Uma conferência estava ocorrendo em São Paulo, com uma palestra do físico-químico Levi, um homem de quarenta anos que despertava admiração e curiosidade sobre um assunto polêmico: criônica. Levi discorria sobre a conhecida "criogenia humana", a prática de resfriar corpos de pessoas legalmente consideradas mortas. A criônica teve origem com o físico Robert Ettinger e ganhou adeptos com o desejo comum de alcançar a condição técnico-científica para a possível ressurreição após a morte. Embora as técnicas atuais sejam limitadas, isso não impediu a inauguração da clínica em que Levi era um dos fundadores. Os participantes seguravam a revista americana chamada "Biological Maintenance", que destacava a clínica brasileira como pioneira na criogenia humana no país.
— Acreditar é a base da existência de uma ideia. E, por mais polêmico e receoso que pareça ser, acredito plenamente que estamos perto de um feito surpreendente para as próximas gerações — disse Levi, entusiasmado, para pessoas de diversas nacionalidades. — Atualmente, com as tecnologias médicas, conseguimos contornar a morte, e nosso objetivo é adiá-la cada vez mais. Afinal, é perceptível o progresso na atual expectativa de vida, mas a morte ainda não é inevitável.
A inauguração da primeira clínica latino-americana destinada aos pacientes criopreservados para serem revividos chamou a atenção não apenas da imprensa científica, mas de todos os setores. A clínica existia há dois meses, desde que a equipe decidiu investir na criônica, atraindo a atenção global. No telão, Levi apresentava os protótipos das novas cápsulas substitutas para trinta pacientes.
— Com a implementação dessas novas cápsulas, conseguiremos refrigerar especificamente cada órgão e injetar substâncias apropriadas para diferentes tipos de células que possuímos. O custo é maior, mas é válido e necessário. Devemos preservar nossos órgãos, que sofrem danos durante o processo de resfriamento.
Cada imagem mostrava a estrutura interna da cápsula refrigeradora, mais complexa do que as atuais utilizadas e importadas.
Não apenas o Brasil, mas também os EUA, Inglaterra e Rússia – outros países com centros criogênicos – aprovaram essa mudança. Ao término da palestra, Levi desceu do palco sob aplausos. Vivian, fisioterapeuta e sua amiga, aproximou-se e colocou a mão em seu ombro, parabenizando-o com um sorriso.
— Não consegui perceber seu nervosismo — disse Vivian, acompanhando-o até uma cafeteira.
— Eu tremia, mas participar de uma conferência mundial em casa não é uma oportunidade a ser dispensada. É um passo para a valorização da ciência em nosso país. — Levi não desviava o olhar do palco, onde agora o bioquímico Anacleto ministrava uma palestra.
— E quanto ao Arsénio? Ele me deu carona, mas não quis ficar para participar. — Levi comentou.
— Eu estava prestes a perguntar sobre ele agora mesmo. Procurei por ele em todos os lugares e até liguei, mas só dá caixa postal. Por que ele não ficou? — Vivian tentava ligar novamente para Arsénio, mas só recebia a gravação da caixa postal.
— Ele estava diferente. Acredito que tenha sido por causa das nossas reflexões durante a madrugada na clínica.
— Por quê? Quando liguei, ele disse que estava tudo bem, que só estava terminando de organizar o documento apresentado na palestra.
— Depois disso, ele começou a especular sobre imortalidade, seus resultados negativos para o futuro, e eu debatia com ele, pois sou um futurólogo e quero ser responsável positivamente nesse processo. Ele disse que as pessoas precisarão de apoio, estrutura social no novo ambiente em que serão inseridas. E eu até concordei com ele, mas, socialmente falando, não sei como será o futuro a ponto de deduzir os problemas que essas pessoas enfrentarão. Além disso, a possibilidade de estarem sujeitas a uma saúde frágil e passarem por tratamentos permanentes. No entanto, até lá, poderá existir novas tecnologias capazes de isentar qualquer empecilho de doença que existe hoje. Por isso, sei que a criônica funcionará, mas não será hoje ou amanhã.
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Juventude de Aço(Completo)
Ficção CientíficaVivian, Levi e Arsénio são três cientistas que decidem investir na criônica, prática para resfriar pessoas após seu falecimento. A princípio, os três estão confiantes que estudos avançados serão necessários para trazer seus pacientes de volta à vida...