XIII - Dream or Nightmare?

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A R I A N A

"Todo mundo tem problemas, isso é óbvio. Algumas pessoas conseguem escondê-lo e fingir que nada está acontecendo, outras simplesmente saem por aí contando seus problemas para todo mundo sem se importar com o resto. E existe a minoria que se isola de todos por um tempo, e depois de passar horas chorando, volta ao normal como se absolutamente nada tivesse acontecido. Eu acho que faço parte dessa minoria. Não que eu chore sempre que aparece algum problema, eu apenas me isolo ou ás vezes eu escondo os meus problemas e ouço o problema dos outros tentando ajudá-los, mesmo não conseguindo me ajudar.

Eu já coloquei várias pessoas em primeiro lugar, e isso acabou virando uma bola de neve imensa que no final caiu em cima de mim. As pessoas que você ajudou, que você aconselhou simplesmente te esquecem quando você precisa deles. Isso já aconteceu bastante comigo, e acho que é por isso que eu evito ficar perto de outras pessoas, por isso que evito ter amizades. Meu irmão e minha mãe pra mim bastavam. Isso antes de vir pra cá. Antes de dormir, eu penso no quão estúpida, metida e infantil eu estava sendo com aqueles que tentavam se aproximar. Como a Richie por exemplo, ela veio até mim toda sorridente querendo um abraço, provavelmente feliz por ter alguém pra conversar que não seja a minha vó e eu simplesmente expulso ela do meu quarto. A vovó também, deve ter dado um trabalho absurdo reformar esse porão para ficar do jeito que eu gosto, e eu nunca agradeci. Se eu pudesse voltar no tempo, eu faria questão de tratá-las diferente.

Eu tenho uma família incrível e nunca pude perceber isso. Nós sempre percebemos o quão boa nossa vida é, quando perdemos alguém. Sempre da pior maneira. Será que ela sabe o quão eu sou grata por tudo o que ela fez por mim? Claro que nós não nos falamos muito, e perdemos contato, mas cara, ela é a minha tia. Não de sangue óbviamente, mas é como se fosse. Lembro de quando eu era pequena, e a mamãe tinha que trabalhar e não confiava no Max pra cuidar de mim, ela nos deixava na casa dela. Ela fazia torta de morango pro Max, e torta de pêssego pra mim. Eu sempre tive gostos estranhos, e ela sempre fazia questão de me lembrar disso. Espero que você saiba o quão eu sou grata por tudo, tia. Eu me sinto um lixo quando lembro de como tratei você da última vez que nos vimos. Se eu soubesse que não te veria mais...eu juro que não teria feito nada daquilo. Eu estava nervosa por ele ter ido embora e deixado a gente, e acabei descontando em você. Eu sinto muito por tudo." Termino de ler o que está escrito no papel. Assim que volto os meus olhos para frente, não há mais ninguém sentado nas cadeiras brancas. Está tudo vazio. A coloração das folhas nas árvores havia mudado, estavam cinzas sem vida. Como se alguém tivesse sugado a vida delas. Tudo que havia ao meu redor era escuridão, e um caminho de folhas que levava para dentro da floresta. Não estava no cemitério, mas não conseguia localizar o local em que eu estava exatamente.

Segui a estrada de folhas que aumentavam conforme eu andava, o clima estava agradável, considerando a situação bizarra em que eu me encontrava eu estava calma. Logo aquela garotinha se juntou á mim. Eu não vi o momento exato em que ela apareceu, mas posso dizer que já tem um bom tempo. A medida que eu andava, tudo ficava branco. As árvores iam sumindo restando apenas o caminho de folhas. Coloquei a mão nos meus olhos, incomodada com toda a claridade. "Onde eu estou?" Perguntei á ela. Ambas estávamos muito calmas, como se estivéssemos dando uma caminhada matinal.

"Não sei ao certo." Ela diz olhando para o infinito branco. "Eu não tenho muito tempo, precisamos andar mais rápido", sua feição tranquila logo se transformou em medo. Eu chutaria que ela sente medo de alguém, mas havia apenas nós duas ali.

Dei passos largos tentando alcançá-la. "De quem tem tanto medo?" Arrisco perguntar. Ela não responde de imediato, como se estivesse decidindo oque fazer.

"Deles" respondeu apenas. Franzi o cenho, mas decidi não perguntar mais nada. Apenas a deixei me guiar para seja lá onde for.

O imenso espaço branco foi dando espaço á uma casa, que reconheci ser a casa da vovó. Estávamos no jardim. "Eles só tem acesso á essa parte do mundo" encarei a garotinha confusa.

"Como assim?"

"Eles vigiam apenas essa parte. Como no..." pensou em alguma referência. "Como no The Sims." Disse por fim. "Eles que observam tudo oque acontece nesse terreno, e assim como no jogo, você fica apenas no seu terreno."

"Por que estou aqui?" Pergunto confusa. Á minutos atrás eu estava em um cemitério. Ela não me respondeu, apenas entrou dentro de casa e eu a segui. O primeiro andar estava deserto, as pessoas provavelmente estavam dormindo. Subimos as escadas e fomos até o porão, e eu sorri ao me ver dormindo ao lado de Justin. Isso me fez chegar á conclusão de que tudo isso não passa de um sonho.

"Esse, é o sonho mais real que você vai ter em toda a sua vida" ela toca minha mão, e eu me assusto sentindo sua pele gelada. Foi um ato instantâneo e eu não esperava por isso. "Vocês são um belo casal"

"Obrigado" dou de ombros, mas não deixo de encarar o garoto que dorme tranquilamente.

"Você traz o lado humano dele. Justin não dorme desde o acontecido" ela morde o lábio inferior.

"Espera, você sabe o que aconteceu?" Deixo de encará-lo e foco minha atenção nela.

"Infelizmente não vai durar muito" ela me encara. "Nosso destino é outro, Ariana. E você precisa nos ajudar"

"Como assim?"

"Preciso que você nos liberte. Só você pode fazer isso."

"Libertar? Isso quer dizer que..."

"Céu, Ariana" ela me corta. "Nossas almas estão presas aqui, liberte-as" ela me encara com seus olhos brilhando. "Nós só queremos ir embora" suplica.

"Como eu fasso isso?" Engulo seco. Libertá-los significa perder o Justin pra sempre. Eu não quero perdê-lo. Quero que ele fique aqui, por mais que soe egoísta, quer dizer, é egoísta.

"Acabe com eles, antes que eles acabem com você" respira fundo "Você é esperta, e vai descobrir oque aconteceu em breve. Só..." encara o louro dormindo tranquilamente.

"Só não pense em si mesma." Continua. "Ele é feliz com você, mas nós não podemos ficar aqui e sofrer mais do que já sofremos. Precisamos descançar em paz. Você entende, não é?" Sinto meu coração se apertar com suas palavras. "Acredite, essa será a maior prova de amor existente no mundo" aperta minha mão.

"Vocês..." engulo seco, e não continuo a pergunta. Mas ela parece entender o que eu quis perguntar, e assente. Isso só comprova que a teoria da Joanne está certa. "Me dói apenas de imaginar o tanto que ele deve ter sofrido.'' Mordo o lábio inferior. "Vocês, na verdade"

"Eu não sei por que eles fizeram isso." Ela abaixa a cabeça. "Eu os amava tanto. Justin também"

Ouço alguém chamar pela menina, e ela me encarou assustada. "Seu tempo está acabando. Por favor nos ajude..." ela para de falar ao ouvirem chamá-la novamente. "Farei de tudo para ajudá-la, agora acorde" Franzo o cenho.

As paredes do quarto começam a descascar, e eu desço as escadas rapidamente, indo para o jardim, vendo a casa sumir. Em seguida, o branco aparece novamente e eu não enxergo mais nada.

***

Entendedores entenderão
a referência da casa se
desentegrando, e do "branco"
Eu estava assistindo Coraline 💙
Até o próximo capítulo❤
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