Capítulo 4

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Naquela manha, excepcionalmente, Joshua segue apressado para o escritório. Havia se levantado bem mais cedo do que era de costume, pois queria desfazer logo toda a mentira que fora obrigado a contar ao tio a fim de ocultar o verdadeiro motivo do sumiço de Mo.

A exemplo da noite anterior, nessa noite Joshua também não dormira bem. A excitação tomara conta de si. Um misto de euforia, pela possibilidade de mudança de vida que aquela nova descoberta poderia lhe proporcionar, e também de medo, por ter de contar toda verdade ao tio, ia tomando uma proporção enorme dentro de si. Provavelmente, perderia seu emprego e o que é pior, perderia também sua confiança.

Joshua ficara esperando por Mohas durante quase uma hora em frente a sua casa. Imaginara que ele passaria por lá para seguirem juntos até o escritório do tio, mas isto não aconteceu. Os minutos foram se passando e nada dele aparecer. Joshua deduziu então que provavelmente o amigo teria ficado bem mais ansioso que ele e resolvera ir à frente para aguardá-lo no escritório.

Joshua jamais poderia imaginar que Mohas, ao se despedir à noite passada, teria voltado à gruta a fim de acabar de ler a carta de seu pai?

Joshua não consegue esconder o espanto quando seu tio lhe diz que Mohas ainda não havia chegado:

- Ora, não é possível que Mohas não tenha conseguido acordar. Ainda era bem cedo quando nós nos despedimos ontem à noite. Eu acho que não era nem dez horas. Confidenciou Joshua ao tio que retrucou brincando:

- Provavelmente ele deve ter passado em algum bar para tirar o atraso. Coitado, passou o dia todo trancado num barco, não é mesmo? - Zombou tio Ben, dando a entender que realmente não havia acreditado naquela história.

Joshua finge não entender o sarcasmo do tio e desconversa:

-Olha só! - Disse apontando para o cais:

- Acabou de chegar aquele carregamento de bacalhau. Vou dar uma descida até lá para conferir a carga enquanto aguardamos o Mohas chegar. Pode ser tio?

Tio Ben acena com um gesto afirmativo sem nada dizer.

Já é quase hora do almoço quando um garoto desce correndo até onde Joshua está e de longe já vai gritando:

- Joshua! Joshua! Seu tio está lhe chamando. Mandou lhe dizer que Mohas já está lá no escritório.

- "Agora não tem mais jeito" - Pensa Joshua enquanto sobe rumo ao galpão onde fica o escritório:

- "Vamos ver o que o tio Ben vai dizer de tudo isto". - Tenta raciocinar já com uma sensação de alívio em poder "abrir o jogo" com o tio: "se existe alguém que pode nos ajudar nessa aventura, esse alguém é o tio Ben".

Mais tarde Joshua teria a certeza de que estava certo em suas deduções.

A primeira imagem que Joshua visualiza ao entrar no escritório é a expressão de medo estampada no rosto de Mohas. Num primeiro instante Joshua acha natural que o amigo estivesse assustado, pois iriam passar por uma prova de fogo contando ao tio Ben a mentira do dia anterior.

Depois de algumas horas, Joshua descobriria que a expressão no rosto de seu amigo não era apenas medo do tio Ben, e sim de alguém assustado com o que havia descoberto ainda a pouco na gruta. O pior é que Mohas não podia, ainda, dividir essas informações com Joshua. Queria avaliar melhor a situação antes de dizer alguma coisa a ele, pois não estava certo sobre as consequências que essas revelações poderiam trazer à vida deles.

- Entre logo Joshua. - Tio Ben já mostra sinais de impaciência:

- Vai ficar ai parado na porta ou vai me dizer de uma vez o que está acontecendo aqui?

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