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  Acordei com o barulho de uma parafusadeira perfurar meu pensamento e me fazer despertar de uma só vez no susto. Fiz logo uma careta quando abri os olhos, levantei da cama e saí do quarto e fui até de onde vinha o barulho. Meu pai estava na sala parafusando a parede, era um barulho alto demais, eu falava seu nome e ele não virava, berrei seu nome ele levou um susto, fazendo a parafusadeira cair no chão e quase o machucar. Ele deixou escapar um palavrão antes de se virar para mim.

- O que houve, Melanie? – perguntou.

Olhei para ele mostrando que achei sua pergunta um tanto retórica.

- Que merda é essa de manhã cedo?

Ele sorriu.

- Estou colocando prateleiras. – disse animado e olhou para o seu pulso em seguida – E já são duas da tarde.

Revirei os olhos.

- Você tem que parar com essa loucura de mudança.

- É o que me faz bem, Melanie. Não me peça para parar com o que ocupa minha mente.

Era realmente injusto pedir isso ao meu pai, ele parecia finalmente feliz, parecia superado da ida da minha mãe, não podia pedir isso a ele, porque eu mesma amava-o ver fazendo essas coisas.

- Desculpe, estou sendo egoísta.

Ele sorriu sutilmente.

- Você só quer paz no seu canto. Eu entendo. Você parece muito com ela.

Fechei minha expressão por completo com seu último comentário. Não gostava de ser comparada com ela, não gostava de falar sobre ela. Já havia me adaptado sem ela, era mais fácil agir como se ela não existisse mais.

- Vou tomar um banho e ir para a cafeteria.

Meu pai assentiu e voltou para seu trabalho. Me arrumei e dirigi até a cafeteria, como hábito, me sentei naturalmente na mesa e esperei o garçom aparecer me oferecendo algo, então Kent apareceu. Eu fui tão burra ao ponto de esquecer o fato de que Kent trabalhava aqui e que nós havíamos terminado, estava agora em uma situação constrangedora.

- Por que está aqui? – ele perguntou baixo e educado.

- Desculpe. De verdade. Eu...

Ia terminando a frase, mas então percebi no quanto seria pior dizer que havia esquecido ele.

- Você esqueceu? – ele perguntou um pouco incrédulo.

Molhei os lábios e engoli o seco.

- Kent... Eu vou embora. É melhor.

Ele me fitou por alguns instantes.

- Com licença. – ele foi embora, levando consigo mágoa e raiva de mim.

Mordi meu lábio decepcionada comigo mesmo, por falhar com as pessoas incessantemente. Me levantei e fui embora. Dirigi sem destino, a cidade era pequena então sempre voltava para o mesmo lugar, estacionei o carro em um meio fio e bati com a cabeça no volante.

Estava sofrendo com minha vida amorosa, por de tão parada de repente se tornar tão disfuncional. Não queria ser aquela típica garota que se corroía com seus sentimentos por um garoto, mas lá estava eu sendo aquela típica garota, não havia mais nada que eu pudesse fazer, era minha culpa por permitir que isso acontecesse desde o início, é minha culpa por ter permitido que isso prosseguisse, é minha culpa por apenas ceder. Se eu tivesse dito um "não" e parado não estaria nessa situação nesse momento.

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