Lição Sete

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Jack tinha decidido que não ia chamar Ray para sair. Depois daquele sonho, admitindo ou não isso para si mesmo, ele ficou assustado. Seu coração estava disparado quando ele teve que encontrar Ray de novo na escola, mas, de algum modo, ele conseguiu convencer a si mesmo de que não havia necessidade de ficar nervoso perto dele. Ele era só um pirralho brincando de casinha com um monte de crianças. Aquele sonho não tinha sido nada; pessoas têm sonhos estranhos o tempo todo, até mesmo sonhos gays sem que isso tenha algum sentido ou significado na vida real.

Mas o jeito que Ray olhava para ele... O jeito que sorria... O jeito que segurava a mão de Susie... O jeito que falava com ele, ao mesmo tempo sério e responsável com seu dever, determinado a fazer seu melhor como um homem e cobrando-lhe promessas de modo inocente, esperançoso e adorável como uma criança virava tudo de pernas para o ar. Jack sentia aqueles instintos rugindo dentro dele e era como se não conseguisse se segurar. Não. Ele não queria se segurar. Era só passar mais de um minuto com Ray para que não quisesse se segurar. Então, mesmo depois de dizer para si mesmo que não ia chamar Ray para sair, acabou fazendo exatamente isso. Foi tão de repente e tão confuso para ele, que ele sentiu vontade de correr o mais depressa possível. Sua mente ficou branca e depois da confirmação de Ray ele não soube o que dizer. Teve que sair daquela sala, levar Susie para casa e ficar algum tempo dentro do carro, parado apenas respirando antes que pudesse alcançar o celular e mandar uma mensagem para Ray com o horário e o local do encontro. Já estava feito, não tinha como voltar atrás.

Ele nem mesmo queria voltar atrás.

E agora lá estava ele, sentado a uma mesa do pub onde havia marcado com Ray, tomando uma cerveja e esperando. Esperando com o coração aos pulos. Ele não se sentia assim desde que era adolescente. Era uma sensação ridícula.

Avistou Ray entrando pela porta procurando-o e seu peito chegou a doer e seu estômago a revirar. Ray encontrou-o e sorriu, começando a se aproximar.

Ele era só um pirralho bobo. Era só o professor de Susie. Nada de mais.

- Olá! Desculpe o atraso.

- Não se preocupe com isso.

Jack não pôde evitar ficar olhando para Ray. Ele estava de sobretudo preto por causa do frio e da neve lá fora, mas agora que o abria, mostrava o suéter cinza estampado no peito com as orelhas, os olhos, o nariz e a boca de um coala que ele estava vestindo por baixo. Teve que cobrir a boca com a mão para disfarçar um sorriso que era quase uma risada. Aquele garoto era inacreditável.

Ray tirou as luvas e guardou-as no bolso do sobretudo. Desenrolou o cachecol preto do pescoço e deixou-o caindo pelos ombros. Só então se sentou à frente de Jack e de seus olhos que não paravam de inspecioná-lo fora do próprio controle.

- Então... Posso pedir uma cerveja para você? O que você bebe?

- Na verdade eu não costumo beber.

- Não costuma beber?

- Você sabe... Tento ser um bom exemplo para as crianças.

Jack olhou dramaticamente em volta.

- Não há nenhuma criança aqui.

- Você não precisa estar na frente das pessoas para quem quer dar bom exemplo para agir corretamente. Seria hipocrisia.

Jack riu.

- Você tem umas filosofias engraçadas. Parece até que não vive no mundo real.

- Gosto de construir o meu próprio mundo real.

Jack ficou mais algum tempo olhando para ele até que estalou a língua.

- Tudo bem, vou pedir um refrigerante para você.

Jardim de Infância [Degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora