CAPÍTULO CINCO

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Bati minha testa conta a porta do guarda roupa mais umas dez vezes antes que começasse a doer de verdade e fosse obrigado a parar. Queria chorar, queria gritar, queria poder bater muito em mim mesmo, até que estivesse desfalecido no chão. 

Eu não consegui ficar com a Gisela, preferi mil vezes que ela achasse que eu era gay do que broxa. Mas as duas opções era igualmente cruéis tendo em vista que eu já fiquei com ela outras vezes. 

Ao contrário do que eu esperava, Gisela não ficou furiosa, apesar de ser uma mulher muito orgulhosa dos seus atributos ela compreendeu facilmente a situação, me tranquilizou até. 

Mas o que estava me martirizando era o fato de não ter ficado excitado por ela. Eu toquei nela, beijei ela, ela estava em cima de mim e nada adiantou. Fiquei apavorado com a possibilidade de não conseguir mais me atrair por mulheres. Seria o fim da estrada heterossexual para mim e eu não sabia caminhar pelo outro caminho. 

Depois de bater minha testa no guarda roupa por um tempo, decidi que era hora de fazer o teste final. Ansioso e com as mãos tremendo peguei o celular, procurei um dos vídeos pornôs antigos que nunca me lembrava de apagar, o que mais gostei na minha vida, aquele com o qual me identifiquei quando tinha dezesseis anos e gastava muito tempo baixando isso na internet. Me sentei na cama, me preparei psicologicamente antes de colocar para rodar.

Logo os gemidos da loura que estava de quatro no chão encheram meus ouvidos. Essa posição para mim era a melhor, proporciona uma visão magnifica da parceira, uma visão privilegiada que sempre me deixava louco. Mas depois de cinco minutos do vídeo rolando, eu continuava sem sentir nada de excepcional. Tirei a roupa para ficar mais à vontade, meu "amigo lá de baixo" continuava adormecido. Tentei anima-lo, toquei, me masturbei de leve e aí sim foi dando sinal de vida, mas não era isso que eu queria. Sabe quando você vê aquela mulher gostosa passando na rua e já sente aquele comichão bom e o sangue esquentar? Era isso que eu queria, queria sentir tesão naquela mulher que estava no vídeo, mas o vídeo acabou e eu não fiquei nem meio duro. Me senti mal.

Eu não sentia mais atração por mulheres? Isso era definitivo? O que eu ia fazer agora? 

Foi assim que terminei meu primeiro domingo de folga em semanas, sozinho e aflito. 

Durante o trajeto até a universidade eu olhava para as mulheres na rua, buscando alguma resposta, mas tudo que meu cérebro racionalizava era "bonita e feia". As colegas da faculdade também não me serviram de inspiração, eu olhei para o corpo delas, os seios, o bumbum apertadinho nas calças jeans, mas nenhuma realmente me despertou qualquer desejo. Era desesperador, não consegui me concentrar em nada. 

Se Gisela comentou com Pedro alguma coisa sobre o meu fracasso como homem, ele não falou nada. Aquela foi a semana mais difícil depois que aquela tempestade começou. A exposição estava quase pronta, mas eu não conseguia me concentrar em nada, a correria antes tão bem vinda estava me sufocando. 

No almoço de quinta-feira voltei a ver Gisela, ou melhor ela veio me ver na biblioteca onde eu estava enterrado desde as sete da manhã. Estava toda sorridente, espalhando alegria, isso me irritou um pouco, mas era injusto descontar minhas frustrações nela. Conversamos um pouco, ela me tratava com muito mais naturalidade, não estava preocupada em me impressionar, ou seja, não me via mais como parceiro sexual em potencial. Até que veio a pergunta da vez. 

— O cara que você tá pegando é daqui da facul? 

Levei três segundos para me lembrar da desculpa esfarrapada que dei para ela quando a rejeitei. 

— Não. Você não conhece —  sustentei a mentira. 

— Mas vocês estão bem? 

— Como assim? —  fiquei um pouco nervoso por ela insistir no tema. Afinal era mentira. 

Amigos - Um Romance ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora