Capítulo - 03

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Guarde seu conselho, eu não vou ouvir
Você pode estar certo, mas eu não ligo

  Há um milhão de motivos para eu te deixar
Mas o coração quer o que ele quer
(Selena Gomez - The Heart Wants What It Wants)

São Paulo, 26 de março de 2009.

LIRIEL

Abro os olhos que ardem por estar morrendo de sono; ainda assim, reúno forças para me sentar na cama refletindo sobre mais um longo dia exaustivo que teria pela frente. Entro na cozinha penteando os cabelos com os dedos enquanto com a outra mão, seguro minha mochila; logo meus olhos encontram minha avó concentrada em seu trabalho.

— Bom dia, minha filha. — Ela me cumprimenta, mantendo sua atenção presa ao café que coa.

— Bom dia, vovó! — beijo sua bochecha e me sento à copa.

— Ah, Liriel — minha avó limpa as mãos no guardanapo após lavá-las. — Deveria ter lhe dito isso ontem — apanha um embrulho sobre a geladeira —, mas com a correria, achei melhor esperar. — Me estende uma caixinha e franzo o cenho ao apanhá-la. — É simples, mas é de coração. — Fala, enquanto desembrulho e noto a caixa de um celular, um Nokia2630.

— Obrigada, vovó! — me levanto e a abraço, emocionada com meu primeiro aparelho telefônico. — Não precisava — admiro o presente, virando a caixa em diversos ângulos. — A senhora deve ter gasto muito dinheiro. — Torço a boca.

— Me deixe presenteá-la, minha filha. Eu quase nunca pude fazer isso e você sempre me ajudou. — Agarra minhas mãos e a abraço mais uma vez.

Após terminar meu café, deixo a casa dos patrões rumo ao ponto de ônibus, caminho em passos firmes devido ao trânsito de sempre e sinto a brisa gelada que bate por ter acabo de clarear. Assim que subo na calçada, ouço o som de um automóvel, giro o pescoço e vejo um azera preto se aproximando, diminuindo a velocidade ao me alcançar.

— Bom dia! — O vidro desce e Samuel sorri com uma mão apoiada sobre o volante.

— Seu, seu Samuel? — Coloco o cabelo atrás da orelha, envergonhada por ter sido pega de surpresa, seu semblante e pose pareciam ter saído direto de uma capa de revista.

— Indo para faculdade? — Seu sorriso aumenta e aperto os lábios, tentando sorrir sem soar muito idiota. — Quer uma carona? — Pergunta antes que responda e arregalo os olhos.

— Não, não... — sorrio sem jeito, expulsando a possibilidade de aceitar sua cortesia. — Muito obrigada, mas não precisa, estou indo para o ponto de ônibus agora mesmo. — Digo firme, afinal, estava lá para estudar e saber a diferença entre mim e o filho dos patrões era fundamental.

— Ah, vamos lá. — Insiste de maneira amistosa. — Entra aqui, eu estou indo para lá também. Não me custa nada! — Olho para os lados e solto um longo suspiro.

— Eu não quero incomodá-lo.

— Incomodar? — Ri. — Sou eu quem estou te oferecendo. Ande, aceite logo minha carona. Não faz sentido você passar horas dentro do ônibus se a gente vai para o mesmo lugar. — Argumenta e eleva uma das sobrancelhas.

—Tudo bem. — Digo vencida e ele destrava a porta para que entre.

Assim que adentro no veículo, os vidros sobem fazendo com que prenda a respiração por estar em um ambiente tão pequeno para nós dois. Ele pisa no acelerador e mexe no som quando para no sinaleiro, noto como suas ações parecem tranquilas enquanto até meu silêncio parece perturbado. Concentrada no chaveiro da mochila, me mortifico por ter aceito aquela carona, já imaginando a bronca que levaria ou da minha avó ou do senhor e senhora Arantes.

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