PARTE TRÊS - Biscoitos de Natal

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Julionetos me encara quase o tempo todo enquanto realiza suas funções de porteiro. Me sento em uma das poltronas da recepção depois de perceber pelo olhar dele que ele me amarraria na cadeira se eu tentasse sair.

Em cinco minutos, Olaf está de volta, usando uma calça preta, um casaco cinza e um cachecol vermelho.

– Obrigado, Julionetos – ele agradece apressado. O porteiro apenas assente em resposta.

Olaf vai até mim e toma minha mão – é sério, ele tem que parar de fazer isso –, me puxando para fora do prédio. Passamos pela porta giratória tão rápido que ela fica girando mesmo depois de já estarmos do outro lado da rua.

– Pode me dizer aonde vamos agora? – pergunto, puxando minha mão depois de me dar conta que ele se esqueceu de soltá-la.

– Podemos ir a qualquer lugar. Mas primeiro vamos na senhora do biscoito, porque estou morrendo de fome. E depois, tenho uma surpresa para você.

– Uma surpresa pra mim? Nos conhecemos há vinte minutos. Como pode ter uma surpresa pra mim?

– Penso rápido. Vem.

Ele atravessa a rua – sem sair me puxando dessa vez – e eu o sigo.

E eu o sigo...

Conheci um cara há minutos e agora ele quer me fazer gostar do natal, e eu estou seguindo ele pela cidade.

O que eu tenho na cabeça?

Olaf empurra uma porta de madeira e vidro, ao lado de uma vitrine com luzes brancas de natal, e nela está escrito "Ristorante pezzo di paradiso". Acho que é italiano. O garoto entra, e segura a porta para que eu entre também.

Uma senhora rechonchuda, com cachinhos loiros vem na nossa direção, e abraça Olaf.

Mio caro*¹, estava achando que você não viria mais. – Ela dá uns tapinhas nas costas dele, e então repara em mim. – Quem é essa bella ragazza*²?

– Essa ragazza – Olaf diz, soltando a mulher e se virando para mim – se chama Izzy. Mas não é Izzy de Isabela. É Izzy de Izzy, mesmo. E ela não gosta do Natal. A minha missão, como papai Noel voluntário e um amante do natal, é mudar essa opinião.

– E a trouxe aqui para comer dos meus biscoitos, não é?

– Com certeza.

– Bom, espero que goste, Izzy. E, do jeito que esse garoto é, até meia-noite você vai estar adorando o natal.

Acho difícil. Mas sorrio para a mulher.

– Jullios, arrume uma mesa para esses giovane*³.

Um garçom surge do nada, e nos guia até uma mesa no fundo do restaurante, onde há uma grande e brilhante árvore de natal.

Assim que nos sentamos, Olaf pergunta:

– O que houve com você? Quero dizer, você não gosta do natal, então deve haver um motivo, não é?

Eu nunca falei disso para ninguém, porque ninguém nunca me perguntou. E talvez seja por isso, por ter mantido essa história comigo por tanto tempo, que a chance de me abrir parece tentadora.

– Tem, sim, um motivo. – Suspiro, pensando em que palavras usar para contar a um estranho que meus pais me abandonaram no Natal. – Quando eu tinha cinco anos, na noite do Natal, os meus pais foram embora. Eles eram jovens, e inconsequentes, e me deixaram sozinha em casa. Não demorou muito até alguém da família perceber que havia algo estranho. – Faço uma pausa, levantando a cabeça para ver a reação dele. A expressão em seu rosto não é de pena, mas ele parece tocado pela história. – Eu moro com os meus tios, que não gostam muito de mim, e só deixam eu morar na casa deles porque não há outro lugar onde eu possa ficar.

– E por isso você não gosta do Natal – ele conclui o óbvio.

Começo a sentir que ele disse isso apenas para que eu não precisasse dizer.

– Entendi perfeitamente, Izzy de Izzy. – A voz dele é calma, e doce até. Observo sua mão deslizar devagar pela mesa em direção à minha. – Seus pais não sabiam o significado do Natal, e fizeram algo horrível com você. Mas isso não significa que você tem que parar de acreditar. – Seus dedos quentes acariciam minhas mãos frias. E desta vez eu não desejo que ele me solte.

– Eu não consigo mais acreditar, Olaf. – Sinto que as lágrimas que se acumulam nos meus olhos não vão aguentar mais sem escorregar pelas minhas bochechas.

Ele não diz nada. Parece estar pensando.

– Quero pedir algo a você, Izzy – ele diz, olhando para nossas mãos unidas. – Prometa pra mim que vai me deixar tentar fazer você acreditar outra vez. Me dê até a meia-noite para salvar seu natal.

Olaf me fita com seus intimidantes olhos verdes, esperando uma resposta.

1 - Meu querido
2 - Bela moça
3 - Jovens

Até Meia-Noite para Salvar o NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora