O19. ele lá e eu cá

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    Encerrei a chamada no celular com um toque suave, após as despedidas finais das garotas. Kessen e Nina haviam me ligado para discutir os desdobramentos da reunião que aconteceu hoje de manhã, entre a direção da escola e o Grêmio Estudantil. Agora, a decisão estava nas mãos deles, e considerando a burocracia escolar, era quase certo que convocariam outra reunião, desta vez com pais e colaboradores, para avaliar meticulosamente os prós e contras do nosso projeto.

Horas se passaram em conversas animadas, que se estenderam após Nina incluir Anis, Cindy e Lindsay na chamada. Kess, com sua confiança inabalável, parecia indiferente à pequena barreira que era a direção escolar, convicta de que nosso projeto, tanto legal quanto divertido, certamente despertaria mais o interesse de muitos alunos no esporte escolar.

Verifiquei o horário no celular mais uma vez. Eram duas e meia da manhã, e o sono ainda me evitava. Levantei-me, arrastando comigo a manta de tricô branca, um escudo contra o frio que se infiltrava no quarto.

Deixei o celular sobre a escrivaninha e saí do quarto, envolvendo-me na manta. Um lanche noturno, pensei, poderia ser o remédio para minha insônia.

Descendo os degraus, o som da televisão aumentava, sinalizando que não estava sozinha na vigília noturna. Ao chegar ao último degrau, avistei meu irmão e meu pai, em meio àquela sala mergulhada em uma penumbra aconchegante, apenas a luz da tela piscando em seus rostos. Silhuetas recortadas contra o brilho do jogo de basquete que passava na TV.

Traíras, nem me chamaram.

Eles não perceberam minha chegada, graças à minha descida silenciosa.

─ Oi, filha. ─ meu pai me saudou. ─ Vem cá. ─ acenou para que eu me juntasse a eles.

Pelo menos não demorou para que notassem minha presença.

Desci o último degrau, sentindo o frio do piso se insinuar pelas minhas meias de crochê marrom.

─ Quem está jogando? ─ perguntei, acomodando-me no sofá entre meu pai e Misty.

─ Bulls e Warriors. ─ respondeu meu irmão.

Lancei-lhes um olhar de falsa indignação.

─ E vocês não me chamaram para assistir? ─ questionei.

─ Pensei que estivesse jogando com o Peter, ouvi você conversando no quarto. ─ meu pai justificou.

─ Não, o Peter tem estado ocupado ultimamente. ─ expliquei, talvez com um traço de ressentimento involuntário. ─ Eu estava falando com as meninas sobre um projeto da escola.

─ Projeto? ─ ele indagou, interessado.

─ Sim, pai. E se eles chamarem os pais para uma reunião, você pode apoiar o projeto? Eles com certeza vão querer saber a opinião de vocês. ─ pedi.

─ Amélia, preciso entender melhor sobre o projeto primeiro.

─ Não é nada complicado, mas é muito importante para uma amiga. Fizemos tudo direitinho, sabendo como a escola pode ser burocrática. ─ disse, encarando-o nos olhos, sabendo que ele valorizava essa sinceridade.

Meu pai me observou por um momento antes de sorrir levemente, um sinal de que estava convencido.

─ Se for algo positivo, eu apoiarei, claro. Confio no seu julgamento. ─ ele afirmou.

─ Obrigada, pai. ─ agradeci, aconchegando-me ao seu lado e repousando a cabeça em seu ombro. Ele me envolveu com um braço, me abraçando carinhosamente e depositando um beijo em minha testa.

─ Que tal sairmos amanhã para tirar fotos? Podemos ir a qualquer lugar que você quiser. ─ ele sugeriu.

─ Você não trabalha aos sábados?

Algumas infinidadesOnde histórias criam vida. Descubra agora