Os tempos da faculdade

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Escrevi um capítulo muuuuito grande, peço desculpa, mas é importante para a história. Não dividi o capítulo em vários porque assim perdia o efeito desejado.

POV Sam
Tinha ido para a UCL estudar filme, andava sempre a mudar de casa e de uma escola para a outra por causa dos empregos dos meus pais, mas finalmente tinha assentado. Aluguei um apartamento não muito longe da faculdade e cá estava eu na UCL, a viver sozinha em Londres, já era sem tempo. As aulas tinham começado e eu andava com a minha câmara fotográfica atrás sempre preparada para tirar fotos bombásticas. Num dos primeiros dias de aulas reparei que uma rapariga de cabelos castanhos e que parecia bastante reservada, andava a colar folhetos em toda a parte que era sítio na faculdade e eu por pura curiosidade fui ler o tal papel e reparei que era uma oferta para partilhar um apartamento, dividindo todas as despesas pelas duas pessoas que cohabitariam e parecia urgente, mas não me interessou e por isso continuei a minha vida, indo a aulas de cinema entre outras, a discotecas, passeando por Londres, visitar lojas e estudar, a minha vida estava bastante preenchida ou assim pensava eu até a conhecer.
Um dia ela encontrava-se encostada a uma árvore a ler um livro que aposto que seria secante, pois já não era a primeira vez que a avistara a ler e trazia sempre um livro diferente e grosso, todas as manhãs a vi-a ali, até colocaria as minhas mãos no fogo que ela é marrona. De repente presenciei o momento perfeito para uma fotografia, a luz estava a fazer um trabalho magnífico a salientar a beleza da rapariga, estava mesmo no ponto.
Fui ter com a minha musa com a maior tranquilidade do mundo mesmo que estivesse com pressa pois bastava uma mudança qualquer para a foto já não ser perfeita.
"Olá!" Disse alegre, a rapariga por sua vez levantou a cabeça que estava emersa no livro, olhou para mim mordendo o lápis que provavelmente usava para sublinhar factos importantes do livro e depois olhou para ambos os lados.
"Estás a falar comigo?"
"Sim estou a falar contigo." Ri-me. "Com quem mais, não é verdade? Estamos sozinhas." Ela soltou um pequeno sorriso, como se quase tivesse sido um esforço enorme para ela. Pelo seu sotaque percebi que ela era daqui de Inglaterra. "Gostava de saber se te podia tirar uma fotografia rápida."
"Bem... Acho que sim... Não deve haver nenhum inconveniente em concretizar o teu desejo, por isso força..."
"Obrigada!!!"
Afastei-me uns quantos metros e apontei a câmara em sua direção, a britânica não sabia como se havia de posicionar, até era fofo.
"Podes continuar o que estavas a fazer! Não me deixes interromper."
"Oh, okay!" Dito isto ela voltou à leitura como eu lhe dissera para fazer. Ela estava bastante bonita e deu-me muito prazer tirar esta foto. Fui à galeria da minha câmara e lá estava a foto, completamente sem falhas. Aproximei-me de novo da rapariga ao ter acabado a minha tarefa.
"Obrigada, já tirei a foto, se quiseres posso enviar-te por e-mail."
"Iria adorar, obrigada!"
"Já agora chamo-me Samantha Nishimura, mas podes chamar-me Sam. Prazer."
"Croft... Lara Croft."
"Tens um lindo nome!"
Fi-la rir e por estranho que pareça isso fez-me sorrir também. Trocámos contactos e quando dei por mim éramos mais próximas do que nunca, saía-mos, íamos para a biblioteca e estudávamos, apesar da Lara não estudar muito devido à minha presença pois eu estava sempre a distrai-la, também íamos a algumas discotecas, porque why not certo? Somos novas temos de viver a vida, mesmo que eu compreendesse que devido aos muitos e variados trabalhos da Lara, nós não pudéssemos ter a total liberdade de diversão.
"Vá lá Lara, não podemos ir beber um café ou algo assim? Demora tipo 5 minutos."
"Sam desculpa, mas eu estou muito atarefada aqui na biblioteca, não posso dar-me ao luxo de sair assim."
"Não acontece aqui nada. Que mal poderia acontecer por saíres durante alguns minutos?" Perguntei-lhe andando atrás dela enquanto levava um monte de livros nas mãos para organizar pelas estantes, depois olhei para toda a área possível e não havia ninguém, nesta altura do semestre não havia quase ninguém na biblioteca.
"Eu preciso deste trabalho Sam, fica para outra altura. Ainda não consegui nenhuma companheira de casa e estou a pagar as contas sozinha e mais as propinas, não tenho tempo para beber café, entendes?!" Ela parecia deveras stressada.
"Mas olha que te fazia falta um, ou cinco. Andas demasiado tensa."
Observei-a suspirar e finalmente cedendo.
"Pronto, está bem, mas só quando acabar o meu turno aqui é que posso."
"Eu espero, não há espiga." E assim fiz, fiquei mais três horas a passear pela biblioteca até a Lara ter acabado o seu turno, graças a Deus.
Fomos lanchar a um dos cafés da faculdade e a minha amiga parecia tão desesperada por mal conseguir pagar as contas, senti tanta pena dela, eu gostava dela, queria passar toda a hora com ela e vê-la em pânico acabava por me stressar também. Enquanto ela comia um croissant eu estivera a pensar em todas as soluções possíveis e tive a melhor ideia alguma vez concebida.
"Lara, e que tal se eu fosse viver contigo?" Aquelas palavras soavam de maneira diferente e mais sérias na minha mente. Ela ficara a fitar-me, imóvel e muda.
"Está bem... Estou a ver que foi uma má ideia. Esquece."
"Não Sam, não é isso, muito pelo contrário! Foi uma ótima ideia, estava a ver que nunca mais perguntavas. Eu até queria convidar-te mas não tive a coragem."
"Oh!!! A sério?? Fixe..." Fiquei super constrangida, o que não era habitual, podia jurar que estava vermelha, mas afastei esse pensamento. "Quando começamos?"
A partir daí foi só caixas e malas para mudar para o apartamento da Lara, ao mesmo tempo com o tentar acostumar-me a viver um pouco mais longe da faculdade do que eu estava habituada. De resto era só diversão e bons momentos passados com a minha melhor amiga. Ela já não tinha tantas dificuldades a pagar as contas e eu passava mais tempo com ela, ganhava-mos as duas, só não entendia o facto dela não usar a sua herança para lhe facilitar a vida, ter de estar sempre a trabalhar e estudar parecia demasiado exaustivo, falo por mim, eu não conseguiria fazer as duas coisas e ainda ter tempo para me divertir.
Pelo segundo semestre do primeiro ano a Lara arranjara uma namorada, sim uma namorada... Não acho que fosse só impressão minha, mas ela já não tinha tempo para mim, só para a Nichole e acabei por fazer o mesmo e arranjar um namorado, é surpreendentemente fácil quando nos vestimos de forma provocadora. Ele era o rapaz mais estereotipado que conheci e um dos mais populares na UCL e passei a também ser popular, era agradável, mas já não andava com a Lara, mesmo que não fosse popular não poderia estar com ela, não queria fazer de vela. Às vezes via as duas a passear pelos corredores da faculdade, enquanto que eu e o John ficávamos nas escadas a curtir. Focava-me mais na Lara, ela às vezes também ficava a olhar para mim, mas era como se já não nos conhecêssemos, éramos duas raparigas que viviam juntas e já pouco falavam. Sentia a falta dela e aquela Nichole estragara tudo.
Comecei a levar o John para minha casa/casa da Lara, não queria saber do que ela iria pensar, afinal de contas ela também levara a Nichole lá para casa algumas vezes, ficavam na sala a fazer não sei o quê e nem me interessava, eu limitava-me a ficar no quarto. Um dia chegara ao apartamento e lá estava a Lara sentada na mesa da cozinha a estudar.
"Olá."
"Olá Sam, finalmente chegaste." Ela levantou a cabeça do livro e depois franziu a testa. "Não sabia que trazias visitas."
"Oi! Sou o Josh, o namorado da Sam." Ele aproximou-se da Lara e levantou a mão.
"Sim já tinha dado para perceber. Lara." Apertaram a mão e depois ficámos ali parados sem dizer nada.
"Nós vamos para o meu quarto, até logo." Virei-lhe as costas e depois a Lara chamou por mim.
"Espera... Sam, podemos falar?"
"Josh espera por mim no meu quarto está bem?" Ele lá foi e deixou-nos, cruzei os braços e fiquei à espera do que ela tinha para dizer.
"Sam, porque é que trouxeste esse rapaz para cá para casa? Sem ofensa..."
"Desculpa por trazer o meu namorado para minha casa, porque tu nem fizeste o mesmo antes."
"Agora estás a trazer a Nichole para a conversa?! Nós nem fazemos nada se é que me entendes."
"E com isso estás a insinuar que vamos ter sexo, não é? Não te preocupes, nós fechamos a porta e não fazemos barulho!" Estava furiosa, nem acreditava que a Lara podia trazer a Nichole e era contra eu trazer o Josh.
"Sabes que mais, não vou discutir contigo, vou para o meu quarto estudar, é mais educativo e não tão infantil e porco!"
Ela desviou-se e fechou-se no quarto, deixando-me ali em pé, sem palavras.
Se é assim que queres assim será Lara.
Fui também para o meu quarto.
POV NARRADOR
Aquela Sam irrita-me tanto, fogo! Mas o que é que ela quer? Confusões entre nós? Parabéns, está a conseguir. Ela nem me ouve.
A Lara sentou-se na sua cama e ficou a matutar algum tempo no assunto até que deu conta de uma coisa.
E esqueci-me das minhas coisas lá fora, ótimo.
Ela saíra do quarto e foi à mesa da cozinha buscar o livro, as folhas e os restantes materiais e quando voltara para o quarto ouvira barulhos vindos de dentro do quarto da Sam, pareciam os gemidos de um homem.
Ela é inacreditável... Eles estão mesmo a fazê-lo... Que nojo... Podiam ter um pouco mais de consideração, a casa não é só dela, queria ver como é que se sentia se eu lhe fizesse o mesmo, mas não vou descer ao seu nível.
Ela metera-se dentro do quarto e ainda conseguia ouvir um pouco do barulho através das paredes.
Isto devia ser à prova de som, parece que afinal o que dizem a cerca das paredes terem ouvidos é verdade. Como ela não conseguia estudar sabendo o que estava a acontecer no quarto ao lado, Lara foi buscar os seus auriculares à mala e começou a ouvir música.
A Sam consegue sempre tirar-me do sério... Devia-me focar mais na Nichole... E é isso que vou fazer, vou mandar-lhe uma mensagem.
Pela mesma altura no quarto da Sam, o casal tinha acabado de se divertir.
"Ainda bem que ejaculaste fora como te pedi."
"Isto foi tão bom, caraças. Temos de repetir."
"Sim, sim, isso depois vê-se, mas da próxima traz um preservativo. E acho que agora era melhor se te fosses embora, ainda tenho coisas para fazer."
"Está bem, boneca."
Os dois voltaram a vestir-se e despediram-se com um beijo rápido, ele estava muito contente, já a Sam não se sentia assim tão descontraída e feliz.
"Bem... Mais uma sessão de sexo... E para quê? Não me sinto minimamente preenchida, que merda." A Sam fora tomar um banho e quando terminara deu com a Lara a preparar um lanche rápido na cozinha.
"Então, como correu?"
"Como correu o quê?" Sam perguntou, fazendo-se de parva.
"Tu sabes. O que aconteceu entre ti e o Josh!" A britânica virara-se, de forma a olhar nos olhos da Sam. "O que é que tinhas na cabeça?! Eu estava mesmo ali ao lado."
"Bem, desculpa, Lara, mas eu sou livre de fazer o que me apetece, lamento se te aborreci, também não conseguia cala-lo não é?"
O coração da Lara por algum motivo doía, ela sentia um aperto e não o sabia descrever e a Sam sentia-se horrível por ter irritado a Lara, no início ela estava furiosa e não queria saber do resto, mas depois percebeu que tinha agido mal.
"Eu vou para o meu quarto... Adeus." Dizendo isto a Lara deixou a Sam sozinha mais uma vez.
Sou tão estúpida, não acredito. Isto é tudo culpa da Lara! Não... É minha... Não a posso culpar pelos meus ciúmes...
Pensar nisto obrigou-a a ir bater à porta do quarto da Lara, não obteve resposta. Bateu de novo e obteve o mesmo silêncio.
"Lara. Vá lá, deixa-me entrar. Precisamos de falar."
"Não há nada para falarmos."
"Ai isso é que há." Ela abriu a porta mesmo não tendo autorização, ambas precisavam de falar e não podiam continuar a fugir uma da outra. A Lara encontrava-se sentada em cima da cama lendo um livro, ou tentando ler pelo menos. A sua melhor amiga foi-se sentar a seu lado. Não disseram nada, Sam tocara na mão da Lara e apertara-a suavemente.
"Pára de ler por um momento, tenho algo sério para dizer."
"Não costumas levar nada a sério, continua."
"Não me provoques, Lara Croft." O olhar da Sam era tão penetrante e forçava a Lara a olhar e não querer parar, o que a fez entender que a Sam ia dizer mesmo algo sério. "Peço desculpa, Lara. Fui muito imatura, mas eu também tenho o mesmo direito de trazer cá a casa uma pessoa importante tal como tu tens."
"Sam, a diferença é que eu e a Nichole nunca tivemos nada e eu aposto que tu nem gostas do Josh."
"Eu é que sei de quem gosto... e não pode, não acredito, estás a brincar." A seriedade da Sam tornara-se agora em humor. "Vocês devem ter experimentado algo."
"Não... Nós... Não." Lara disse tristemente e constrangidamente.
"Oh... Não faz mal... Terão muito tempo para isso... Não te queria deixar desconfortável Lara, desculpa."
"Não faz mal."
"Mas porque é que dizes que eu não gosto do Josh?" Sam estava curiosa, mas o que a Lara dissera não era mentira nenhuma... Ela não gostava dele, pelo menos não sentia o mesmo que sentia pela Lara.
"Eu sinto... E... acho que uma parte de mim não queria que vocês se tivessem andado a sorver ali no quarto à pouco..."
"A sério...? Oh!" Sam dissera percebendo algo naquele mesmo instante, ou pensando que percebera.
"Mas esquece, não vai acontecer nada entre mim e a Nichole porque nós acabámos... Parece que eu não fazia o género dela e eu não avançava com a relação."
O coração da Sam pulara de alegria e gritava de raiva.
"O quê?! Se ela não acha que fazes o género dela, ela é que perde, mas digo-te Lara, tu farias o meu! E avançar?! Não temos de o fazer assim tão rapidamente, vocês só namoravam à dois meses..."
A Sam só percebeu a asneira que dissera quando reparou que a Lara tinha ficado completamente vermelha. "Sabes que mais, precisamos de uma noite de raparigas, que me dizes? Vamos a uma discoteca e afoga-mos as tristezas."
"Sam, não me apetece sair."
"Não, Lara, do que tu precisas é exatamente de sair e esquecer a Nichole."
Foi surpreendentemente fácil convencê-la a sair e a Sam ficou deleitada com isso. Vestiram uma roupa mais apropriada e arranjaram-se, pintar lábios, olhos, coisas de raparigas, apesar da Lara só se ter limitado a usar um batom. Sam achou a Lara muito linda, o seu estilo desportivo e à maria rapaz tornava-a tão sexy. Foram para o carro da Sam e dirigiram-se à discoteca mais próxima, ela sem dúvida que conhecia as redondezas quando se falava de locais de entretenimento noturno. Lara ficara surpreendida e um tanto confusa com o nome da discoteca "Quarantine Zone".
"Já me devia ter habituado a estes sítios malucos, mas continuas a surpreender-me." Disse olhando à sua volta ao entrar atrás da Sam.
"Eu surpreendo sempre, não há excepções."
As duas sentaram-se numa mesa do canto da discoteca e a Sam depois levantara-se para pedir as bebidas, perguntou à Lara o que esta iria querer consumir, mas ela não sabia o que escolher, por isso a Sam decidiu escolher por ela. Quando voltou trouxe uma garrafa de Rum e duas cervejas.
"Huh... Sam, para que é isto tudo?"
"Para esquecer as merdas que nos acontecem à volta. Vá não te acanhes, prova o Rum."
Lara pegara na garrafa e virara o conteúdo para um copo de plástico que a Sam trouxera consigo e depois provara a bebida.
"Isto é tão nada agradável. Como consegues beber isto?" Perguntou Lara ao fazer uma careta e reparando na naturalidade com que a Sam bebia.
"Acabas por te habituar, querida."
Elas continuaram a beber, Lara controlou-se melhor e sabia que não queria e nem podia acordar com uma ressaca pois tinha de trabalhar, mesmo sendo Sábado, já a Sam não poupou a cerveja. Pouco passava da meia noite e a Sam mal se aguentava em pé, estava muito provocadora e atrevida, a Lara ficara mais calada, beber deixava-a melancólica apesar de ainda conseguir contar os dedos que lhe colocassem à frente; ela já sabia quem é que haveria de conduzir.
"Laraaaaa bebe mais uma!"
"Não quero e tu também não devias beber mais, já não és tu."
"É capaz de ser verdadeeeee, mas não meeee arrependo."
"Acredita, amanhã arrependes-te."
Sam abraçava e acariciava a Lara, ela não se importava, mas aquela não era a Sam que conhecia, pelo menos não durante o dia. Decidiu ir pagar a conta, já sabia perfeitamente que a Sam não se encontrava em condições de pagar ou fazer o quer que fosse, agarrou-a pela mão antes que ela pudesse meter conversa com um grupo de rapazes sentados não muito longe de onde elas estavam e levou-a para fora da discoteca.
"Vamos Sam, acalma-te já estamos a chegar ao carro para ir para casa."
"Parecemossssss um casallllll, isto é tão giro." Lara ouviu Sam dizer entre soluços.
"O que é que disseste?" Ela parou de andar e virou-se para a sua melhor amiga, continuando a segurar-lhe uma das mãos.
"Tipo, tu a cuidares de mimmmm e eu a atirar-me a ti de uma forma que não é nada involuntáriaaaaa da minha parte. Isto é tudo o que vai dentro do meu coração, gosto de ti Lara Croftttt, há pois é! E se isso é algo errado então adoro estar erradaaaaaa!!!!"
Lara ficou confusa com esta informação toda, não sabia se deveria acreditar no que a Sam dissera ou se deveria limitar-se a levá-la para o carro e não responder.
"Não olhes assim para mim, pensava que fosse óbvioooo... porque achas que arranjei um namoradoooo logo depois de teres arranjado uma parceira???"
Lara não dissera nada, simplesmente agira sem pensar naquele instante, eram só elas, sozinhas no parque de estacionamento durante uma madrugada, afinal o que é que podia correr mal. Os lábios de ambas conheceram-se pela primeira vez e não poderia ter sido mais estranho, elas estavam desorientadas e não se focavam bem no que faziam. Os lábios da Sam sabiam a cerveja e pela primeira vez a Lara não se importara de "provar" essa bebida. A Sam começou a gemer e a agarrar a Lara e esta não pôde evitar fazer o mesmo, os toques da sua melhor amiga deixavam-na alterada.
"Sam... Não podemos continuar aqui fora, vamos para casa." Disse ofegante. Sam ficara um pouco rabugenta por ter de esperar até chegar a casa para poder saltar literalmente para o colo da Lara, mal elas abriram a porta ela fora surpreendida pelo corpo da Sam em cima de si.
"Euuu quero tanto istoooo, nem imaginas..." Disse Sam beijando-a ferozmente.
Lara nem sabia como é que estava a aguentar tão bem com a Sam em cima de si, o que ela sabia é que tinham de ir para um quarto imediatamente e foi isso que fizeram. Lara levara a sua amiga para o seu quarto e deitara-a na sua cama delicadamente e colocara-se em cima dela.
"Tu és demasiado cuidadosa e meiga. Amo isso, não tem nada a ver com aquele gajo com quem eu andoooo."
"Com quem andas?" Sam ouviu Lara perguntar-lhe enquanto mordia a sua orelha ao de leve e a arrepiava.
"Com quem andei até hojeee, não me arrependo nada."
Ela pôde sentir o sorriso da Lara no seu pescoço.
"Eu sou toda tua Lara, aceita-me."
A Lara parara de a beijar e ficara a fita-la, com uma expressão indecifrável na cara.
"Tu estás tão bêbada..."
"Posso estar... Mas as palavras que disse são a sério."
Sam nem a deixara responder e começara a retirar-lhe a roupa, aquela noite fora uma das melhores que ela já passara, não podia dizer se a Lara achara o mesmo, o que ela sabia é que ambas se tinham entregado completamente uma à outra, dando prazer e suspirando o nome uma da outra; e isto por muito estranho que parecesse para a família da Sam, era o que valia ouro, ela já nem queria saber da roupa cara ou do quer que fosse, aquele momento entre elas as duas valia muito mais que aquilo tudo.
Ambas acabaram por adormecer de exaustão e por causa do álcool. Na manhã seguinte Sam acordara com uma terrível dor de cabeça e tapou-a com a almofada numa tentativa inútil de fazer a dor desaparecer. Soltou um som de frustração e virou-se para o tecto.
"Que merda de dor de cabeça, devia mesmo parar de beber em demasia." Disse esfregando a cara. Mas o que é que aconteceu sequer? Estava num bar, depois bebi com a Lara e depois... De seguida as memórias da noite de ontem atingiram-na como um relâmpago. Oh meu deus! Nós dormimos juntas. Fodasse. Bem também nem sei porque é que estou assim tão chocada, foi tão bom.
"Espera aí... E onde está a Lara?" Perguntou tocando no lado vazio da cama e sentando-se na mesma. Olhou à sua volta e estava tudo muito calmo. Não se ouvia nada e não havia sinal da Lara.
Ela levantou-se e pegou na roupa que se encontrava num canto do quarto e antes de começar a vestir-se, observou-se ao espelho, o seu corpo tinha várias marcas leves de batom. Antes isto que chupões, se é que posso dizer.
Bolas pá, não quero vestir esta roupa extremamente provocadora novamente... Mas também não posso sair do quarto nua. Não é que a Lara não me tenha visto ao natural, não é verdade. Que se lixe...
Acabou por decidir apenas vestir a roupa interior.
"Assim é um meio termo... Apesar de achar que seja ainda mais provocador." Disse baixinho e rindo-se ao pensar na cara da Lara ao vê-la assim logo pela manhã. De seguida ela abriu a porta do quarto e saiu, encontrou-a sentada no sofá a beber um chá, parecia completamente a mulher estereótipa britânica.
"Bom dia." Disse Sam sentando-se ao lado da Lara, esta por sua vez é como se tivesse acabado de sair de um transe pois ela saltou um pouco ao ouvir a sua companheira de casa a sentar-se a seu lado.
"Sim, bom dia..."
"Que se passa, não pareces muito feliz." Uma sensação de pânico começou a tomar conta de si enquanto observava a sua melhor amiga.
"Muito pelo contrário... Eu estou radiante." Disse pousando a chávena na mesa e dando toda a sua atenção à Sam. "Só gostava de não sentir esta sensação de aflição dentro de mim. O que é feito de nós agora... Depois do que se passou ontem? Ainda não consigo tirar aquilo da cabeça... Não te consigo tirar da cabeça, Sam."
A Sam não esperava tais palavras serem proferidas pela Lara, ela por acaso até esperava a rejeição, mas tudo menos isto.
"Lara, desde que te conheci que não te consigo tirar da cabeça, acho que ambas sabemos que estou pior nessa situação que tu, mas não te preocupes, acabas por te habituar a ter alguém sempre no teu pensamento, e ainda é melhor quando a pessoa também pensa em ti."
Os olhos da Lara brilhavam de tanta alegria e vivacidade que ela não se conteve a levantar-se do sofá e agarrar a Sam pela cintura, puxando-a para cima, de modo a ficarem as duas de pé, frente a frente.
"Quer dizer que... Que..." As palavras mal lhe conseguiam sair da boca.
"Que estamos juntas? Não quero mais nada neste mundo."
Lara sorriu ao ouvir o que ela acabara de dizer e beijou-a, sem dúvida que a Sam tinha-a feito mais feliz só neste instante do que a Nichole durante todos aqueles meses.
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POV Lara
Passaram algumas semanas desde que a Sam e eu estávamos juntas e ela fora falar com o Josh para acabar a sua relação com ele, tal como me prometera. Até correu bem, ele reagiu razoavelmente e passou a outra rapidamente. Já o tinha visto na faculdade a cobiçar outra rapariga e ela estava a cair que nem um patinho, era um pouco triste como algumas pessoas ficavam todas babadas só pelos lindos olhos de alguém, mas enfim.
Numa tarde a Sam voltara de não sei bem onde, ela entrara pela porta dentro e correu para o seu quarto. Eu estava a fazer um projecto para a faculdade no portátil e não reparei bem no estado em que ela se encontrava. Como fiquei desconfiada pela sua estranha maneira de agir, fui bater à porta do seu quarto. Nós agora dormíamos umas noites no meu quarto e outras no dela, hoje as minhas coisas ainda se encontravam no dela. Ela não respondera e depois ouvi o barulho de algo a partir.
"Fodasse!" Ouvi de dentro.
"Sam?! Está tudo bem? Que se passa?" Tentei abrir a porta mas ela tinha-a trancado. "Fala comigo, Sam." Ouvi mais barulhos vindos de dentro. "Abre a porra da porta, caraças!" Comecei a entrar em pânico, mas depois de me ouvir a Sam destrancou-a. Abri a porta e vi que havia cacos por todo o chão, pertenciam ao candeeiro que antes estava na mesa de cabeceira do quarto da Sam.
Ali estava ela sentada no chão a tentar apanhar os bocados com as mãos, ela tremia tanto que até era visível aos meus olhos, já os seus estavam húmidos e a maquilhagem que tinha escorria-lhe pela sua linda cara. Ela olhou para mim pelo canto dos olhos, nem virou a cabeça, continuava a tentar apanhar os restos da cena do crime.
Coloquei-me ao seu lado de joelhos e peguei nas suas mãos, fazendo-a parar com o que estava a fazer, nem um olhar da parte dela.
"Sam, não apanhes isso assim, ainda te vais magoar... Mas o que é que aconteceu para estares neste estado?"
Ela olhou para mim com aquele ar destroçado, mas não disse nada, até a mim me estava a doer.
"Podes...deixar-me sozinha... Por favor?" A sua voz quase que nem se ouvia, ela parecia tão abatida.
"Não te posso deixar sozinha neste estado."
"Por favor, eu quero ficar sozinha!" Ela ao gritar isto lançou-se a mim, como se me estivesse a empurrar, mas eu sabia que ela queria que eu ficasse a seu lado, depois recomeçou a chorar, sujando a minha camisola com maquilhagem. Eu acolhi-a nos meus braços e comecei a afagar-lhe o cabelo e a proferir palavras de conforto. Ela continuava sem me dizer o que se passava e o meu coração quase que sufocava.
"Tu vais odiar-me, eu odeio-me e odeio o Josh! Ele também me odeia..." Ela cuspia as palavras, conseguia ver muito bem que ela estava possuída pela raiva, o que me estava a deixar de coração apertado.
"Sam, por favor, não te foques nisso."
Ela levantou-se rapidamente, deixando-me sozinha no chão, estupefacta.
"Tu sabes lá em que é que eu me devo focar! Eu quero matar-me, mas não sem antes matar aquele gajo!"
A Sam gritou aquilo e começou a atirar tudo o que tinha em cima da secretária para o chão, eu fui a correr atrás de si e abraçei-a por trás, mesmo isto não a fez parar, eu sabia que palavras não chegariam a ela, contudo não pensei que as acções fossem ter o mesmo efeito.
"Deixa-me fazer isto, deixa-me destruir!"
Com uma força doida conseguiu soltar-se dos meus braços e sair do quarto, fui atrás dela e vi-a buscar uma garrafa de bagaço à cozinha e retirar a tampa e começar a beber da própria garrafa. Ela bebia de forma frenética e quando cheguei ao pé de si retirei-lha da mão, mas a garrafa já estava a meio.
"Que raio estás a fazer, Sam?!"
Ela olhou-me de lado, não insistiu em que lhe devolvesse a bebida.
"Não é óbvio?"
"Não, não é óbvio, porque não falas comigo. Eu quero saber o que aconteceu!"
"Não é o que aconteceu que importa, é o que vai acontecer. O Josh vai cair."
Não me disse mais nada e depois foi em direcção da porta, ela não ia sair neste estado, não podia, não a ia deixar.
"Sam, não. Que é que vais fazer?!" Agarrei-a pelo braço antes que ela pudesse abrir a porta e ela olhou para mim, estava tão enraivecida.
"Não tens nada a ver com isso. Larga-me. Porque é que estás a impedir-me de fazer tudo o que eu quero, fodasse!"
"Porque esta não és tu. Não és a Samantha Nishimura que eu conheço e amo. E estás a magoar-me, eu tenho muito a ver com isto. Estás mal, eu também estou." Era difícil dizer se algo que eu lhe dissera tinha chegado a ela, mas felizmente passado um longo minuto pude dizer que sim. O seu braço já não estava tenso e os seus ombros relaxaram, conseguia ouvi-la a respirar ruidosamente como se tivesse dificuldade em fazer tal coisa e as lágrimas voltaram a cair-lhe, no entanto a sua expressão continuava a ser de raiva.
"Agora podes dizer-me o que se passa? Podes contar o que se passa, à pessoa que não te julgará nunca?"
"Lara... Eu estou grávida... Fui fazer a merda do teste da farmácia quando saí daqui, depois fui falar com a merda do Josh... Acho que já podes prever como é que isso correu..."
Eu nem sabia bem o que pensar, aquela notícia atingira-me como um relâmpago e eu não estava preparada para ela.
"Como assim...? Quer dizer sim... Acredito que estejas grávida... Ainda estou a tentar assimilar a revelação."
"Já sabia que me ias odiar. O que é que os Nishimuras vão pensar...?"
"Esquece os Nishimuras agora! O que importa é a Sam! Que estás a pensar fazer agora?"
"Primeiro quero dar um pontapé nos tomates daquele gajo! Até mete nojo."
"Isso pode-se arranjar... Mas o que é que queres fazer em relação à criança?"
"Ainda não há... Criança... Nenhuma... E se depender de mim nunca haverá..."
"Okay, então está decidido... Vamos fazer um aborto, se é possível ainda e é o que queres, vamos fazê-lo... Quer dizer, tu é que vais abortar, tu é que vais fazer, não somos nós... Quer dizer... Huh..."
"Não precisas de ficar assim toda atrapalhada... Eu entendi... E até gosto que digas "nós" assim não me sinto uma merda tão grande e sozinha... E também concordo com a ideia... Quanto mais depressa melhor..."
Fiquei aliviada por a Sam não ter levado a mal, o que ela menos precisava agora era também de ficar furiosa comigo. Decidimos imediatamente tratar deste problema, hoje não trabalhava, o que facilitava as coisas e mesmo que tivesse trabalho preferia perder um dia de salário a deixar a Sam passar por isto tudo sozinha. Fomos para o carro da Sam, mas quem iria conduzir era eu, apesar dela ter insistido no oposto. Ela queria ir ter com o Josh, mas ela não se encontrava no estado adequado para tal coisa, eu recusei.
"Mas afinal o que é que ele te disse? Disseste que foste ter com ele..."
"Sim fui ter com aquele otário mal soube o resultado, tinha de o encarar e deixá-lo a saber que me tinha engravidado. Aquele idiota insensível nem quis saber. Só me disse para me ver livre disto, e o mais rapidamente possível. Disse que tinha a sua namorada e não queria arranjar merda entre eles só porque tinha engravidado uma pita, eu dou-lhe a pita... "
Continuei a ouvir tudo o que a Sam tinha para dizer, atentamente.
"Um dia esqueci-me de tomar a pílula e graças ao universo fiquei grávida. Aquele cromo até me ameaçou... Se eu não abortasse de livre vontade iria fazer com que eu abortasse a mal."
Travei o carro bruscamente. Naquele momento não havia mais carros na rua onde estávamos. Até a Sam ficou a olhar para mim assustada.
"Onde é que esse filho da mãe mora? Dá-me a morada."
"Para que é que queres saber?!"
"Vamos fazer uma visitinha a esse bronco, ou não me chamo Lara Croft."
Pude claramente ver que a Sam ficara deleitada com o facto de eu me querer vingar do Josh, nem era de mim... Eu normalmente não tinha coragem para nada, mas agora estava irritada e mesmo a sério. Quando chegámos ao prédio dele eu jurei à Sam que se ele não estivesse lá, eu iria esperar por ele, não iria desistir, para a minha felicidade ele estava mesmo em casa. Disse para a Sam me deixar falar primeiro. Depois bati à porta e quando ele a abriu até parecia que a cor tinha fugido do corpo dele.
"Olá?"
"Olá, Josh . Acho que temos de ter uma conversinha."
"Não tenho nada para falar com vocês, se não se importam tenho a minha namorada aqui."
"Sim, vê lá se não fazes o mesmo a ela que fizeste à minha Sam, isso ia ser triste e nenhum de nós iria querer tal coisa!" Falei mais alto de modo a que se a rapariga estivesse mesmo lá dentro, pudesse ouvir, felizmente estava.
"Quem está aí, Josh?"
"Não é ninguém importante!"
"Ai isso é que é, ameaças-te a Sam, estás parvo ou quê?!" Empurrei-o, já me estava a passar com ele. "Pensas que podes fazer de conta que nada aconteceu? Isto não é como queres. Nem és homem nem és nada. És um merdas." Ao dizer isto é como se tivesse tocado na ferida, o gajo agarrou-me pelo colarinho da camisola e abanou-me um pouco, não tive medo.
"Quem és tu para vires aqui a minha casa insultar-me? Se tivesses juízo nem tinhas cá vindo. Mete-te mas é a andar." Ele sussurrou aquelas palavras, não deveria querer mostrar à sua namorada a besta que era.
"Não vou a lado nenhum." Ao dizer isto soltei-me das suas garras e dei-lhe um soco no nariz. "Não me voltes a tocar e não te atrevas a tocar na Sam." Olhei para ela e vi que ela queria esconder​ um sorriso.
"Sua..."
"Sua quê? Queres mesmo lutar aqui? Quando a tua preciosa namorada está aqui? Acho que não queres isso."
Não o devia ter provocado, pois ele atirou-se a mim e e atirou-me ao chão, ficando em cima de mim. Ouvi a Sam gritar. O Josh estava fora de si. Começou a apertar-me o pescoço e não me largava, vi que a Sam estava a tentar fazê-lo tirar as mãos de mim, ela puxava-o, empurrava-o, mas não tinha força para ele e eu não podia fazer nada, limitei-me a espernear. Ele lá me largou por uns segundos, mas foi só para me retribuir o soco.
Depois ouvi algo a partir e o peso que tinha em cima de mim desapareceu.
"É para aprenderes, otário..." Ouvi a Sam dizer, mas quem eu pensava que tinha dado com uma garrafa na cabeça do Josh afinal não foi.
"Peço imensa desculpa por ele..." Era a namorada dele, a rapariga que eu tinha visto na faculdade com ele. A Sam ajudou-me a levantar.
"Não tens de pedir desculpa... obrigada por teres ajudado a Lara... Ele quase que a matou..."
"Sim eu claramente vi isso, mas aparentemente ele não... Acho que seria melhor chamar a polícia, para resolver isto de uma vez por todas. Ele é um doido completo. Vou fechá-lo em casa e depois as autoridades resolvem isto. Peço mais uma vez desculpa."
"Não te preocupes com isso...huh..."
"Victoria. E já percebi que vocês são a Sam e a Lara, lamento que nos tenhamos apresentado numa situação nada agradável e que o Josh não tenha sido compreensível para contigo Sam."
"Nós as duas resolvemos isto... Mas agora acho que é melhor que o leves para dentro."
"Verdade."
Depois fomos as duas embora, enquanto que a Victoria levou o Josh para dentro, já sabia que iria sobrar para nós, mas agora estava mais preocupada com a Sam e com a minha cara. Ao entrarmos no carro a Sam perguntou-me como é que eu estava.
"Estou... Bem..."
"Estás a sangrar do nariz, espera aí, vou buscar um lenço." Vi-a ir ao porta luvas e tirar um pacote de lenços. "Toma."
"Obrigada... Ai... Aquele filho da mãe." Disse tentando limpar o sangue. "Já sei o que acontece quando uma pessoa tenta ter coragem."
"Isso foi mesmo muito corajoso da tua parte, mas também um pouco estúpido, foi corajosamente​ estúpido. Preferia ter-lhe dado um pontapé no meio das pernas."
"Pois... Desculpa não te ter deixado ter a tua vingança..."
"Não te preocupes com isso, até foi excitante ver-te a dar-lhe uma sova."
"A dar ou a levar?"
Ela riu-se e eu também acabei por rir.
"A dar."
"Ainda bem que satisfiz uma das tuas fantasias, podia era não ter doido tanto."
"Precisas de pôr gelo."
"Primeiro estás tu, Sam. Vamos resolver isto já."
"Está bem."
Fomos em direcção do hospital, onde queríamos ir em primeiro lugar. Tirámos uma senha e esperámos, depois de dizermos o que necessitava-mos voltámos a esperar, desta vez uma interminável hora. A Sam iria ter uma consulta, para ver se ainda podia abortar, nós esperávamos que sim. Eu não pude entrar com ela e ela não gostou muito de ir sozinha, eu também não gostei da ideia de ficar aqui sem a poder apoiar, mas tivemos de nos aguentar. Passados uns vinte minutos  voltou a sair, veio em minha direcção e deu-me a boa notícia de que podia abortar, mas teríamos de esperar até amanhã, ela também me disse que se tivesse esperado mais uma semana já não poderia fazê-lo, eu abraçei-a e disse que tudo se iria resolver. Ela contou-me o pormenor de que não queria que a sua família descobrisse a sua gravidez e eu apoiava a sua decisão. Voltámos para casa, eu fui fazer o jantar e enquanto o deixava ao lume fui colocar um saco de gelo no nariz, a Sam por sua vez ficou no sofá o tempo todo, a olhar para nada. Nem queria imaginar nas coisas que ela estaria a pensar naquele momento, doía-me vê-la assim. Até preparei um dos seus pratos preferidos, mas ela não comeu grande coisa.
"Sam estás bem?" Perguntei ao vê-la brincar com o garfo no prato.
"Estou óptima... Amanhã acabam-se os problemas... O Josh fica feliz, nós voltamos a estar como estávamos... E deixa de haver um feto indesejado. Está tudo bem."
Sabia muito bem que tudo estava bem mal.
"Fala comigo Sam, o que te atormenta?" Perguntei parando de comer e segurando a sua mão. "Não queres abortar é isso? Não tens de o fazer. Eu quero que faças o que achas que é melhor para ti."
"Lara deixa-te disso... Estou bem."
"Claramente não estás. Eu conheço-te."
"Talvez não me conheças assim tão bem..."
"Sim, uma pessoa nunca conhece a outra a 100 por cento, mas ponho as mãos no fogo como conheço 90 por cento de ti."
Ela sorriu para mim tristemente, ela deixava-me tão preocupada.
"Desculpa por ter explodido contigo esta tarde, não sei o que me deu..."
"Aww Sam... Não faz mal, eu sei que não fizeste por mal, se eu estivesse no teu lugar teria feito o mesmo. Eu só te quero ver bem, mais nada."
"Sinto-me mal na mesma... Mas obrigada por me consolares. Sabe bem de vez em quando não ser considerada uma merda."
"Para mim nunca serás uma merda Sam, nunca."
"É bom saber. Agora se me dás licença, eu acho que me vou deitar, eu lavo a loiça amanhã se quiseres, não precisas de o fazer." Ela disse isto e levantou-se, retirando o seu prato da mesa, senti logo a falta da sua mão macia devido à perda de contacto. Fiquei sozinha na cozinha e depois de ter arrumado mais ou menos as coisas nem tive paciência para ficar um pouco na sala por isso dirigi-me ao quarto da Sam. Abri a porta e ela já se encontrava deitada, não sabia se ela quereria a minha companhia, por isso limitei-me a agarrar a minha almofada.
"Onde vais?" Ouvi-a perguntar ao se virar para mim. Afinal não estava a dormir.
"Ia para o meu quarto, não sabia se querias a minha companhia."
"É claro que quero, só quero a tua companhia. Eu preciso dela."
Senti-me lisonjeada e tão feliz por ouvir tais palavras, tanto que até me deitei rapidamente a seu lado e abraçei-a por trás. Ficámos caladas por alguns minutos, quando estava quase a adormecer a Sam falou.
"Eu tenho medo Lara."
"De abortar?" Perguntei sonolenta.
"Disso e de que o Josh nos faça algo de mal. E... Eu tenho um bebé dentro de mim... Não será cruel da minha parte ver-me livre dele?"
"Sam... Ainda não tem coração, nem tem nada formado, não passa de um mero feto. Não estarias a matar ninguém. Quanto ao Josh ele não fará nada, ele se pensar bem nem nunca mais nos quererá ver. Eu estou aqui, nada de mal te irá acontecer, prometo." Beijei-lhe o pescoço carinhosamente e enrosquei a minha cara no seu lindo cabelo negro. Queria transmitir-lhe toda a tranquilidade possível para que ela ficasse calma. "Qualquer coisa que tu decidas eu estou do teu lado."
"Obrigada Lara... Eu vou abortar... É o melhor..."
"Eu estou contigo."
Acabámos por adormecer uma junta à outra.
Na manhã seguinte fui com a Sam até ao hospital para ela abortar, umas enfermeiras tomaram conta dela, só pude ficar cá fora à espera. Fiquei umas horas consideráveis à espera. Passei o tempo a ver as notícias no telemóvel, beber um café, lendo umas revistas e caminhando de um lado para o outro sempre com o olhar fixo na porta pela qual a Sam entrara. Duas horas depois ela voltou, parecia mais relaxada.
"Sam, como estás? Diz-me que estás bem?" Levantei-me da cadeira em que estava sentada e fui ao seu encontro. Agarrei as mãos delas e apertei-as suavemente.
"Sim, estou bem... Não fiques assim toda preocupadíssima... Já está feito. Podemos voltar às nossas vidas normais."
Sorri para ela ao a ouvir a dizer aquilo.
"Ainda bem que estás bem, não te quero ver mal Samantha." Beijei-a, estávamos no meio do hospital, no meio de dezenas de pessoas, mas não me importei. A pessoa de quem eu gostava estava bem e para mim isso bastava.
"Fodasse... Esqueçi-me que tenho um exame na Terça-feira! Fiquei tão à nora com isto tudo que me esqueçi completamente!"
"Ainda tens tempo para estudar Sam."
"Claro, se eu fosse a Lara tenho positiva a tudo Croft, talvez conseguisse."
"És tão mazinha, mas eu gosto de ti assim."
"Eu sei."
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POV Sam
"Samantha, sabes o que isto poderia representar para a nossa família?! Estás louca, filha? Tu estares metida com uma colega da faculdade vai provocar rumores e poderia estragar o nosso negócio!"
"Pai, eu não estou 'metida' com a Lara, temos uma boa relação, não estou só a curtir, parece que nem me conheces e o negócio da família nem é para aqui chamado, estamos a falar da minha vida."
"Aparentemente não conheço, a filha que eu conhecia nunca iria estar com uma mulher e muito menos iria desprezar a importância do negócio da família."
"Nem tentes, pai. Agora tenho de ir estudar, com licença." Acabando de dizer isto desliguei o telemóvel, já não estava com mais paciência para ouvir aquelas asneiras todas que saíam da boca do meu pai. Virei-me para o lado, ficando em posição fetal na cama. "Que treta. Agora não posso estar com quem eu quero, não sabia que havia restrições."
Nem me apetecia levantar da cama, mas uma coisa era certa, eu não iria abdicar da Lara, não podia; impossível abdicar da única pessoa que me entende e que gosta de mim. O meu pai manda em muita coisa, mas na minha vida amorosa é que não. Ele nem sabe pelo que eu passei nestes últimos meses.
"Olá Sam, voltei." Ouvi a lara dizer vindo da sala. Levantei-me e fui ter com ela, não era altura para ficar deprimida, não agora que a Lara estava aqui.
"Olá, querida." Respondi-lhe aparecendo na sala.
"Já de pijama?" Ouvi-a perguntar ao olhar para o meu aspecto e pousando a mochila em cima da mesa da sala.
"Sim... É mais confortável."
"Então está bem."
"Como correu o trabalho?"
"Correu bastante bem. Passasse alguma coisa?"
Fui apanhada de certa forma e fiquei a olhar para ela confusa.
"Como assim? Não se passa nada."
"A tua cara diz o contrário, mas se dizes que não se passa nada eu acredito. Não te esqueceste que hoje temos um jantar, pois não? O Alex também vai lá estar."
Esquecera-me completamente.
"Pois... Upps..."
"Sam... O jantar é daqui a menos de duas horas, temos de nos preparar. Tu querias tanto isto lembras-te?"
"Talvez tenha perdido a vontade de ir a um jantar da faculdade, onde o Josh também irá estar."
Ainda não tinha ultrapassado a situação do aborto e do quase homicídio da minha Lara. A polícia veio falar connosco uns dias depois do ocorrido, mas felizmente não nos aconteceu nada, o Josh é que teve de começar a apresentar-se à esquadra semanalmente, ele merecia mais do que isso, porém não havia nada que eu pudesse fazer. Já a Victoria deixou-o e afastou-se completamente dele e começou a andar acompanhada, só para ter a certeza que ele não iria atrás dela feito stalker.
"Aw Sam vá lá, vai-te fazer bem sair um pouco, agora raramente sais. Já nem a algumas aulas vais. Estou a ficar seriamente preocupada contigo." A Lara veio ter comigo e abraçou-me e depois deu-me uns quantos beijos. Sabiam tão bem e sim ela tinha razão... Já não saía como de costume. Não me encontrava no meu melhor e agora o meu pai lembrou-se de me irritar mal descobriu que eu namorava com a Lara.
"Não te preocupes comigo, eu estou ótima."
"Disseram todas as pessoas que não estavam bem."
"Lara acredita, okay?!"
"Pronto está bem, já não digo mais nada. Agora vamos arranjar-te. Temos onde ir."
Resisti um pouco mas acabei por ceder e fazer-lhe companhia, talvez ela tivesse razão e me fosse fazer bem sair um pouco. É verdade que eu até estava entusiasmada por ir a este jantar, mas perdera toda a vontade de ir, o que é completamente compreensível tendo em conta as circunstâncias.
A Lara levara uma roupa mais virada para o desportivo, o que já era normal, eu por outro lado costumava levar vestidos e roupas mais curtas, mas desta vez levei o oposto, levei uma camisola e umas jeans. Este jantar era a coisa que menos me interessava no momento, a única coisa boa seria a Lara. Se tivesse sorte teria uma hipótese de não pensar no meu pai durante esta noite.
"Sabes, eu acho que o Alex está a atirar-se a mim." Ouvi a Lara a perguntar enquanto conduzia.
"Isso é uma novidade enorme, acho que ninguém ainda tinha reparado." Disse com a cabeça encostada no vidro da porta. Não estava mesmo com paciência para o Alex, aquele rapaz não perdia um segundo que fosse para lamber as botas à Lara.
"Aprecio o sarcasmo, mas agora a sério, espero que isso não te deixe frustrada, já que ele também não sabe que namoramos."
"Ele só não sabe porque não quiseste que eu lhe contasse, Lara." Disse revirando os olhos e suspirando ruidosamente.
"Eu não gosto de me estar a gabar e dizer que estou com uma pessoa fantástica, se é que ainda não reparaste."
"Oh sim, essa foi muito boa Miss Croft, estás desculpada." Ela às vezes dizia cá cada coisa, até gostava que ela se atira-se a mim, era fofo, apesar de ter gostado do que ela disse não me sentia assim tão feliz.
"Pronto, já cá estamos." Ela disse ao estacionar o carro.
"Boa..." Murmurei ao abrir a porta do carro.
"Não sejas assim, vais divertir-te."
"Se o dizes."
Ela foi ter comigo e colocou o seu braço à volta do meu pescoço e depois deu-me um beijo na testa. Limitei-me a sorrir para ela. Mal entrámos na faculdade o telemóvel da Lara começou a tocar, ela atendeu e pela conversa percebi que era o Alex.
"Sim, acabámos de chegar. Nós esperamos por ti, não há problema. Até já."
"Suponho que o doutor engenhocas está a caminho?" Perguntei cruzando os braços em frustração.
"Sim, ele está quase aqui."
Ela nem percebeu que o que eu menos queria era ver aquele gajo, mas como sempre estas coisas passam despercebidas a seus olhos. Poucos minutos depois o Alex apareceu, todo bem vestido e a cheirar a colónia como se tivesse tomado banho em tal substância. Ele cumprimentou-nos com aquele sorriso convencido que ele me costumava mostrar. Ele pensava que era o maior e nem acredito que se achava melhor que eu, via-se bem pela maneira como ele interagia comigo.
"Como é que estão?"
"Estamos bem, Alex."
Eu nem respondi.
"Então vamos lá a este jantar. Ouvi dizer que muita gente não estava interessada em vir por isso teremos mais comida e mais espaço para abanar o capacete."
"Sim, comer soa-me bem." Disse Lara olhando para mim provavelmente à procura da confirmação de que o que o Alex dissera tinha sido uma boa notícia. Chegámos a um dos bares da faculdade, tudo se encontrava cheio de enfeites, balões e fitas, várias mesas estavam cheias e a música não era muito alta e até era tolerável. Os outros bares deveriam estar mais cheios, já este não tinha muitas pessoas no seu interior, muitas delas estavam do lado de fora a conversar e a beber. Nós procurámos uma mesa livre e acabámos por encontrar uma no meio da cafetaria. O Alex como bom samaritano que era e como não poderia deixar de ser, perguntou-nos o que iríamos querer comer e foi pedir. Fiquei sem fome nenhuma e por isso só pedi uma pequena sandes. Podiam dizer o que quisessem, até podiam insinuar que tinha ciúmes, mas não queria saber.
O meu telemóvel vibrou um pouco e fui ver o que era. Tinha recebido uma mensagem do meu pai, abri-a e só me apetecia gritar de raiva.
"Minha filha se quiseres continuar a receber apoio financeiro da nossa parte e qualquer outro tipo de apoio, terás de deixar essa tua colega da faculdade. Não posso arriscar a que o nosso negócio vá por água abaixo devido a uma fase ou desejo exótico de experimentar coisas diferentes. Espero que saibas o que tens a fazer."
Comecei a escrever uma resposta, nem pensei no que ia dizer, escrevi o que me vinha à cabeça.
"Isto não é nenhuma fase pai e muito menos um 'desejo' como tu estás a referir. Eu gosto da Lara, ela é fantástica, tens de a conhecer. Tu estás a estragar a única coisa que ainda não me desiludiu uma única vez na vida, ao contrário de ti. Porque é que tens sempre de estragar tudo?! Porque é que não podes deixar a tua filha em paz e deixá-la viver. Achas que me preocupa se continuarei a ter roupa da Gucci, Chanel ou Prada? Isso é muito bonito e etc mas não me dá o que a Lara me dá regularmente, tu, tu pareces estas marcas de roupa insignificantes que não me preenchem, já nada me preenche okay?! Eu estou a morrer por dentro e tu nem te preocupas em querer saber como é que eu estou. Estou tão farta."
Ao escrever isto enviei, nem queria saber do que ele iria responder, só queria aproveitar este jantar horrível com o estúpido do Alex e com a minha namorada, que por segundos também me começou a irritar devido à maneira como ela fazia olhinhos ao Alex, talvez só fosse impressão minha, mas já não sabia nada, tudo parecia desfocado. Alguns minutos depois de ter enviado a mensagem o meu pai ligou-me, eu não atendi, mas ele não desistiu e voltou a ligar, mais valia atender logo em vez de criar suspeitas.
"Estou?"
"Filha mas o que raio estás para aí a dizer? Ias abdicar da vida de luxo por uma mera órfã? Tu estás bem da cabeça? Que lavagem cerebral é que essa garota te fez?"
Lá estava o meu pai a ser um otário. Nem cumprimenta nem nada, ele sempre foi conhecido por ir directo aos assuntos e parece que com a filha ele não iria ser diferente, enquanto o ouvia olhava para a Lara, ela olhava para mim também enquanto bebia, eu não queria dizer demasiado que desse a entender algo à Lara, ela era demasiado inteligente e perceberia logo.
"Não posso falar agora e 'sim' é a resposta a duas das tuas perguntas. Agora tenho de ir, estou num jantar importante." Desliguei e fiquei a olhar para o telemóvel, o meu pai estava mesmo a encostar-me à parede. Tudo agora iria ficar complicado. Apertei o telemóvel na minha mão e coloquei-o em cima da mesa. Reparei que a Lara observara tudo o que eu fizera e dissera.
"Estás bem, Sam?"
"Sim, pareces agitada." Sabia muito bem que o Alex só estava a fingir que estava preocupado comigo por causa da Lara, era tão típico dele.
"Sim, estou bem, não poderia estar melhor. Estamos numa festa afinal de contas." Menti. Só queria que parassem de me chatiar por cinco minutos, era o suficiente. A Lara colocou a sua mão no meu ombro e mostrou-me um sorriso. Ela tentava, mas não era o suficiente, não no estado em que eu estava.
Depois começámos a comer, a Lara estava radiante, até me senti mal por não estar a aproveitar como ela.
De repente observara o Josh à distância, vi-o olhar na minha direção e entrei em pânico, mas o Alex levantar-se da mesa e ir em direção da Lara tirou-me deste transe por meros segundos.
"Queres dançar Lara?"
"Oh! Comigo? Eu não danço nada de jeito, ainda te piso os pés."
"Nada que eu não aguente." Ele estendeu a mão para ela e ela olhou para mim.
"Não te importas Sam?"
"És livre, adulta e vacinada Lara, faz o que bem entenderes." Disse amargamente. Já não suportava ninguém. Sei muito bem que a Lara ficara apreensiva, mas o Alex tomou o que eu dissera como sinal verde e lá a convenceu a dançar finalmente com ele. Quando eles foram para o lado exterior do bar fiquei um pouco a observá-los à distância, vê-los a divertir-se, mas depois reparei de novo no Josh e não aguentei, levantei-me e corri para a casa de banho, deixando o medo tomar conta de mim.
POV Lara
O Alex até era divertido, mas tinha que admitir que não seria a companhia que eu escolheria para ficar presa numa ilha. Dançámos durante alguns minutos, porém rapidamente perdera o interesse naquela actividade, se não estivesse a dançar com a Sam não era a mesma coisa. Ao pensar nela olhei para a nossa mesa e reparei que se encontrava vazia. Disse ao Alex que já não queria dançar mais e fomos para a mesa. Quando lá cheguei só encontrara o telemóvel da Sam em cima da mesma. Peguei nele e senti-me tentada a ler algumas das suas últimas mensagens, o seu último telefonema não parecia tê-la deixado num bom estado por isso havia a possibilidade de haver algo nas mensagens que me pudesse esclarecer. O Alex perguntara pela Sam como se eu soubesse a resposta, só encolhi os braços e disse-lhe que ia procurá-la, dispensei a sua companhia pois ele queria vir comigo, preferia que ele ficasse aqui à nossa espera e depois fui pela faculdade à procura da Sam. Acabei por tomar a decisão de ler as mensagens existentes no seu telemóvel, tive de colocar o código, era relativamente fácil já que eu sabia que a Sam dava muita importância a aniversários, bastou colocar os nossos. Fui às mensagens e a última que estava lá tinha sido enviada à pouco mais de meia hora, abri-a e comecei a ler, sabia que não o devia ter feito, mas era a única ideia que tinha para poder ajudar a a Sam de certa forma.
Nem acreditava no que tinha acabado de ler.
Que raio é isto? O pai da Sam não nos aceita? Porque é que a Sam não me disse nada? Porque é que ela guardou isto para ela... Como é que aquele homem a pode deserdar assim?
Decidi ir ver a resposta da Sam.
Ela está a morrer por dentro... E eu não sabia, não a ajudei. Que grande companheira que sou. Onde raios estás tu Sam? Estás-me a deixar tão nervosa.
Andei por fora da faculdade e depois dei uma volta por todos os pisos da mesma, fui também a todas as casas de banho e chamava por ela, até que acabei por a encontrar numa casa de banho do piso de cima, era a casa de banho mais afastada do local da festa e aquela zona estava consideravelmente vazia. Chamei pelo seu nome, mas só a sua respiração intensa era audível, por um lado ficara mais calma porque descobrira onde ela estava.
"Não quero... Não... Não quero que me apanhes..." Ouvi-a dizer de dentro da casa de banho, percebi que ela não tinha ainda percebido que eu já ali estava.
"Sam abre a porta, quem é que te vai apanhar? Tu estás segura, estou aqui."
"LARA?! Oh não... Não tu, diz-me que não ouviste o que eu dissera. Deixa-me sozinha."
"Do que raio estás a falar. Como é que te posso deixar sozinha? Tu estás a ouvir-te sequer? Abre a porta, por favor. Quero ver-te." Silêncio, até que ouvi a porta a destrancar. Entrei e deparei-me com a Sam sentada no tampo da sanita com as suas mãos à volta das pernas. Ela parecia tão frágil e a sua maquilhagem estava toda estragada. "Sam, como é que estás? Porque saíste do bar e vieste para aqui sozinha sem me dizer nada? Pregas-me cá cada susto."
"Apeteceu-me mudar de ambiente." A sua voz não pareceu mais do que um sussurro.
"E a tua ideia de mudar de ambiente é vires para aqui? Eu podia ter vindo contigo."
"Estavas tão entretida com o Alex que não quis interromper e de qualquer forma eu vira o Josh e entrei em pânico... Acontece."
Era altura de a enfrentar e falar destas mensagens com o seu pai, sabia que iria basicamente estar a dizer que tinha bisbilhotado, mas tinha de o fazer.
"Sam porque é que o teu pai não nos quer juntas? O que tem ele contra nós?"
"Espera, o quê?! Como sabes disso?!"
"Tu esqueceste-te do teu telemóvel em cima da mesa e eu trouxe-o até ti..."
"E foste ler a minha privacidade?! Estás doida Lara? Que merda!" Vi-a começar a chorar e a bater com a mão fechada na parede. "Está tudo a desmoronar, agora até tu espias as minhas coisas. O que é que se passa?! Eu posso muito bem resolver isto sozinha porra!"
"Sam acalma-te e tu não consegues resolver este assunto sozinha, não tens de o resolver sozinha, eu estou aqui. Dói um pouco não me teres contado isto."
"Lara eu não te contei porque não te queria preocupar, sim?! Mas obrigada, os meus esforços foram em vão e obrigada também por me teres trazido o meu telemóvel acabado de ser revisto por ti."
Doeu-me como uma facada o facto da Sam estar a ser passiva-agressiva comigo, magoava-me, mas ela tinha razão em estar a agir assim, eu merecia.
"Lamento Sam, a sério. Só queria ajudar, eu nunca violei a tua privacidade para te controlar ou obter algo de ti, só queria saber o que se passava com a minha companheira e melhor amiga." Afagei-lhe o cabelo e ela fechou os olhos ao sentir o meu toque.
"Só me sinto segura contigo, Lara, estou com medo."
"Sam, o Josh não te vai fazer mal nenhum, eu estou aqui contigo." Abraçei-a para lhe dar segurança e depois dei-lhe um beijo na face, só queria acalmar o seu coração, mas eu própria não conseguia acalmar o meu, esta situação do pai da Sam ainda me deixava preocupada. Saímos da faculdade, nenhuma de nós se encontrava com a melhor disposição para festejar, falei com o Alex e ele por momentos ficara chatiado, mas depois acabou por entender. Levei a Sam para casa e enquanto que eu fora para o meu quarto, ela sentara-se no sofá. Ainda lhe perguntara se ela queria que eu lhe preparasse alguma coisa para comer ou beber, foi em vão, ela mal falou, só me disse para me ir deitando e que depois me faria companhia e assim fiz.
Lá estava eu, deitada, a pensar em tudo o que acabara de acontecer, a Sam preocupava-me mesmo e eu tinha de tomar uma decisão, não poderia permitir que a sua família cortasse relações com ela por minha causa, ela precisa da sua família por muito que me custe admitir. Ao mesmo tempo não queria pensar no assunto e na decisão tomada, iria ser uma mudança radical nas nossas vidas, mas iria ter de o fazer... Amanhã iria fazê-lo, mas hoje iria descansar e deixar a Sam recuperar. Amanhã tenho de trabalhar, vai ser mesmo complicado, já sei como irei ficar com isto tudo.
POV NARRADOR
Ali estavam elas, as duas no meio da sala, sentadas no sofá, olhando apreensivamente uma para a outra. Os seus olhares diziam tudo. Desilusão, tristeza, raiva, todos estes sentimentos eram visíveis no olhar da Sam. A Lara nem sabia bem o que dizer mais.
"Vamos acabar... Por causa do meu estúpido pai?! Faz sentido, faz sentido..." A Sam repetira aquelas últimas palavras várias vezes, como se tentasse assimilar a informação que a atingira como um comboio.
"Sam eu amo-te, só estou a fazer isto para o teu..." A Sam nem deixou a Lara terminar a frase e levantou-se rapidamente do sofá.
"Se me amasses não me deixavas, só estás a dar essa desculpa porque já estás farta de mim. Eu aqui disposta a cagar-me para o meu pai para estar contigo e tu dás-me automaticamente com os pés. Inacreditável..."
"Tu és uma das únicas pessoas que eu tenho Sam, eu vou continuar a estar ao teu lado, não me iria perdoar se te deixasse." Lara levantou-se também e tentou abraçar a Sam, mas ela empurrou-a.
"Poupa-me!" Os seu olhos agora encontravam-se húmidos, porém Sam esforçava-se ao máximo para esconder as lágrimas. "Vai mas é trabalhar e deixa-me em paz. Já não há mais nada para dizer..." Ela dizia isto com voz tremida, ela própria tremia devido à raiva que sentia naquele momento.
O coração da Lara doía, a Sam estava a reagir mesmo mal com a separação, e não se queria ir embora devido a esta circunstância.
"Sam...eu vou trabalhar sim, mas diz-me que ficas bem?" Não obteve resposta."Sam ficas bem??" Ela desta vez perguntou com mais convicção.
"Sim, sim... Fico. Agora deixa-me em paz, por favor. O que menos quero agora é ver-te."
"Estás a magoar-me Sam."
"Achas que te encontras na posição para dizer isso?!"
Sam tinha razão, e Lara sabia-o bem, ela merecia estar a ser magoada, merecia a maneira como a Sam a estava a tratar. Lara sorriu tristemente e pegou nas chaves do carro para ir trabalhar. Fechou a porta sem dizer mais nada e deixou a Sam sozinha, tal como ela queria, a última coisa que ela vira fora a imagem destroçada da Sam, fitando o chão.
POV Lara
Isto correu pior do que eu esperava, eu só queria que ficássemos relativamente bem... Mas em vez disso a Sam agora nem me quer ver. Só faço merda, mas é para o bem dela... Para o nosso bem... Só espero que tenha sido a coisa certa a fazer. Não quero que ela me deixe, não me perdoaria se perdesse uma das únicas pessoas que tenho. O Roth e a Sam... Nem consigo imaginar se os perdesse. Se eles não existissem ficaria desamparada, nem havia mais razão para existir.
Quando cheguei ao carro, abri a porta e sentei-me, por momentos parei e respirei fundo, já estava a entrar em paranóia. Depois lembrei-me e fui ver os bolsos do casaco e reparei que me tinha esquecido do telemóvel. És sempre a mesma coisa Lara, não tens remédio. Agora vais ter de ir lá a casa novamente, quando um momento constrangedor poderia ser evitado.
Saí do veículo e subi as escadas do prédio a correr, o elevador estava ocupado de momento e não queria chegar atrasada mais uma vez ao trabalho. Abri a porta de casa e nem um som era ouvido, ainda chamei pela Sam pois não encontrava o telemóvel em lado nenhum.
"Sam! Esqueçi-me do telemóvel, viste-o?"
Continuei sem ouvir respostas e fui pela casa à procura do objeto fugitivo. Dei conta de que a porta da casa de banho estava fechada e para me sobressaltar ainda mais, estava trancada.
"Estás aí dentro Sam? Porque trancaste a porta?" Ainda fui ver o resto do apartamento e ela sem dúvida que se tinha fechado na casa de banho. "Isto já não tem piada, Sam abre lá o raio da porta. Vais-me obrigar a deitá-la a baixo?!" Comecei a pensar em coisas que me deixavam o coração apertado e não tive mesmo outra escolha se não deitar a porta abaixo. Não consegui à primeira nem à segunda tentativa por isso fui buscar o extintor do prédio e comecei a bater na maçaneta da porta, até que arrebentei com ela. Quando vi a imagem à minha frente é como se tivesse perdido a força toda que tinha.
A Sam, a minha Sam, estava deitada e imóvel no chão, encostada contra a parede. Fui a correr em seu auxílio, ela ainda estava quente, peguei no seu pulso e ainda tinha pulsação, mas muito fraca. Ela tinha um cinto apertado à volta do pescoço, tirei-o imediatamente, eu nem conseguia pensar em nada, só de a ver ali assim matava-me.
Tentei reanimá-la com respiração boca a boca e fiz vários movimentos sobre o seu peito tal como aprendera pelos filmes, não tinha mais nada a que recorrer naquele momento a não ser ao meu conhecimento ridículo de filmes que a Sam me mostrara.
Como se os céus tivessem ouvido as minhas preces, ela começou a abrir os olhos, podia bem ver que eles não se conseguiam manter bem abertos nem focados em nada.
"Oh Sam! Ainda bem que acordaste, pregaste-me um susto de morte."
"La...Lara?! O que estás aqui a fazer..."
"Esquecera-me do meu telemóvel e vim buscá-lo e quando chego aqui a casa vejo-te neste estado. Pensava que te ia perder."
"Mais valia... Já que nem comigo queres estar..."
"Não digas essas coisas Sam, eu ainda te amo e duvido que deixe de amar. Estou a fazer isto para o bem das duas... Mas parece que só faço merda." Não consegui impedir as lágrimas de me escorrerem pela cara abaixo, sabia bem que a Sam estava zangada comigo como nunca antes e também quebrada como nunca vira, mas mesmo com estes sentimentos todos ela ainda me afagou o cabelo e deu-me um beijo na bochecha.
"Vamos levar-te a um hospital."
"Lara deixa-me está bem? Já impediste que me sufocasse será que agora posso ir para o meu quarto?!" Ela ficou super irritada de repente, era compreensível até, mas era estranho a rapidez como ela mudara.
"Eu não vou mudar de ideias Sam, tu vens comigo e pronto?! Quero ver se está tudo bem contigo."
Ajudei-a levantar-se e apesar de eu saber que ela iria muito contrariada, deixou-me levá-la até ao carro. Acelerei mesmo em zonas que não devia, mas a Sam era mais importante. Ao chegar ao hospital dirigi-me às urgências, com a Sam pela mão. Fui ter com uma das senhoras dos balcões de atendimento aos doentes e disse-lhe o que se passara e que queria ver se estava tudo estável com a Sam, por esta altura ela mostrava-me uma cara furiosa e nem me dirigia a palavra. Só esperámos alguns momentos até que um médico nos atendeu e nos levou para o seu consultório. Ele fez tantos exames que acabou por descobrir que a Sam tinha digerido substâncias que lhe provocariam certamente uma overdose se não fosse feita uma desintoxicação. Ela recusou-se a fazê-la, dizia que queria desaparecer, os enfermeiros agarraram-na e forçaram-na a deitar-se numa maca. Eles prenderam-na porque não parava de se mover convulsivamente ao se tentar libertar e tiveram de a anestesiar para ela adormecer enquanto faziam a desintoxicação. O meu coração doía só de a ver em tal estado... Por isso é que ela queria voltar para o seu quarto, por isso é que ela usou o cinto, para o caso de não resultar, os comprimidos fazerem efeito. Ela foi tão inteligente, como se tivesse pensado em tudo, julgo que alguém quando quer pôr termo à vida tenta fazer de tudo para que isso corra bem... Ou bem mal.
Fiquei uma hora e tal à espera de notícias até que vieram ao meu encontro e me disseram que a Sam ja se encontrava internada, mas que ainda dormia. Eu preferi esperar que ela acordasse a ir trabalhar, ela precisava de mim e trabalhos haviam muitos e depois de tantas vezes a faltar e a chegar atrasada de certeza que me iriam pôr no olho da rua.
Quando ela acordou eu fui ao seu quarto, ela não queria falar comigo, mas eu insisti em ficar a seu lado, mesmo que fosse só em silêncio. Deitava-me a seu lado e ela não dizia uma única palavra, talvez não devesse fazer aquilo, apesar de tudo continuava a preocupar-me com ela e não conseguia evitar.
Ia vê-la ao hospital pelo menos umas duas vezes por dia e pouco a pouco nós fomos falando e a Sam foi abrindo o coração para mim. Pediu-me desculpa pela forma como me tratara, porém não se arrependeu de ter tentado pôr termo à sua vida e quem era eu para refutar isso, não posso dizer o que é que uma pessoa deve ou não sentir, mas mostrei-lhe o meu descontentamento perante essa declaração. Passados três dias de estar internada pude trazê-la para casa e em menos de uma semana depois do ocorrido ela veio falar comigo e deu-me a noticía de que tinha falado com o seu pai e que iria acabar a faculdade no Japão. Essa notícia deixou-me de rastos.
"Lara não é o fim do... Que quer que haja entre nós, continuamos a ser amigas... Ou algo assim. Só acho que ambas precisamos de nos afastar. Custa mais a mim que a ti, acredita. Já estou cansada de mudar de país, mas neste momento não posso estar perto de ti, não posso e não quero."
Doeu-me tanto e podia jurar que a Sam a este ponto não queria saber, tinha-a aconselhado a ir a um psicólogo e tudo e agora ela só se focava em si e queria fugir dos problemas e de tudo o que conhecia aqui e o pior é que se queria fugir de mim.
"Sam... Isso é demasiado radical, porque não acabas a faculdade aqui?! Eu já percebi... Não me queres por perto, mas porque é que me fazes isto depois de tudo o que eu fiz por ti? Talvez o mereça, deve ser isso..."
"Lara..."
Não a deixei falar e virei-lhe as costas, fechei-me no meu quarto e só saía para satisfazer as minhas necessidades humanas, quem me dera ser uma máquina naquele momento, nem dor sentiria. Nós duas não falámos mais até ao dia em que a Sam teve de ir para o aeroporto, eu não a acompanhei, não suportaria tal coisa.
"Lara... Não queres mesmo vir? Gostava de me despedir de ti mesmo antes de voar."
"Não posso Sam, desculpa."
Ela sorriu tristemente para mim e suspirou, pegando de seguida nas suas malas.
"Isto acaba assim... Estamos num bom termo ao menos?"
Cruzei os braços e encostei-me na porta.
"Diz-me tu, mas não me apetece falar disso. Faz boa viagem Sam." Cada palavra que saía da minha boca é como se estivessem a arrancar uma parte de mim.
"Obrigada, Lara... E lamento que tenhas sido despedida. Sei como te faz falta um trabalho."
"Eu arranjarei alguma coisa, não tenhas pena de mim, não preciso dela, consigo fazer isto sozinha."
"Está bem... Até um dia Lara. Adeus."
"Adeus."
Fechei a porta e nunca mais a vira, a não ser pelas suas atualizações no instagram e no facebook, mandáva-mos mensagem uma à outra de vez em quando, mas nunca desenvolvia-mos muito a conversa. Os meses foram passando e fiquei a saber que no tempo em que não nos víamos ela tinha arranjado uns quantos namorados, sentia uma amargura tal dentro de mim. É como se ela já tivesse ultrapassado tudo, se me tivesse esquecido e cá estava eu, sem ser capaz de ter mais alguém, porque só pensava na Sam. Todos os meses chegava o correio e recebia um envelope com dinheiro por parte da Sam, ela continuava a querer pagar a sua parte da renda como se continuasse a viver comigo, sempre que pegava no envelope dava-me vontade de o queimar, ao vê-lo voltava a lembrar-me do quão vazio este apartamento se encontrava e do quão sozinha eu estava e não havia nada que eu pudesse fazer para abrandar esta raiva e amargura dentro de mim, a não ser continuar com a minha vida, tal como a Sam continuara com a dela.

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