Capítulo 4

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Primeiro dia de expediente, senhorita Rosa. Faltam quarenta minutos para que registre sua digital na estufa 12. São doze minutos de metrô. Tenha um bom dia.

O painel tilinta, então me levanto. Busquei o uniforme ontem, e já o deixei separado na arara. Calças e galochas pretas. As galochas parecem coturnos, – achei bem bonitas na verdade. Camisão branco, que chega até as coxas mas define muito bem a cintura. A única peça feia era o avental, mas tinha um bordado no peito esquerdo com meu nome e uma folhinha verde, que também eram encantadores.

Me troco rapidamente e faço os passos óbvios de sempre. Metrô, silêncio, pessoas robotizadas, e uma pequena caminhada até a cúpula que ficava no topo de uma colina. Infelizmente o metrô não chegava até lá, mas também não era longe. É só que caminhar em subidas é sempre mais difícil.

Registro a digital. No centro, tem uma grande central de plantio, e nas bordas, escadas que levam a um segundo pavimento e inúmeras salas, provavelmente de testes e encubação. Eu não tenho a mínima ideia de onde ir, então disparo-me em meio aos canteiros. Sinto-me extremamente satisfeita e encantada. Encontro um arbusto que não reconheço, me aproximo, arranco uma folha e sinto cheiro de hortelã. A textura é a mesma, mas as folhas possuem em média uns vinte centímetros.

– Não aconselho que prove! Contudo, se ainda achar que deve, fique à vontade. – Homem, por volta de um metro e oitenta e cinco, cabelos levemente grisalhos, sobrancelhas grossas e voz também. Diz com desdém enquanto anota algo em uma prancheta.

Não respondo nada, apenas o encaro.

– Deve ser Rosa. O que faz aqui? – Ainda não me olha e continua com suas anotações.

– Bom, eu trabalho aqui, eu acho. Eu não sabia o que fazer, então resolvi explorar um pouco. – Respondi.

– Acho que seu trabalho não é explorar. – Insiste em ser grosso.

– Se puder dizer qual o meu trabalho, ficarei lisonjeada em executá-lo.

– Haha! – Finalmente larga a prancheta e me olha – Sou Jean Oliver, diretor e direcionador da pesquisa. Essa espécie é extremamente concentrada, ideal para fabricação de cápsulas que combatem resfriado. Uma mordida provavelmente queimaria seus lábios. Eu sou seu chefe, Rosa. E seu trabalho não é bisbilhotar. Você liga os aguadores conforme a prancheta que era para ter pego no escritório, e também aduba conforme está tudo detalhado lá. Você faz isso. Não me deixe vê-la fazendo nada além do que ordenei.

Fico paralisada. Nenhuma palavra me vem à cabeça. Encaro o chão, e sinto meu coração bater forte, sinto vontade de chorar.

– Primeira sala, segundo andar, recepção – o lugar que todos encontram menos você – estão suas informações. – Vira as costas e retorna para a sua prancheta.

Saio andando rapidamente, subo as escadas e vejo as indicações para o banheiro. Passo direto da recepção e entro desesperada no ambiente. E então eu choro, desesperadamente.

– Senhor Oliver? – Ouço uma voz feminina.

Olho para a direção da voz e encontro uma figura feminina, baixa e magricela, com o tronco um pouco mais longo que o resto do corpo, olhos grandes e castanhos claros. Cabelos também castanhos - ou loiros, não sei dizer na verdade - e muito lisos. Parecia não ter sobrancelhas, de tão claras.

– Como? – Pergunto mesmo tendo entendido.

– Tudo bem, eu também me senti assim quando o conheci. As pessoas não parecem sentir muito, mas eu entendo o que você está sentindo. – Fala enquanto veste um jaleco branco.

– Desculpe a cena.

– Não tem que se desculpar. Eu sou Willi. – Estende a mão em minha direção.

– Rosa, prazer. – Observo que possui cílios enormes e lábios carnudos, com uma linha no centro do inferior.

– Comecei como você, agora estou no desenvolvimento de espécies novas. Não se preocupe, é um ciclo eterno. Quem está lá em cima gosta de diminuir quem está começando, mas na verdade quem está mais próximo do nada é ele, e não você. – Uma mulher entra no banheiro, então Willi substitui o ar amigável por uma face séria, e sai sem dizer nada.

Obrigada. – Penso como se estivesse a respondendo. Não entendi porque saiu daquela maneira, mas deve ter havido algum motivo. Lavo minhas mãos, e então me sinto muito mais calma. Vou então à recepção em busca dos meus afazeres.

Ironicamente uma prancheta transparente. Aparentemente a designação dos meus sonhos se resume a água e adubo – Incrível!

Não vi mais o delicadíssimo Oliver, e nem Willi durante todo o dia – nome engraçado né? – Só algumas pessoas que não me dirigiram uma única palavra, e alguns "boa noite" quando estavam todos indo embora.

No módulo, sento-me no sofá e me permito apenas ficar lá, por um bom tempo, buscando ânimo dentro de mim.

Visita.

Estranho o painel sinalizar visita, mas me dirijo até a porta curiosa.

– Desculpe por ter saído sem dizer nada, acho que você entende. – Willi vestia pijamas, o que me faz acreditar que moramos no mesmo prédio.

– Ah-há, como me encontrou? – Pergunto.

– Tenho acesso aos cadastros. Então, vai me deixar aqui? Vai parecer estranho.

Deixo-a entrar, então ela tira os chinelos e se joga no sofá.

– Você disse que eu entendo... Entendo o que? – Tento entender o que ela tinha dito.

– Você não sabe né?

– Não sei o que?

– Caramba você não sabe!

A encaro esperando uma resposta.

– Acho melhor eu ir, nos vemos depois. E se eu fingir que nunca te vi me desculpe, é necessário as vezes. Mas você não está sozinha, tudo bem? Se precisar, me procure. Pode anotar meu telefone?

– Posso! – Pego o celular rapidamente.

Ela diz o número e sai pela porta. Ponho o rosto pra fora, para vê-la e ela sinaliza com as mãos enquanto espera o elevador.

***

Nota do autor: Espero do fundo do meu coração que estejam gostando! Qualquer coisa, por favor! Contatem-me! 


Rosa AtrozOnde histórias criam vida. Descubra agora