Levanto antes do despertador e do painel acender. Bato na porta dos meus pais incansavelmente até que alguém me atenda.
– Vamos! Não vão me acompanhar? Acordem! – Grito tentando despertar também Delfine no quarto ao lado.
– Ah ok querida, já vamos. – Papai fecha a porta na minha cara, e escuto seus passos preguiçosos.
Sento-me no sofá e fico encarando a luz do amanhecer. Nossa casa anterior não tinha aberturas tão grandes, então não tínhamos tanta iluminação. Eu fico imaginando a casa antiga, com as janelas grandes assim e cortinas de voil, o vento as balançando e Delfine correndo no quintal.
– Qual é babaca, posso ficar com seu quarto? – Delfine pula em cima de mim enquanto fala.
– Nossa! Mas já? Aposto que está louca para que eu parta! – Empurro-a de cima de mim.
– Claro que não! Mas tem suíte, é muito chato usar o banheiro daqui. – Diz enquanto me afaga.
– Hum, espertinha! Cuide bem dele!
– Yaaaaaas! Obrigada mana! Vem vamos comer!
– Onde estão nossos pais?
– Provavelmente se ajeitando. Vem, vamos arrumar a mesa.
Começamos a pôr pratos e talheres na mesa, quando os dois descem. Não parecem muito contentes.
– Ei, bom dia! Vamos comer! – Tento demonstrar tranquilidade, quem sabe isso melhore o clima.
Eles sentam-se e não dizem muitas palavras. Comemos rápido. Hoje mamãe saiu da cozinha rápido, então lavei as louças e sentei novamente no sofá para aguardar. Começo a dar uma olhada no mapa da Bb012 quando finalmente papai me chama para partir.
Papai estava com minha mala - pequena na verdade, o que eu tinha de importante para levar estava no peito. Muito clichê? Provável que sim - Então já nos dirigimos até a saída sem muito papo. Depois de uma longa espera pelo elevador, silenciosa e entediante, chegamos ao metrô.
Deixo meus olhos encherem-se de lágrimas, enquanto os encaro. A face de todos sem muitas expressões, mas ainda assim sei que não estão contentes com a minha partida. Ouço o som do metrô nos trilhos, e então não evito que as lágrimas escoram.
– Ei Rosa, não, não. Você não pode chorar aqui querida, vamos força. – Papai parece se desesperar junto comigo, mas não em prantos.
– Eu sinto muito, eu vou sentir a falta de vocês! – Digo enquanto tento rapidamente secar o rosto.
– Também sentiremos querida! Vá! Logo nos falamos. – Mamãe me apressa e se despede com um beijo em minha testa.
Sento-me e os olho pela janela. Não posso evitar que a angustia tome conta de mim. Alguns em minha volta me encaram enquanto levo minhas mãos até a face e choro. Sinto-me absolutamente idiota – eu fiz isso, eu os deixei. Não sei lidar com minhas próprias escolhas. Também, se eu estivesse aqui, fazendo o que eu não gosto, eu não estaria passado pelo mesmo sentimento? Mas agora, eu me sinto completamente falida.
São doze horas de viagem, e sinceramente não se passaram nem trinta minutos. Olho ao meu entorno e estão todos calados, lendo livros ou conectados aos seus smartphones. Ponho meus fones de ouvido, e recolho as pernas até o meu peito. Fecho os olhos, e apenas tento deixar minha mente menos cheia. Não que os pensamentos não me venham a todo momento, mas eu prefiro evita-los.
Após um cochilo desperto com o sol ofuscando meus olhos. O pôr-do-sol estava belíssimo. Levanto-me e vou até o banheiro. Felizmente passo despercebida, mesmo com alguns tropeços. Quando retorno, devoro um sanduíche que preparei no café, e volto a procurar uma posição confortável.
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Rosa Atroz
RomanceEu não sabia exatamente o que era subconsciente. Mas era como se eu pudesse ouvi-lo nitidamente o tempo todo. Mas algumas vezes eu podia ouvir meu "eu" gritar contrapondo-se de alguma forma. A quem eu devo escutar? Quem ordena, ou quem ensurdece? - ...