Capítulo - 01

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Serra Negra, 24 de janeiro de 2009

LIRIEL

Olho para meu quarto e paro por alguns instantes de arrumar as malas, suspiro pesado entre ansiedade e expectativa, pois estou prestes a embarcar em uma nova etapa de minha vida. Há duas malas grandes em minha frente, em sua maioria roupas de casa com que costumava andar pela fazenda; entretanto, agora vou andar pela capital que me espera, assim como pela Universidade de São Paulo, em que consegui passar.

Foram anos de dedicação junto aos meus pais, que desejavam que pudesse tomar um caminho diferente do que tiveram, pelo qual construiria uma grande carreira e poderia satisfazer alguns desejos materiais. Agarrei a oportunidade e apoio que recebi, me dedicando, mesmo com recursos básicos. Passava mais tempo nos livros do que desfrutando de momentos de lazer, pois sabia que para chegar ao topo era necessário vencer a concorrência, e ela é cruel.

Enfim a primeira vitória havia chegado após tantos esforços e me preparava para festejá-la em poucos dias. Em meio a tantos nomes, o meu foi classificado para ocupar um lugar em uma universidade pública, em um curso prestigiado e completamente diferente de tudo que imaginei, mas no qual concluí que me encontraria... Fascinavam-me questões políticas, sociais ou econômicas guiadas por relações diplomáticas, e, segundo minhas inúmeras pesquisas, Relações Internacionais atendia tais fundamentos.

— Filha, você vai se atrasar! — minha mãe fala e deixo meu devaneio.

— Desculpe, mãe. — Sorrio para ela. — Já terminei! — ela retorce as mãos e lambe os lábios, sei que está sofrendo com a distância inevitável que haverá entre nós, embora não seja tanta. — Mãe, o tempo passa rápido, além disso, nas férias estarei de volta. — Ela morde os lábios e assente em silêncio, cruzando os braços. — Mãezinha... — Me aproximo e a abraço, ela afaga minhas costas e depois encara meu rosto apresentando seus olhos molhados pelas lágrimas.

— Parece que foi ontem que era uma menina, que precisava de mim e veja só?! — sorri. — Agora vai partir para longe!

— Mãe, eu ainda preciso de você. Sempre vou precisar, eu te amo! — aliso seus braços. — Eu sempre serei sua menina, nada vai mudar.

— Me desculpe. — Ela solta o ar e um sorriso. — Estou agindo como uma boba, logo você estará de volta. Peço que Deus te abençoe em seu caminho! — afaga meu rosto e beija minha testa.

Meu pai caminha para fora colocando na picape velha que pegou emprestada de um de seus amigos minhas duas malas; meu irmão está ao lado de minha mãe, lanço um último olhar para meu lar, em que passei tantos momentos felizes, e inspiro profundamente.

— Se cuida, maninha. — Marco aperta minha bochecha querendo me provocar. — Logo vou ter uma irmã diplomada! — acabo rindo com o crédito que deposita em mim.

— Pode apostar, Marco! — ele me puxa para seus braços e permanecemos colados por alguns segundos.

— Sua avó disse que irá te buscar na rodoviária, vá com Deus, minha filha! — minha mãe segura minhas mãos e me dá um último abraço.

Quando o carro é ligado sinto meu peito pesar, a saudade já corre depressa em minha direção e temo a chegada desse novo passo. Meia hora de carro ao som de Taylor Swift com a canção Love Story no rádio velho e chegamos à rodoviária, o veículo balança de um lado para o outro e exala um cheiro ruim, meu nariz coça e meus olhos ardem quando encaro o rosto de papai também emocionado. Ele vem tentado ser forte, não se despediu até o momento ou falou sobre minha partida, mas sei que ele já sente minha ausência e tenta à sua maneira tornar isso menos doloroso embora não sejam muitos quilômetros longe dali.

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