Capítulo 2

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– O que você fez Rosa? – Pergunta minha mãe com os olhos estatelados. – Recebemos uma ligação informando sobre sua transferência devido a uma incoerência da designação, e que não deveríamos nos preocupar. Quando indaguei sobre qual "incoerência" apenas me sugeriram paciência e cautela que tomariam conta de todos os detalhes. O que está acontecendo? – Indaga enquanto aperta os pulsos cruzados sobre a mesa de vidro.

– Ah-a-a eu não sei muito bem. Só não achei a designação devida, não acho que podem decidir o que é melhor para mim em alguns segundos. Só me encararam mãe! Não acho que as coisas funcionem assim! – Afirmo enquanto lanço meu corpo em direção a parede da copa. Apoio-me com um ar de cansaço. – Eu não quero ir embora.

Por um instante o silêncio toma conta do ambiente. Encaro-a enquanto suspiro, e encaro minha cara abarrotada refletida em meus pés. Coço o nariz por alguns instantes.

– Vai ficar tudo bem, você vai se sair bem. – Sussurra enquanto direciona seus olhos iluminados à mim. Minha mãe é linda. Mas aquela face desanimada me corroía. Sei que o que acabara de dizer era só uma medida de desespero, no fundo ela estava preocupada e estarrecida.

Ambas nos entreolhamos. Ergo-me e após olha-la com os olhos serrados viro-me em direção ao corredor. É apenas um dia para partir, e o tempo não parece suficiente para que eu possa me despedir ou ao menos estar preparada. Sinto como se tivessem atirado no meu peito e me mandado novamente para a batalha com a bala ainda encravada. Encaro as portas sempre fechadas, e sinto um peso sobre as costas. O sentimento de culpa toma conta de mim, enquanto me questiono se fiz a coisa certa.

Abro a porta do meu quarto, a cama está arrumada. Lençóis brancos. Abro a janela e deixo a luz rosada do entardecer entrar através do voil também branco. A iluminação se reflete no chão de mármore, e então encaro o lugar. Suspiro para sentir o cheiro de lavanda com alvejante. Espero que não seja exatamente igual, seria como estar levando uma parte e deixando o mais importante. Parece haver algo engasgado nas minhas artérias, sinto o coração doer. Deito-me e me deixo adormecer procurando um refúgio ou resposta. Esses momentos de dúvida, insegurança e desespero fazem revirar o estomago e a alma. Durmo em busca de paz, ou do silêncio em mim mesma.

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Acorde! Acorde! Acorde!

Abro os olhos e encaro o teto. Aaaaa essa merda de despertador para sempre? Penso remetendo ao despertar do dia anterior. Sinto que irei revivê-lo eternamente e sinto asco. Sento-me na cama e acabo perdendo o olhar no nada. Pensamentos sobre minha partida me engasgam novamente. Estou com medo, e ainda assim satisfeita.

Vejo a porta se abrir lentamente. – Estamos te esperando para tomar café. – Uau, parece que não vejo meu pai à meses. Ele está radiante, com a barba cerrada e um visual esporte fino muito bem cortado. Adoro como o suéter com as mangas arregaçadas deixa seus braços longos e fortes.

– Ei! Você está ótimo! Caramba, parece que faz um tempo que não te vejo!

– Ah minha querida, nossos horários têm promovido esses desencontros, mas por sorte estou de folga hoje. Então venha tomar café conosco.

– Claro, estou descendo!

Me levanto da cama e vou direto ao banheiro. Escovo os dentes com desdém, o mais rápido que posso e substituo minhas roupas amassadas que nem troquei quando cheguei e visto moletons confortáveis. Saio em direção a sala de jantar e estão todos lá. A luz que entra pela grande abertura da sala é radiante e minhas pupilas levam alguns segundos para se acostumarem. Toda a família está na mesa, e apesar de me sentir feliz por estarem lá, encaro o fato como absurdamente estranho. Depois que nos mudamos para a zona Mu registrada não me lembro de termos estado todos juntos assim.

Rosa AtrozOnde histórias criam vida. Descubra agora