"Pode demorar, mas as feridas sempre se transformam em cicatrizes.
Lucas Rigozzi.".
LUCAS
A saudade apertava, contraía meu coração. Fazia poucas horas que eu havia saído de São Paulo, é verdade, entretanto, parecia que fazia anos. E além do mais, se eu tinha certeza de alguma coisa naquele momento, era que nunca mais colocaria os pés na cidade em que cresci.
A primeira coisa que senti ao descer no Galeão, foi a diferença na atmosfera e a alegria dos cariocas. Na contramão de São Paulo, onde o clima estava ameno e fresco, no Rio, a temperatura era agradável, quase quente, eu diria. E isso não passou despercebido aos olhos de Janaína Felisberto:
— É isso que eu chamo de cidade! — exclamou ela, rindo e livrando-se da blusa de frio. — Sol, praias, calor, gente bonita...
— Tiroteio, favelas, tráfico de drogas, assassinatos...
— Você cala a boca! — ela me fuzilou com os olhos. — Ninguém fala mal da minha cidade na minha frente!
Dei risada, lembrando-me das inúmeras vezes em que fiquei puto quando alguém falou mal de São Paulo perto de mim.
— Brincadeira, amor — agarrei minha amiga. — Fala a verdade, você vai sentir saudade do frio de Sampa, não vai?
— Tá amarrado no sangue de Jesus que tem poder! — rebateu Janaína, certamente recordando a frente fria que enfrentamos na última semana do treinamento. — Aquele lugar não deveria se chamar São Paulo, deveria se chamar Sibéria.
— Tão exagerada — revirei os olhos.
— Ela tá certa — Alícia se meteu. — Cara, a gente teve que usar duas blusas! Tem noção disso, Lucas?
— Porque são frescos — peguei minha mala, ou melhor, a mala que Gustavo me emprestou. — Não tava fazendo tanto frio assim, vocês é que são moles pra caralho.
— Você que tem couro de jacaré — alegou Betinho, pegando a bagagem também. — E nem adianta retrucar, somos três cariocas contra um paulista.
— Eu nem ia falar nada! — ergui as mãos em sinal de rendição. — Mas que vocês são moles e frescos, vocês são!
Luciana nos recebeu de braços abertos, literalmente falando. Animada e feliz com nosso regresso, ela fez questão de abraçar a todos, como se fosse uma mãe recebendo a visita dos filhos que há muito não encontrava. Fiquei impressionado com a receptividade de nossa gerente.
Falamos muito no percurso até o Barra Shopping. Sem disfarçar a curiosidade e o interesse, assim que entramos na van, Luciana nos obrigou a contar o que achamos do treinamento, do hotel, de São Paulo... falamos todas as novidades, fazendo a gerente gargalhar ao saber que enfrentamos temperaturas baixas. Fui o único da equipe que não se importou com isso, afinal, eu estava acostumado e adorava o frio paulistano.
— Então, é isso — Luciana bateu a porta da van ao descer no estacionamento do shopping. — Obrigada pelo comprometimento de todos, sejam bem-vindos à empresa.
— A gente começa amanhã? — quis saber Renato, o rapaz que dividiu o quarto do hotel com João.
— Que nada, vocês têm a semana inteira de folga — ela sorriu para nós. — Nos vemos na próxima segunda-feira, cada um em seu respectivo horário.
Gostei disso. Pelo menos, no decorrer daquela semana, eu poderia descansar um pouco e tentar me refazer do golpe psicológico que sofri ao procurar minha mãe. As feridas da rejeição ainda não estavam cicatrizadas, talvez não ficassem nunca. Eu precisava de tempo para colocar a cabeça no lugar.
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Marcas do Passado: Cicatrizes da Alma - (EM DEGUSTAÇÃO)
RomanceLucas sofreu mais uma decepção em sua vida, ao ser rejeitado por sua mãe. Com o coração em frangalhos, o jovem volta ao Rio de Janeiro e é ao lado de seus amigos que ele tenta dar a volta por cima. O que Lucas não sabia, porém, era que a vida lhe...