Lição Um

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Ray Allen estava entregando a mão de uma das vinte crianças da sala carinhosamente para a mão de sua mãe quando avistou o casal se aproximando. O sorriso sumiu de seu rosto por um segundo e ele sentiu a apreensão correr pelo corpo como se esquentasse seu sangue, mas se esforçou para dominar esses sentimentos. Ele já estava esperando por aquilo, afinal. Voltou a sorrir e relaxar antes que pudesse perceber quando uma de suas alunas abraçou-o forte pelas pernas.

- Nós vamos nos ver de novo amanhã, não vamos? - perguntou a pequena com a voz manhosa e os olhos enormes brilhando de ansiedade.

- Mas é claro, meu amor - Ray afagou os cabelos dela que tinham começado o dia presos em duas lindas e impecáveis marias-chiquinhas, mas que agora caíam soltos e levemente revoltos pelas suas costas; os elásticos e as fitas bem guardados na sua mochila do Frozen. - Que dia é hoje?

Ela piscou, tentando se lembrar do início da aula quando o professor sempre fazia aquela pergunta.

- Segunda-feira! - exclamou radiante.

- Isso mesmo. O que significa que amanhã será...?

- Terça-feira!

- E terça-feira tem aula, não tem? A semana está apenas começando.

A ansiedade sumiu do rostinho adorável e rechonchudo da menina sendo substituída por um enorme sorriso. Ela abraçou com mais força as pernas do professor, claramente contente.

- Eu te adoro, professor Ray!

Ray riu, o peito repleto de ternura como nunca deixava de acontecer em momentos tão doces como aquele. Não importava que ele lidasse com esse tipo de momentos havia três anos em sua profissão.

- Eu também te adoro, minha coelhinha.

Ray percebeu que o casal parou a uma curta distância da porta da sala. Eles estavam esperando que o fluxo de pais e alunos terminasse de circular para que pudessem se aproximar. Fez contato visual com os dois. A mulher abriu um sorriso estranho como se estivesse com vontade de rir e o homem só ficou encarando-o de um jeito fixo desconcertante. Ele sorriu para os dois, mas logo voltou a atenção para as crianças que entregava aos pais, atitude um pouco deliberada demais.

Não era como se ele estivesse sem graça ou intimidado. Não era isso. Pelo menos era o que ele tentava dizer para si mesmo. Afinal, por que deveria se sentir intimidado por aqueles dois? Por causa do sorriso ligeiramente debochado da mulher? Por causa do tamanho do homem, do seu terno obviamente caríssimo e do seu olhar intenso e enigmático? Por causa do fato de que a diretora da escola o havia alertado que aquelas duas figuras importantes apareceriam e que ele devia tratá-los do modo mais especial possível? Aquilo eram apenas convenções sociais. Ray não era do tipo que se deixava abalar por coisas assim.

Quando finalmente todas as crianças haviam sido entregues aos seus pais, o casal andou até a porta.

- Boa tarde! - Ray sorriu para eles. - Sou o professor Ray Allen, em que posso ajudá-los?

- Que amor! - a mulher soltou a risada que parecia estar contendo até então. - Eu realmente não esperava que o professor fosse... Bem, que não fosse uma mulher. E ainda por cima... - ela riu outra vez, não terminando a frase. - Não é interessante, Jack?

Mas o homem não parecia compartilhar dos sentimentos da mulher, porque permaneceu com aquela expressão dura e séria e os olhos fixos em Ray como se estivesse desconfiado dele.

- Desculpe, sou Mia Kingsley e esse é meu marido Jack Kingsley. É um prazer conhecê-lo, professor - ela novamente pareceu debochar ao dizer a última palavra.

Jardim de Infância [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora