Capítulo 07

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*Sofia on*

Dia de "reunião" com os Barbixas. Acordo muito cedo, na verdade nem dormi, e ainda deitada na cama eu tento entender o que estava acontecendo na minha vida; fico imaginando como será essa tal reunião, só de imaginar eles lendo e se inspirando com meus rascunhos sinto como se tivesse uma montanha russa dentro da minha barriga.

Levanto da cama e tomo coragem para me preparar para esse dia que será longo. Pela manhã eu tive uma reunião com uns produtores e um empresário de uma cantora que queria comprar uma composição minha, eu odeio ter que vender minha música para outros cantores, não é que eu seja egoísta, é que minhas composições são muito pessoais, são experiências que eu vivi e que significam muito para mim, e ter que vender coisas da minha vida para outras pessoas é no mínimo desconfortável. Como eu não posso escolher e preciso de dinheiro para sobreviver, tenho que fazer isso.

Logo depois participo de uma campanha de natal para uma loja de produtos para casa, com direito a jingle e coreografia. Volto pra casa completamente exausta, tomo um banho e como um lanche rápido. Só conseguia pensar no Daniel elogiando minha esquete, a ansiedade de vê-los novamente só aumentava a cada minuto.

Coloco um vestido solto e um casaco fino, calço uma rasteirinha e deixo meu cabelo solto; aplico algumas camadas de máscara de cílios para tirar a aparência de cansaço dos meus olhos e, por fim, um perfume suave.
Daniel me liga para avisar que estava no estacionamento me esperando, eu pego minha bolsa e desço imediatamente.

Me aproximo do carro e meu coração dispara ao vê-lo ali me esperando, estranho o fato dele estar sozinho, mas me preocupo mais em parecer calma.
Ele sai do carro para me cumprimentar.

-Madame... - diz com uma voz grossa e beija a minha mão, o que me faz rir e me arrepiar ao mesmo tempo.
- Daniel Nascimento! - Lhe dou um abraço apertado
- Permita-me abrir a porta para a senhorita! - sartiriza.
- Por favor! - digo rindo muito da imitação de lorde do Daniel - Cadê Lico e Andy?
- Eles disseram que iriam nos encontrar lá em casa, você terá que ir apenas comigo. Sinto muito, mas é o que sobrou.
- Tá perfeito pra mim! - digo rindo.

A viagem da minha casa para a casa de Daniel foi rápida, ele mora mais perto de mim do que eu imaginava, Anderson e Elídio moram um pouco mais longe.
Rimos muito durante a breve viagem, contei do meu personagem de doende ajudante de papai noel para o Dani, que me fez cantar o jingle da campanha. Ele ria sem parar da minha imitação de doende e da letra tosca.

Ao chegar no apartamento percebo que ele já havia começado a escrever, a mesinha da sala estava cheia de papeis, canetas, um notebook e algumas almofadas jogadas perto da mesa.

Ele entra, joga as chaves numa cômoda perto da porta e senta no sofá, ele sorri ao me ver parada na entrada da sala

- Você é sempre tão tímida assim? - Diz pegando o notebook.
- Eu sou muito tímida - senti minhas mãos geladas - mas não posso negar, estar na casa de um dos meus ídolos me deixa mais nervosa do quê tímida.

- Não precisa ficar nervosa - Ele se levanta e caminha em minha direção, agora eu sentia meu corpo inteiro gelar - Vem cá... - Ele pega minha mão e me leva até o sofá.

Eu me sento no sofá e ele faz o mesmo, pega o computador novamente e coloca no colo.

- Então, eu tava olhando o seu texto... eu não queria mudar muita coisa, sabe. A ideia toda é interessante, eu só pensei em adicionar mais piadas. Eu gostei muito do tom crítico e sartírico.

- Eu fico muito feliz mesmo que você tenha gostado, eu tentei retratar da maneira mais escrachada possível todo esse ritual de beijar criança e comer pastel que os políticos fazem durante as campanhas.

- Sim, exatamente. E você fez excelentes observações... essa parte, por exemplo: "-Próximo quesito: Abraçando seu eleitor / -Essa parte é muito nojenta, professor! / -É, mas finge que é o coleguinha que vai dar a propininha. "Oh que amor! Muito obrigado!" Abraça apertado, dá uns pulinhos"  - Daniel lia aos risos, eu nunca conseguiria explicar o quanto eu estava feliz ao ver o cara que me inspirou a começar a escrever se divertindo com um texto meu - "- Não esquece o sorriso, tem que mostrar toda a parte frontal da arcada dentária!"  Isso é sensacional!

- Eu nem sei o que dizer... Obrigada! - Dani sorri e continua lendo, ele me mostra algumas piadas que tinha pensado e vai inserindo trechos geniais que ele ia criando na hora, eu me sinto como se tivesse na platéia novamente, mas assistindo de perto ele criar de forma brilhante.

- Preciso de café! - Dispara ao tirar os olhos da tela - Você quer também?
-Por favor! - respondo tímida.

Ele se levanta e caminha até a cozinha. Eu fico ali sentada olhando aquela casa, era o sofá dele, as coisas dele, a sala dele; fico pensando em como ele arranjou um tempo para conversar comigo, como ele se interessou por algo que eu fiz... algo que eu fiz... de alguma forma aquelas palavras me levam para um tempo atrás, um tempo em que um cara que era para, supostamente, me ajudar a contruir minha confiança e auto estima me disse que ninguém nunca iria se interessar por mim nem por nada que eu fizesse...

Todas as duras palavras daquele homem voltam à minha mente, sinto um nó em minha garganta. Daniel volta e me entrega uma xícara de café e de repente aquelas imagens não estavam mais em minha mente, sentir a presença do Dani faz com que meu coração se acalme novamente. Eu o agradeço pelo café

- Vem, senta aqui no chão comigo! - Ele senta no chão e coloca uma almofada do lado dele para indicar onde eu sentaria.

- Já não era para os meninos terem voltado? - digo me sentando ao lado de Daniel

- Pois é... - Daniel pega o celular e digita algo - Eles devem ter pego algum trânsito.

Continuamos discutindo o texto enquanto Anderson e Elídio não chegavam, Anderson mandou um áudio dizendo que tiveram uma série de imprevistos e que não sabiam se chegariam a tempo. Nós já estavamos acabando de reeditar a esquete quando eu olhei para o relógio e vi que já eram 23h00

- Acho que os outros não vão conseguir chegar aqui - digo

- Também acho! E eles ainda dizem que eu sou atrapalhado. - Ele diz rindo

- Ah, eles dizem isso?

- Dizem! Você não concorda com eles?

- Não! Pra falar a verdade, você tem fama de certinho.

- Ah, eu tenho? - ele diz cruzando os braços e levantando a sobrancelha.

- Sim, dizem que você é o certinho do grupo, o perfeccionista.

- Eu sou o chato do grupo, isso sim... - rimos

- Você é tudo, menos chato Daniel! - digo sem pensar e logo me toco ao ver que ele fica sem graça. - Quem dizer... você é engraçado, brilhante, criativo, carismático...

Daniel me olhava fixamente, mesmo quando eu tentava parecer tranquila aqueles olhos brilhantes me faziam perder a noção de tudo.

- Você também é muito engraçada, Sofia, tem uma percepção incrível, é super inteligente, linda... - aquela última palavra me assusta, ele tinha acabado de dizer que eu era linda? Eu tentei desviar o meu olhar do dele, mas tinha algo naqueles olhos que me atraía de uma forma que eu não conseguia entender.

Percebi que ele se aproximava de mim ao sentir a sua respiração mais próxima, eu tentei me afastar mas sentia meu corpo se aproximar dele também, seus lábios úmidos me fizeram esquecer por um segundo que aquilo era errado, nós estavamos perto o suficiente para nossas testas e narizes se tocarem, nossas respirações se alteravam entre muito forte e acelerada a muito baixa e quase nula, o desejo de sentir os lábios dele já tinha tomado o meu corpo e ao sentir o calor de sua boca perto da minha eu dou um pulo para tráz. Como ficamos assim? Num segundo estávamos rindo e no outro... só de imaginar o que poderia ter acontecido me sinto mal.

- Me desculpa, Sofia, eu não sei o que deu em mim - Daniel se levanta envergonhado

- Não precisa se desculpar, eu que peço desculpas... - Me levanto e pego minha bolsa que tinha deixado no sofá - Acho melhor eu ir embora - Me viro e tento sair logo dali

- Não! - Daniel me segura pelo braço - Se você sair assim eu vou me sentir péssimo. A culpa não foi sua!

Um sonho improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora