A Verdade

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-Mãe, pai, o que estão fazendo aqui? - Eles estavam sentados no sofá.
-Hellena Angel Gray, nós viajamos por um tempo e você se muda? Quem te deu autorização para fazer isso?
Revirei os olhos e coloquei a mochila na mesa.
-Nick me deu o apartamento de presente de aniversário.
-E você ainda faz seu irmão pagar, você não tem juizo não garota?
-Não tenho culpa se ele me dá o amor que meus pais jamais me deram.
Peguei meu celular e enviei mensagem para o Nick.
"Mamãe e papai estão aqui, vem rápido!!!!!"
-Dá para parar de mecher no celular enquanto estamos falando com você?
Bloqueei a tela do celular e os encarei, meu pai até agora não havia falado nada.
-Então, como descobriram sobre o apartamento?
-Você não estava em casa e ao julgar pelo fato de que seu quarto não estava mais cheirando a cigarro e cachaça eu imaginei que você teria se mudado, então fui na escola ver seu novo endereço.
Sentei na mesinha de centro.
-Ah ta.
O Vodka saiu do corredor e veio para o meu lado. -Oi meu amor.
-O que é isso?
-Um cachorro mãe, nunca viu um?
Ouvimos a porta abrir e todos olhamos em sua direção, mas para minha supresa não era o Nick e sim o Andrew.
O Vodka saiu correndo e pulou nele.
-Oi Vodka, eu estava com saudades amigão.
Me levante e caminhei até ele.
-O que está fazendo aqui?
-Nicholas pediu para eu vir, ele se ofereceu para levar o Jonathan em casa. - Jonathan, meu Deus eu havia me esquecido dele.
-Espera aí, o nome do seu cachorro é Vodka? -Minha mãe se levantou do sofá.
Revirei os olhos. -Sim mãe o nome do meu cachorro é Vodka.
-E para completar ele é tão bizarro quanto você, meu Deus olha esses olhos.
Respirei fundo e olhei para o Andrew. -Saia daqui, você não precisa ver isso. -Tentei sair para ir em direção a minha mãe mas ele segurou meu braço.
-Eu não vou a lugar algum sem você. -Eu o encarei e fui em direção a minha mãe.
-Meus olhos não são bizarros mãe, são lindos.
-Pelo amor de Deus Hellena olha pra você, você é toda bizarra, se veste igual a uma prostituta, tem esses piercings ridículos, você é uma vergonha para a nossa família.
Meus olhos se encheram de lágrimas mas eu as segurei, olhei para o meu pai e ele virou o rosto.
-Ta bom mãe desculpa, desculpa por ser tudo o que você condena, desculpa por não aguentar mais aquela casa e adorar morar sozinha e acima de tudo me desculpa por eu ter sido o motivo de você perder o grande emprego dos seus sonhos.
-E foi mesmo, se eu não estivesse grávida de você, a essa hora eu estaria bilionária, mas as porcarias daqueles remédios não funcionaram com você, porque você estava determinada a estragar minha vida.
-EU NÃO PEDI PRA NASCER TA BOM.
Ela bateu no meu rosto, foi tão rápido que eu não tive tempo de reagir.
-NÃO - Alguém gritou no exato momento em que ela me bateu.
-Nunca mais grite comigo sua merdinha. -Ela falou apontando o dedo na minha cara.
Senti alguém me abraçar por trás, não era o Andrew e sim o Nick que havia acabado de chegar.
-Saiam daqui. -Eu falei com as lágrimas escorrendo.
Meu pai se levantou do sofá e acompanhou minha mãe, Andrew abriu a porta para eles.
Nick me soltou devagar, meu sangue estava fervendo e eu não parava de chorar, um choque de adrenalina tomou meu corpo e eu comecei a quebar as coisas, eu jogava no chão tudo que era de vidro ou porcelana enquanto gritava feito louca, eu estava sentindo uma mistura de raiva com tristeza, eu não conseguia parar, minhas mão estavam ficando cortadas pois eu estava segurando os objetos com tanta força que eles quebravam ainda em minha mão, Nick entrou na minha frente, segurou meus pulsos e olhou em meus olhos. -Hell calma, olha pra mim só pra mim, eu estou aqui, fica calma. -Minha respiração estava ofegante e meu coração acelerado, me livrei das mãos dele e o abracei.
Eu não conseguia parar de chorar.
Ele me pegou no colo e foi na direção do Andrew. -Leva ela e o Vodka para o quarto, vou ligar para a empregada e já vou.
Ele me colocou no colo do Andrew que me segurou com uma mão e com a outra segurou a coleira do Vodka.
Ele nos levou para o quarto e eu me sentei na cama.
-Hellena, eu sei que talvez não seja uma boa hora, mas porque sua mãe não gosta de você? Acho que nunca conversamos sobre isso.
Eu estava encarando o chão e ele sentado na cadeira do computador bem na minha frente.
Eu o olhei, respirei fundo e voltei a encarar o chão.
-Minha mãe havia conseguido um emprego em Paris para redecorar todos os prédios de uma empresa que havia lá, ela sempre quis isso, esse trabalho faria o nome dela crescer e ser mundialmente conhecido, ela tinha tudo planejado, o Nick iria ficar em um colégio interno durante a semana e aos finais ele ficaria com o papai, foi quando ela descobriu que estava grávida de mim, no início ela achou que não houvesse problemas, mas a empresa que a contratou falou que ela não poderia estar grávida, pois devido ao trabalho exigir muitas horas de pé e muitas noites sem dormir prejudicaria o feto, eles a jogaram contra a parede quando falaram "ou a criança ou o emprego". -Nick abriu a porta, sentou do meu lado e me abraçou, ele estava com uma caixa de primeiros socorros e começou a limpar e fazer curativo em mimhas mãos. -Era óbvio que ela escolheria o emprego ela dizia "filho eu posso fazer outro, mas essa oportunidade é única na vida" e realmente era, mas ela não queria ir a nenhuma clínica de aborto por medo de que ela fosse reconhecida e o nome dela ficar "sujo", - Fiz as aspas com os dedos de uma das mãos.- foi quando ela começou a tomar uma série de remédios para abortar, de alguma forma nenhum deles me afetou, mas afetou muito a ela e a gravidez se tornou de risco, então ela teve que largar o futuro emprego e passar 90% do seu tempo no hospital até eu nascer. -Respirei fundo, Nick havia acabado de fazer os curativos. -E para piorar tudo, o excesso de remédios que ela tomou prejudicou os ovários dela e os médicos optaram por tirar logo após o meu nascimento, que foi estranhamente no dia dos mortos, fazendo assim com que ela não pusse mais engravidar.
Eu olhei para o Andrew e seus olhos estavam cheios de lágrimas. -Como você descobriu isso?
Eu olhei para o Nick, nem ele sabia como eu sabia de tudo aquilo. -A mamãe tem um diário, eu o encontrei quando tinha 14 anos, eu o li enquanto eles estavam no México, foi aí que eu entendi o porquê dos meus pais não gostarem de mim.
Nick me abraçou com força. -Eu te amo muito pequena.
-Eu também te amo Nick.
A campainha tocou.
-Deve ser a empregada. -Nick falou e se levantou para atender.
Me deitei na cama, Vodka veio para o meu lado e eu o abracei.
-Hellena, eu queria pedir desculpas por tudo o que aconteceu hoje, eu não devia ter te beijado.
Eu fechei os olhos. -Não se preocupe Andrew, não aconteceu nada.
Ficamos em silêncio até que eu peguei no sono.

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