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Antes que eu pudesse abrir a porta mas Marc o fez primeiro.
- Graças a Deus - ele me puxou e me abraçou - Estava louco atrás de você, quis sair correndo quando te vi saindo, mas não deixaram por causa do desfile idiota.
- Eu só preciso ficar perto de você, agora - enterrei meu rosto nos braços dele - podemos entrar ?
- Claro, meu amor - ele segurou a minha cabeça como se me protegesse e me guiou para dentro do quarto.
Desfiz o abraço e corri para a sacada; não queria que ele me visse chorar, mas ele correu até mim.
- Sinto muito pela sua mãe - Marc me abraçou enquanto eu soluçava.
- Eu nem tive a chance de me despedir... - lembrei e sentei no chão olhando para o jardim.
Ele se sentou do meu lado e me abraçou.
- Ela nunca estará muito longe - senti a mão dele fazer carinho na minha cabeça - toda vez que sentir saudades, você só precisa pensar nos momentos bons que vocês tiveram juntas, e ela estará sempre no seu coração.
- Meu pai morreu na guerra quando eu tinha sete anos e Aurora apenas um; minha mãe teve que trabalhar como costureira e estilista - contei - perdemos a nossa casa e fomos morar em uma feita de madeira no meio do nada. Tinha dia que não tínhamos o que comer, achei que vindo para cá as coisas melhorariam e eu poderia voltar para elas com dinheiro suficiente; mas agora ela se foi...
Eu apenas chorava e abraçava Marc cada vez mais forte enquanto ele me balançava de um lado para o outro bem devagar, com a esperança de me acalmar.
- Eu sinto muito - ele não sabia o que dizer - mas eu estou aqui agora, tenta se acalmar.
Ficamos sentados com os olhos fechados, até que eu dormi alí mesmo. Marc me pegou no colo e me levou para cama deitando comigo logo depois, senti o abraço dele que fazia eu me sentir segura e calma. A respiração dele ficou cada vez mais calma, até que ele também dormiu.

~ Eu corria pela floresta fria e nebulosa ao anoitecer, ouvia barulhos de bombas e tiros mas não conseguia ver nada. De repente tudo ficou calmo e um grito ecoou no breu "AYLA! AYLA!! SOCORRO!" era a voz de Aurora; corri em direção ao grito mas meu vestido longo enroscava nos espinhos que havia no meu caminho.
Cheguei ao centro da floresta onde Aurora estava chorando junto a dois corpos sangrando no chão.
- Aurora, o que aconteceu ? - perguntei me ajoelhando e conferindo se ela estava machucada.
- Olha - ela apontou para os corpos que eu reconheci na hora: Meus pais.
Ouvi o barulho de um galho quebrando e me coloquei na frente da minha irmã que tremia.
- Quem está aí ? - perguntei.
Um homem saiu das sombras, tinha uma cara parecida com o de um rato (dentes grandes, cabeça inchada, nariz grande) e usava roupas pretas e chiques com um chapéu cocô na cabeça. Ele inclinou a cabeça para o lado e sorriu, eu acompanhei seu olhar que estava em Aurora.
- Não! - gritei um segundo antes de ouvir o som do tiro que matou minha irmã.
O sorriso do homem era maior e sua risada ecoava por toda floresta. Tentei ir atrás dele, mas já não o via mais; voltei para tentar salvar Aurora, mas ela já estava sem vida.
Olhei em volta me sentindo molhada, até que percebi que o sangue dos meus pais e da minha irmã haviam consumido o meu vestido branco ~

Sentei na cama com um pulo acordando Marc.
- Ayla, o que aconteceu ? - ele também se sentou na cama.
- Ele a matou - falei chorando - matou todos eles.
- Foi mais um terror noturno - Marc me abraçou - Aurora está bem, já deve estar aqui no palácio. E você também está segura, eu estou com você.
Olhei em volta e Demian não havia voltado, então estávamos sozinhos e seguros. Deitei de frente para Marc e ele fez o mesmo.
- Promete que não vai me deixar ? - perguntei a ele.
- Não preciso prometer algo que já vou fazer - ele olhou para mim e passou a mão no meu rosto - você nunca estará sozinha, senhorita sorriso.
Cheguei mais perto dele e o beijei passando a minha mão em seus cabelos. Ele segurou na minha cintura e me trouxe para mais perto, eu intensifiquei o beijo na esperança que ele entendesse o que eu queria, mas ao invés disso ele parou.
- Eu também quero isso - que bom que nos comunicamos através dos beijos, também - mas quero que seja perfeito e na hora certa. Hoje seria perfeito, mas...
- Eu sei - respondi entendendo que ele não queria fazer isso na noite em que a minha mãe morreu, e pensando bem, eu também não - Desculpa...
- Não precisa se desculpar - ele sorriu - fico feliz que você tenha se recuperado do pesadelo, sempre que precisar se livrar dele, por favor faça exatamente o que você acabou de fazer.
Nós dois rimos e voltamos a nos abraçar.
- Vamos ter outa oportunidade - Marc beijou meu nariz - prometo.
- Espero que sim - sorri.

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