Capítulo 1

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O ar gelado vinha como um açoite em seu corpo, não é a primeira vez que isso acontecia, na verdade sempre acontece do mesmo jeito, quase todas as noites, sem aviso prévio e então logo depois as imagens que faziam seu estômago revirar.

— Não!

E assim acordava, gritando, sentada no meio da cama com as mãos na barriga segurando a ânsia, respirando com dificuldade uma, duas, três vezes profundamente buscando algum controle, ao passar as mãos no cabelo molhado de suor quando enfim conseguiu alguma calma depois do pesadelo. Puxando os pés para fora da cama tocando o granito frio, a sensação lhe era bem-vinda, fazia ter a consciência que estava acordada, livre de todas aquelas imagens nauseantes. Ao caminhar até a janela viu que ainda era madrugada com neve caindo luzes piscantes na frente das casas e pela rua, era Natal.

Com um suspiro retomando o controle do seu corpo ela saiu do quarto atravessando a sala do pequeno apartamento seguindo direto para cozinha onde fez um café bem forte. Era isso que precisava, ela não voltaria a dormir o que era um fato já conhecido, logo ela estava em frente ao seu computador fazendo suas checagens de arquivos, os mais variados, precisava ocupar sua mente e nada era melhor que trabalho.

Todos sempre queriam saber seu segredo de memorização de tantos arquivos, bom, o segredo era aquele praticamente não dormir, viver a vida como uma espécie de vampira com sua fonte alimentícia no café. Tomando mais um gole do líquido amargo da caneca preta, ela olhou para o arquivo que havia chegado não fazia muito tempo e veio de um endereço de e-mail particularmente importante, pois o dono dele nunca mandava arquivos que não fossem de extrema importância. Faça valer meu tempo... Falou mentalmente clicando no arquivo com um nome: Oliver Storm, a qual não lhe era estranho, ao começar a ler o arquivo sorriu sem realmente expressar alguma coisa, apenas o frio reconhecimento de que seu Zio aprontava algo.

— O que pretende?

Perguntou ela batendo as unhas bem feitas pintadas de vermelho rubro sobre a mesa de mármore branco, não demorou em ela ler tudo que tinha sido enviado e não teve muitas surpresas quanto ao "tipo" a qual estava sendo introduzido aos negócios da máfia italiana, entediada ela olhou no relógio e então sem mais delongas macbook colocando-o no cofre dentro de um fundo falso na gaveta do armário de cozinha. Se ela era neurótica? Sim, absolutamente, gostava de manter as coisas seguras, sempre estar um passo à frente porque só foi assim que sobreviveu aquele mundo machista e ganhou o seu próprio espaço, fazendo seu nome ser tão temido quanto do próprio Capo da máfia.

Ela concluiu a limpeza de toda a cozinha, o mesmo fez no com o quarto, entrando no closet onde pegou uma calça skinny preta, uma camisa de gola rolê preta junto de um sobretudo da mesma cor. Após um banho encarou seu rosto no espelho meio embaçado, olheiras estavam mais evidentes que o normal, ela fez uma maquiagem rápida encobrindo qualquer imperfeição, secou os cabelos, vestiu-se rapidamente e uma hora depois fechava a porta de saída, abrindo outra logo que ficava em um vão entre a parede verdadeira do apartamento e uma falsa então finalmente saiu.

Era um apartamento dentro de outro, um era a isca o outro era onde ela se mantinha escondida, ninguém fazia a mínima ideia daquele lugar e ela fazia questão de manter esse outro segredo porque gostava de ficar sozinha sem ninguém para se intrometer em seu silêncio, pois sua vida já era tumultuosa demais para ainda deixar que atrapalhasse os escassos momentos calmos que possuía. Ela desceu as escadas para pegar um elevador privado que dava direto a uma garagem subterrânea onde uma Lamborghini Centenario, aquilo era uma das poucas coisas que a fazia alegre: Carros velozes.

Ao ronco dos motores ela apertou a mão envolta do volante enquanto o portão da garagem se abria, não demorou muito para que acelerasse com o carro saindo daquele lugar quebrando o silêncio daquela manhã de Natal. As ruas ainda iam vazias dessa forma sobrava espaço para um pouco de direção imprudente, acelerou até chegar ao seu primeiro destino e com perfeição manobrou o carro em uma parada ousada na vaga em frente a uma loja de flores, onde ela ia todos os anos religiosamente naquela data.

Uma CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora