Capítulo 09

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*Sofia on*

O dia seguinte passou normalmente, toquei em uma churrascaria e trabalhei em algumas músicas, nada de novo. A única coisa que tornava aquele dia diferente dos outros era a lembrança do que acontecera ontem.
Não teve um minuto em que eu não tivesse pensado em Daniel, quando eu ia no TUCA nunca tinha coragem de falar com eles, e o Daniel sempre foi o meu preferido, mas nunca pensei nele como algo além de um ídolo, mas cada vez que eu fico perto dele, converso com ele, sinto seu cheiro, ouço sua voz, sinto algo bom dentro de mim crescer. Um sentimento inexplicável, que eu nunca havia sentido antes, mas que ficava forte a cada sorriso que ele me provocava.
Quando eu lembro dos lábios dele tão perto dos meus, sinto uma vontade irracional de voltar no tempo e beija-lo ali mesmo, em meio a todos aqueles papéis. Eu não mandei nenhuma mensagem pra ele, assim como ele também não o fez. Não conseguia entender o que o levou a quase me beijar, ele não parece o tipo de cara que trai a mulher com casos sem importância, mas também sei que não tem chance nenhuma de Daniel Nascimento ter sentido algo por mim

Meus pensamentos são interrompidos pelo toque do meu celular, era o Tó me avisando que estava me esperando. São quase oito horas da noite e eu já estava pronta.

- Oi! - Ele me esperava dentro do carro.

- Oi, Sô! - Tó Brandileone parecia animado - Você está linda!

Eu retribuo o elogio e o abraço.
Tó realmente estava bonito, ele é muito bonito, na verdade. Vestia uma camisa azul de botões, uma bermuda jeans, tênis, seus velhos óculos preto e a barba bem feita.

- Eu estou muito animado sobre hoje, tenho tanto pra conversar contigo - Ele diz abrindo a porta para eu entrar.

- Eu também! Você não tem noção do que significa pra mim poder conversar sobre música com você - Tó sorri para mim e coloca o cinto, liga o carro e seguimos.

Chegamos na casa dele e ele me leva diretamente para uma sala com isolamento acústico, Antônio tinha praticamente um estúdio dentro de casa, aquela sala tinha todo tipo de instrumento, amplificadores, alguns equipamentos de gravação e mixagem e muitos cabos espalhados pelo chão.

- Gostou? - Ele diz orgulhoso ao perceber minha reação.

- É incrível! - Eu não conseguia nem falar direito - Você grava com o 5 a Seco aqui?

- Olha, a gente grava num estúdio profissional, mas já criamos e ensaiamos muito aqui.

- Eu amo tuas composições, o jeito como você combina letras delicadas com batidas fortes. Você coloca tanto sentimento nos teus versos... me inspira muito.

- Nossa, obrigado. Fico muito feliz que você ache isso. - Ele senta no chão ao lado de uma caixa amplificadora e me pede para fazer o mesmo - Mas estamos aqui pra falar sobre você.

Ele pega um dos violões e começa dedilhar algumas notas

- Você fala sobre minhas letras, mas você também tem letras muito delicadas.

- Algumas são delicadas, mas outras são bem dark também! - Digo rindo e Tó ri junto.

- Exatamente, e isso me intriga bastante! Como uma moça que escreve sobre flores e dias felizes e tem um sorriso tão lindo pode escrever sobre morte e falta de fé? - Diz ainda com um sorriso no rosto.

- Ah... todos nós passamos por momentos difíceis na vida, eu não estou imune a isso, e escrever sobre essas coisas me ajuda a superar ou pelo menos esquecer um pouco.

- Então, aquelas músicas são verídicas? Você realmente passou por aquilo? - O sorriso dele se transformara em um olhar preocupado.

- Eu já passei por muita coisa ruim, mas já ficou no passado. - Tento desconversar.

-Entendi, você não gosta de falar sobre isso.
Eu confirmo, ele para de dedilhar o violão e me entrega.
- Você pode tocar algumas músicas suas para mim?

Sinto um nervosismo repentino dominar meu corpo. Tá legal, Sofia, Você vai tocar para Tó Brandileone. Fique calma.

Toco algumas músicas para ele, que assistia atento. As músicas eram sobre minha mãe, outra sobre meu pai, sobre o Danilo, outra que fiz quando sentia saudades de Salvador, uma que fiz para mim mesma com palavras que eu precisava ouvir e uma muito engraçada sobre sorrir, baseada nos Barbixas.

- Uau! Você é ainda melhor ao vivo! - Ele diz sorrindo - Eu quero muito produzir um disco teu!

- Eu não tenho uma gravadora, Tó, nem dinheiro - Digo em tom de brincadeira.

- Eu conheço uma cara, um grande amigo meu, que tem uma gravadora. Eu tenho certeza que ele vai gostar de você, posso te levar lá?

- Claro! E se ele não gostar? - Digo receosa

- Ele vai gostar, acredite em mim.

Tó me olhava e me sorria de um jeito muito afetuoso, eu já sabia que ele era um cara amigável, mas continuo me impressionando com o cuidado que ele demonstra. A gente ficou criando arranjos diferentes para as minhas músicas e depois ele me ensinou algumas dele, quando cantávamos juntos nossas vozes combinavam perfeitamente e a gente ria muito quando eu errava algum acorde.

Eram quase onze horas quando decidimos encerrar o nosso pequeno show e ir comer algo na cozinha. Fizemos um lanche e comemos conversando sobre nós mesmos. Tó me contou como ele começou a tocar violão, contou das vezes que fugiu da aula para jogar bola e rimos de como ele era um desastre na cozinha, eu contei a ele sobre minha infância na Bahia, em como eu amava ir para a praia, contei da vez que planejei uma fuga só para não tomar remédio e rimos de como eu também era um desastre na cozinha.

Conversar com Tó sobre minha infância me trouxe boas lembranças, mas também me trouxe memórias que eu tentava esquecer. Aos poucos minhas gargalhadas foram se silenciando.

- Qual é o problema, Sô? Você se calou de repente... - Tó diz se aproximando mais de mim.

- Não é nada. Acho que já tá na minha hora, preciso ir para a casa. - Digo disfarçando meu desconforto.

- Já? A noite tá tão boa...

- Realmente, tá ótima, mas daqui a pouco já será manhã! - Brinco.

- Você tem razão, nem tinha percebido o tempo passar. - Tó diz olhando o relógio - Vem que eu te levo.

Eu aceito a carona do Tó, que me leva para a casa ao som de Lenine no carro.

- Pronto, está entregue, moça. - Tó diz abrindo a porta pra mim

- Obrigada por tudo, Tó, eu me diverti muito - Tó estava parado em minha frente muito próximo a mim.

- Eu que agradeço, Sofia. Eu adorei conversar com você - Ele faz uma pausa e acaricia meu cabelo deslizando os dedos entre os cachos soltos - Eu sei que alguma coisa ainda dói nesse teu coraçãozinho, mas eu acho que você merece toda felicidade e amor do mundo, Sofia. Eu queria poder te ajudar e tirar tudo de ruim que te aflinge de dentro de você.

As mãos dele saíram do meu cabelo e levaram meu rosto até o encontro do dele, que se inclinava e se aproximava de mim, a sensação da pele dele perto da minha me faz lembrar de Daniel e da noite anterior e antes que os lábios dele tocassem os meus eu viro o rosto, ele sorri e dá um beijo em minha bochecha e diz:

- Por enquanto eu me contento com uma conversa na cozinha às 23:00h comendo sanduíche e refrigerante.

Após me despedir de Tó entro em minha velha e pequena sala e me jogo no sofá, sorrio ao me lembrar do que acabara de acontecer. Pego meu celular para checar as mensagens, mas não, Daniel não escrevera nada para mim. Não tinha mais nada naquela noite que eu pudesse fazer além de ir dormir.

* Sofia off*

Um sonho improvávelOnde histórias criam vida. Descubra agora