VI - I promise...

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  A R I A N A

Ela estava ali, me encarando com o seu olhar ameaçador e com seu ursinho rasgado. O quarto estava escuro, sendo iluminado apenas pelos relâmpagos. Fechei os olhos com força e desejei que ela sumisse, e assim que os abri novamente, não a encontrei. Suspirei aliviada e deitei novamente pra conseguir dormir. Um grande erro.
Assim que olhei para a direita, ela estava ali. Foi automático o meu grito extremamente fino.

"Eles sabem do seu segredo" ela disse.

"Sai daqui!" Eu gritei. Mas ela continuou ali, sem expressão alguma, se aproximando lentamente da minha cama.

"Logo vamos estar juntinhas, eu prometo" ela disse encostando no meu pé.

"Sai! Sai! Sai!" Continuei gritando e ela foi em direção à janela, e sumiu. Em seguida Max apareceu acompanhado do resto das pessoas que eu provavelmente acordei enquanto gritava.

"Ari?" Meu irmão veio até mim "Oque aconteceu?" Eu não respondi, apenas o abracei chorando.

"Ela...ela tava ali e..." tentei explicar oque estava acontecendo, mas não consegui. Justin se aproximou lentamente.

"Pra onde ela foi?" Susurrou, e eu apontei em direção a janela. E a desgraçada estava ali novamente. E eu gritei de novo, agarrando o braço do meu irmão com força. Só vi Justin e vovó correndo até a janela, antes de fechar os olhos. Eu não desmaiei, mas também não consegui dormir depois que ela apareceu.

Agora eu me encontrava sentada na minha cama, encarando o nada tomando o chá que mamãe fez pra mim, enquanto vovó me faz milhares de perguntas diferentes. Não que eu não quisesse respondê-la, mas é que eu não estava prestando atenção em nada do que ela dizia. Oque aquela garota quis dizer com 'logo estaremos juntinhas'? Eu não quero ficar junto com ela nem que me paguem. Se ela não tivesse tentado me matar, e me traumatizado eu até poderia cogitar a idéia de que ela talvez quisesse ser minha amiga. Mas é óbvio que não.
Justin não apareceu depois de ter ido até a janela. Eu adoraria que ele estivesse aqui, sei lá, me sinto mais segura sabendo que há outro deles bonzinho comigo. Eu sinceramente me sinto mais segura.

Não sei qual desculpa a vovó inventou para a mamãe, o Max, e a Richie. Só sei que ela conseguiu fazer com que todos voltassem a dormir, enquanto ela ficava comigo.

"Quer me dizer, oque ela disse?" Perguntou novamente com sua voz doce. Ela não me engana, ela está impaciente.

"Oque você e Justin tanto conversaram anteontem?"

"Nada muito importante, pode ficar tranquila"

"Então aquela garotinha também não me disse nada importante, pode ficar tranquila" dei de ombros.

"Estávamos tentando descobrir quem ela poderia ser" suspirou derrotada. "Agora quer me responder?"

"Ela disse que eles sabem o meu segredo, e que logo estaremos juntas" fechei os olhos com força.

"Não a encontrei, em lugar nenhum" abri meu olhos, e vi Justin se aproximando.

"Querido, fique aqui com a Ari ok?" ele assentiu. "Eu vou descer. Qualquer coisa me chamem" sorriu antes de fechar a porta.

"Hey..." sentou-se na cadeira onde vovó estava sentada.

"Ela me ameaçou" ganhei um olhar confuso.

"E oque ela disse?"

"Eles sabem do seu segredo. Logo estaremos juntinhas, eu prometo" repeti.

Eu não estava esperando que ele me abraçasse. Mas foi exatamente oque ele fez. Justin se levantou da cadeira, sentou-se ao meu lado na cama, e me abraçou. Abraçar um fantasma não é tão estranho quanto pode parecer. Na verdade, foi um dos melhores abraços que eu ganhei.

××××

No dia seguinte, os novos vizinhos me convidaram para almoçar na casa deles, e de acordo com a mamãe eles ficaram bastante preocupados com o meu corte. Engraçado, é que já fazem três dias. Mas tudo bem, talvez eles se sentiram culpados e só criaram coragem agora. Mas de qualquer forma eu aceitei.
Aceitei porque talvez eu esteja me enganando em relação à eles. Eu vesti o mesmo cropped que eu estava usando no dia do "acidente" e uma calça jeans que um dia foi branca com alguns rasgados. Me surpreende essa calça ainda ter partes brancas, porque ela é super velha e eu usava ela pra ajudar meu pai á concertar o carro dele.

Justin disse que se ele não fosse junto, eu não iria. Então aqui está ele, ao meu lado enquanto eu bato na porta pela terceira vez, esperando alguma boa alma vir abrir a porta. Bufei impaciente com a demora, e quando fui bater mais uma vez, o senhor Robert abre a porta e sorri ao me ver.

"Ariana! Perdoe a demora, estávamos nos fundos e não ouvimos" ele se desculpa. "Entre, minha esposa Margaret está no quintal" passei por ele, e Justin veio atrás de mim com os braços cruzados e olhar de detetive desconfiado.

Ele disse que não acredita que eles estejam realmente com peso na consciência, e que não engoliu essa história de almoço. Eu apenas revirei os olhos, e pedi que ele desse uma chance aos vizinhos. Aliás eu vou ficar aqui por um longo tempo, e não estou a fim de ter vizinhos que me odeiam, mais uma vez.

Margaret estava sentada na mesa de madeira que eles tinham nos fundos, enquanto tomava seu vinho e folheava uma revista aleatória. Seu espanto é nítido quando ela percebe que eu estou parada a poucos metros de distância dela, a observando. Meu grande amigo detetive que estava ao meu lado, não perdeu tempo em ir até ela para ver qual revista ela estava olhando.

"Ariana amor!" Vi Justin fazer uma careta, e eu sorri.

"Oi Margaret" nos abraçamos. As expressões de nojo do Justin são as melhores.

"Veio sozinha?"

"Hurum. Era pra trazer mais alguém?"

"Não, não. Como está sua barriga? Fiquei com um peso na consciência que você não tem idéia"

Justin revirou os olhos.

"Está melhor. Obrigada"

××××

Eu não sei se era só pra mim, mas o clima estava um pouco tenso. Sr.Robert fez questão de mostrar seus dotes culinários, fazendo sushi. Eu detesto sushi. Mas eu admito que sou uma atriz maravilhosa, e que as emissoras famosas de televisão não sabem oque estão perdendo. Com a desculpa de que precisava ir ao banheiro, eu consegui escapar do cheiro horrível do peixe. Justin havia sumido pela casa, assim que começamos a almoçar e eu como sou um ser humano de espécie curiosa, tentei encontrá-lo

Andando pelo corredor, começei a observar os retratos que estavam pendurados. Grande parte era de Margaret e Robert se beijando. Oque eu acho um pouco nojento, porque na minha cabeça gente velha não se beija mais. Não que eles sejam velhos, mas novos eles também não são. Mas um quadro em especial, era de uma garotinha, que tinha um olhar assustado.

"Perdida querida?" Me assutei com a voz de Margaret.

"É...estava observando os quadros. Perdão" tentei sair, mas ela me segurou pelos ombros.

"Esta era a Chelsea. Nossa filha. Infelizmente, ela ficou doente e não resistiu"

"Eu sinto muito"

"Ah querida. Não sente não" susurrou a última parte. "Acho que se você demorar mais um pouquinho, sua vó vem aqui e nos mata"

"Provavelmente. Muito obrigado pelo almoço"

Ela não disse mais nada, apenas me levou em direção à saida e assim que eu saí, ela bateu a porta atrás de mim.

××××

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