CAPÍTULO UM

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A maior de todas as tempestades da minha vida chegou numa noite de segunda-feira. Estava deitado, quase pegando no sono quando ouvi um resmungo vindo da cama do lado. Tentei ignorar, afinal meu colega de quarto já tinha mostrado, muitas vezes, o quanto podia ser excêntrico, mas o resmungo virou um gemido.

Olhei para o lado por curiosidade, imaginei que talvez ele estivesse passando mal ou alguma coisa assim. Mal sabia que me arrependeria amargamente disso, porque a imagem ficou gravada na minha memória, se repetindo por dias, me incapacitando de me concentrar em qualquer outra coisa. 

Pedro estava se masturbando, na cama ao lado. Tentei não olhar, mas volta e meia me pegava olhando, observando a mão dele se mover, lembrando da última vez que eu tinha feito algo assim, da sensação, do toque. Virei para parede, mas os gemidos dele, mesmo sendo poucos, chegavam até mim, meu coração estava acelerado. Nunca tinha visto outro cara fazer isso, não deveria ser interessante, mas era.

Ouvi um gemido mais alto e o silêncio voltou, mas eu estava inquieto, todo o sono que me fez deitar minutos atrás tinha desaparecido. Qual era o problema desse cara? Como ele conseguiu fazer algo assim com outra pessoa no quarto? Ou eu estava invisível? 

Demorei muito para dormir naquela noite, o tempo não passava, o calor não diminuía, o sono não voltava, a excitação não cedia. Adormeci com aquela imagem dele fresca na minha memória. 

Quando acordei pela manhã, a primeira coisa que lembrei foi o que vi antes de dormir. Decidi que estava dando importância de mais ao ocorrido e segui minha rotina normal, tinha um trabalho importante para concluir antes do meio dia, então me pus a trabalhar no balcão que separava a cozinha da sala, depois de tomar café da manhã, é claro. 

Já era quase meio dia quando Pedro levantou, apareceu só de cueca e deitou no sofá da sala todo aberto, como fazia todo dia, independente do horário que acordasse. Por alguma razão que eu simplesmente não entendi, fiquei nervoso. Tentei me focar no trabalho que estava escrevendo, mas minha atenção era desviada para o corpo inerte dele no sofá, ele assistia tv muito à vontade.  

Nunca tinha reparado como ele tinha o peito largo, devia ser por causa da natação, ele comentou uma vez que praticava quando era mais novo. O bronzeado devia ser por causa da praia, ele passou o fim de semana com os pais e voltou assim. Percebi o tipo de pensamento que estava tendo e voltei a olhar para a tela do notebook, irritado comigo mesmo. Qual era o meu problema afinal?! 

— Olha isso! Cara vem vê isso aqui! — falou o Pedro, agitado.

Ignorei. Não que eu fosse grosso nem nada, mas eu tinha que terminar aquele trabalho e eu estava me sentindo esquisito desde a noite passada e honestamente ele também não ligava, tanto que nem insistiu. 

Me obriguei a escrever mais algumas linhas, antes dos meus olhos criarem vontade própria outra vez. Olhei para ele, estava sorrindo de alguma besteira num desses programas sensacionalistas e eu acabei sorrindo também. Pedro tinha um sorriso contagiante e espalhafatoso, que a gente demora para se acostumar, eu me irritava muito no começo com aquele jeito espalhado dele, mas agora tinha me acostumado. Era até bonito aquele sorriso.

Olhei para frente outra vez, que tipo de pensamento era esse? Bonito o sorriso dele? Voltei a escrever, mas meus nervos já estavam a flor da pele, uma inquietação esquisita ia crescendo dentro de mim.

Pedro falou alguma coisa sobre o programa que estava assistindo, animado como sempre, mas as palavras dele não me atingiram com seus significados. A voz dele soou longe, de tão imerso nas minhas preocupações que eu estava.

— Joca! Tô falando contigo, zé mané! 

— O que é?! — respondi irritado. 

Ele fechou a cara para mim.

Amigos - Um Romance ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora