O12. trégua

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AMÉLIA DICKSEN

    As diversas vozes que enchiam a sala de aula causavam uma pequena confusão em minha mente. Barulhos em lugares abafados não são a minha preferência, mas é inevitável quando se está na escola, em um ambiente repleto de jovens cheios de assuntos a discutir, enquanto esperamos pelo professor.

Tentava concentrar-me no livro de química aberto à minha frente, já que a próxima aula era dessa matéria, porém, parecia quase impossível.

Desistindo da ideia de me focar em qualquer outra coisa, deixei meu olhar vagar pelo ambiente. Meus olhos pousaram em Cindy e Misty, sentados juntos na fileira de carteiras à esquerda da sala. Cindy falava sem parar, e meu irmão parecia absorver cada palavra dela. Às vezes, ele parecia um pouco confuso, o que me fez questionar sobre o assunto da conversa. Provavelmente, eram temas astronômicos, já que é a paixão de Cindy. Ela é obcecada por astronomia, poderia falar horas sobre o assunto, e Misty a ouviria atentamente, mesmo não entendendo muito.

Essa cena me arrancou um sorriso bobo. Os dois tem um afeto mútuo desde a infância; acredito que tenham sido o primeiro amor um do outro. Vê-los juntos sempre traz à tona memórias, como aquele beijo.

Na época, eles tinham apenas onze anos. Benny e Cindy foram passar um fim de semana conosco na fazenda de nossos avós. Tudo aconteceu de forma confusa. Eles estavam brigando porque Misty havia pegado um colar com um pingente de sol e lua, e não queria devolver. Corriam pela casa, enquanto ela gritava com ele. Benny e eu ríamos da situação até Cindy começar a chorar. ─ Cindy sempre foi muito sensível, e o colar tinha um significado especial para ela, um presente de sua tia favorita; ela o usa até hoje, nunca o tira. Misty ficou preocupado, se aproximou cautelosamente e colocou o colar de volta ao redor de seu pescoço. Cindy soluçava enquanto ele se desculpava com um terno "desculpa, Foxindy" ─ um apelido que ele mesmo criou para ela, achando que ela se parecia com uma raposa devido aos seus cabelos vermelhos.

Cindy permanecia magoada com ele, seu rosto amuado, enquanto Misty enxugava suas lágrimas com cuidado. Eles se encararam, e então, Misty simplesmente beijou seus lábios. Cindy nem sequer fechou os olhos; na verdade, eles se arregalaram, e suas bochechas ficaram fortemente coradas.

Esse foi o primeiro beijo deles, e sou muito grata por ter testemunhado essa cena, pois foi a coisa mais linda e adorável. Nunca esquecerei disso.

Até hoje, fica claro que eles são apaixonados um pelo outro. Frequentemente me pergunto por que os dois ainda não estão namorando. Já considerei perguntar a ambos sobre o motivo, mas não quero forçar a barra.

Desviei o olhar, ainda com um sorriso nostálgico, quando meus olhos cruzaram com a figura de Joseph, que acabara de entrar na sala.

Tentei não olhar demais, para não chamar sua atenção, embora pareça inútil, já que ele simplesmente me viu e está vindo na minha direção.

Joseph colocou sua mochila ao pé da cadeira e se sentou ao meu lado. Seu olhar fixo em mim me deixou completamente desconcertada.

─ O que? ─ perguntei, um tanto ríspida, curiosa com o motivo de sua observação intensa.

Ele apenas abriu um sorriso idiota.

─ Você é sempre tão grossa.

Revirei os olhos, não querendo me dar ao trabalho de me incomodar com isso.

─ Você pode procurar outro lugar para sentar? Este já está ocupado. ─ pedi, ignorando o que ele havia dito anteriormente.

─ Sério? ─ ele olhou ao redor como se estivesse procurando por algo. ─ Não vejo ninguém aqui.

Algumas infinidadesOnde histórias criam vida. Descubra agora