanie já nos esperava, impaciente. A Sra. Carmem sorria, discretamente, da agonia da neta. Havia muitos bolos e frutas, Michael não hesitou em sentar-se à mesa e se servir, rapidamente.

- Vocês dormiram bem, Jimmy? – falou a Sra. Carmem, com um sorriso no canto da boca. – Vocês demoraram a acordar hoje! – disse ela.

As palavras da Sra. Carmem, fizeram-me lembrar do que aconteceu na noite passada. Olhei-a, felinamente, sabia que não tinha visto errado, a inscrição no meu tornozelo, era a prova de que não estava louco ou, ao menos, não tanto quanto aparentava.

- Foi uma longa noite! – respondi. Se Michael não estivesse tão entretido com a comida, com certeza, ele me faria um interrogatório! – conheci muitas coisas novas, talvez mais do que a razão humana possa explicar!

A Sra. Carmem manteve o seu sorriso malicioso, ela, agora, olhava para a sua xícara, como se soubesse o que estava passando comigo. Melanie a olhou, procurando alguma coisa, que pudesse esclarecer o que eu havia acabado de falar. Continuamos a comer, agora todos estavam em silêncio, apenas os gatos e alguns passarinhos, do lado de fora das janelas, chamavam a atenção. Michael comia, como um leão que acabara de livrar-se de uma jaula.

- Faltam, apenas, dez minutos. – falou Melanie, olhando no relógio, antigo, da parede. Ela começava a levantar-se, o que significava, que a nossa refeição tinha acabado.

No fundo, eu sabia qual era o, verdadeiro, motivo para Melanie estar apressada. Ela não via a hora de encontrar Adam. Eu não conseguia entender como eles conseguiam ficar tanto tempo agarrados. Levantamos. Michael ainda ousou dar uma última mordida em uma fatia de bolo. Melanie deu um beijo na Sra. Carmem, enquanto eu colocava a mochila nas costas. O céu estava bastante denso, um vento gélido percorria as ruas, as quais, não estavam menos povoadas esta manhã. As casas estavam molhadas, delas, fluía um cheiro de madeira, que não era ruim.

Jimmy Stuart e O Livro dos Anos (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora