Capítulo - 05

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São Paulo, 30 de março de 2009

LIRIEL

Me sento à copa da cozinha já pronta para ir à faculdade. Acordara cedo naquela segunda, a fim de não aumentar as preocupações da minha avó depois de seus avisos, embora ainda desejasse aceitar as caronas de Samuel. Na verdade, eu já devia saber que isso não deveria nem ter começado, sua gentileza não se encaixava em nossas posições, os lados em que nos encontramos são totalmente opostos. Além disso, estava caminhando para um rumo cada vez mais perigoso, alimentando esperanças, entretendo aquele amor adolescente, lhe dando gás e vigor. Bocejo e me levanto após tomar um pouco de leite, na noite anterior não dormi, estava mergulhada em pensamentos, na decisão que devia tomar e que meu coração rejeitava.

No ônibus, fui em pé, como de costume; estava lotado e o ar não funcionava, o que irritou boa parte dos passageiros. O sol já estava um pouco forte quando cheguei à universidade; desci em meu ponto e empurrei de lado meu cansaço, caminhando em direção ao meu bloco. A sala estava cheia quando a adentrei e o professor já lecionava; ocupei minha cadeira e tentei concentrar minha atenção na aula.

As horas passaram devagar e só pude agendar horário na sala de computação, para fazer um trabalho acadêmico, quase ao meio-dia. Caminhava pelo corredor pouco movimentado devido ao almoço, quando avisto seu Dionísio arrastando baldes com água; vejo nele um homem trabalhador com olhar triste e distante. Mesmo nas poucas vezes que conversamos, adquiri uma simpatia instantânea, bem como uma conexão que não sabia explicar.

— Liriel! — Seu rosto se ilumina ao me ver.

— Como o senhor está? — lhe dou um pequeno abraço.

— Bem, minha querida. — Apanha minhas mãos. — E você? Como está?

— Estou bem. — Forço um sorriso e ele dobra o pescoço.

— Está bem mesmo? Seus olhos parecem descaídos... — me estuda e desvio o olhar.

— Não é nada, é bobagem minha. — Ele toca meu ombro.

— Pode falar, Liriel. Está com algum problema?

— Eu gosto de uma pessoa desde que era menininha. — Solto os ombros. — Mas não quero alimentar falsas esperanças.

— É aquele rapaz que se aproximou de nós ontem? — Arregalo os olhos e ruborizo. — Desculpe ser fui muito invasivo, mas acabei percebendo pela maneira que sorriu para ele.

— Não, o senhor não foi invasivo. — Aliso sua mão, envergonhada. — É ele sim. — Mordo o lábio. — Mas por que ele olharia para mim? Eu sou tão pouco...

— Nunca diga isso! Você vale mais do que imagina! É uma preciosidade, é boa e tem um coração puro! — Suspiro e o abraço de repente.

— Obrigada, seu Dionísio! O senhor é um amigo muito gentil! — Me afasto para encarar seus olhos, que me fitam com doçura, parecem emocionados. — Eu trouxe algo para o senhor. — Aponto o dedo e ele sorri, então retiro da mochila uma vasilha pequena. — É simples, mas é de coração.

— Bolo de mandioca! — Cheira a vasilha ao abrir, maravilhado. — Mal posso esperar para provar.

— Fui eu quem fiz e me lembrei do senhor.

— Obrigado por lembrar de mim. Você é um anjo! — Beija minha mão.

— Que isso! É melhor eu ir agora, ainda tenho que estudar. — Dou-lhe mais um abraço e vou embora.

***

Guardo meu celular na cintura, olhando para os lados assim que deixo a sala de computação, pois está havendo boatos de roubos até mesmo no interno da universidade. Ajusto minha mochila sobre o ombro, verificando se a alça ainda está bem remendada, mas sou impedida de seguir assim que alguém segura em meu braço fazendo meu peito gelar.

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