Capítulo Três

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Vivian desceu do táxi e subiu a longa escadaria, que levava ao consultório antigo em que ela havia atendido dois pacientes da criônica. Ela temia as pessoas que trabalhavam ao redor, elas poderiam suspeitar de suas raras aparições. Todos acreditavam que aquele consultório era odontológico.

Na verdade, era só para camuflar e Vivian sabia que precisava se mudar dali, temia a desconfiança de alguém. Assim que chegou às dezoito horas, subiu apressadamente e cumprimentou as pessoas sem delongas, seu contato com elas era mínimo o possível, não queria ser questionada. Abriu a porta e a fechou rapidamente, trancando-a; limpou a mesa e cadeira empoeiradas e vestiu seu jaleco branco.  

Vivian teve certeza de que Arsénio havia lido a mensagem. Seu celular tocava e era a paciente indicada por Levi, e autorizou sua entrada.

A campainha tocou e Vivian se apressou em atendê-la.

— Boa noite, Dra. Vivian — cumprimentou a mulher de longos cabelos louros, olhos claros, trajando um vestido vermelho.

— Boa noite, entre, por favor. — Vivian convidou a mulher para se sentar, mas ela se negou ao ver a cadeira polvorosa. Era a terceira pessoa que Vivian recebia, os outros pacientes foram encaminhados para Levi.

— Consultório será transferido, aqui será provisório.

— Tudo bem.

— Senhora Ápia, tem certeza?

— Sim.

— Pela sua ficha, está tudo ótimo, você está autorizada para o procedimento.

— Não sei para que tantos exames, estarei morta mesmo.

— Eu preciso que você tenha consciência de que ainda não sabemos como trazer um falecido de volta à vida. O exame clínico é necessário para o seu histórico e retorno. Senhora Ápia, eu agradeço pela confiança em nosso trabalho, mas sinto em lhe dizer que ainda não conseguimos reviver ninguém.

— Eu sei. Quando for possível, estarei de volta.

— Não é porque existem coisas nesta atual geração que antigamente eram consideradas impossíveis, que o objetivo da criônica será possível. Você tem consciência que podemos falhar?

— Sim.

— E por que quer continuar com a incerteza?

— Porque eu não quero envelhecer.

— Desista dessa loucura, a senhora é jovem e poderá sustentar essa juventude com hábitos menos custosos.

— Dra. Vivian, eu tenho trinta e dois anos de idade e sei que manter a minha juventude é algo impossível. Garanta-me que respirar esse ar, terei meus trinta e dois anos para sempre? Dr. Levi não me disse que eu teria de passar por uma consulta psicológica antes.

— Eu não vejo vantagem nisso. A senhora não tem família?

— Dra. Vivian, eu conversei com Levi e o que eu mais quero é retornar num futuro distante e ter uma vida mais avançada e incrível que tantos deduzem.

— Você não quer envelhecer e quer retornar num futuro distante?

— Sim.

— Você acredita num mundo perfeito e diferente deste em que vivemos?

— Sim. Não quero fazer parte desta geração, mas da próxima, ou melhor, da geração mais distante que possa existir.

— E quem garante que as características idealizadas de um mundo distante, aproximadamente daqui a cinquenta ou cem anos será agradável?

Juventude de Aço(Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora