— Você se sentiu "esquisito" porque viu o Pedro batendo uma? — ele repetiu minhas palavras, mas cheio de ironia.
— Não exatamente — respondi suspirando.
— Então como foi "exatamente"? — ele frisou a última palavra.
Fiz um resumo das últimas semanas e as situações mais constrangedoras que me meti. O sorriso que apareceu na cara ele me estressou, em todos os nossos anos de amizade nunca senti tanta vontade de bater nele como estava naquele momento. Guto tentou controlar a risada, mas só fazia piorar mais as caretas dele. Era óbvio que para ele tudo seria muito engraçado, mas ele podia ter alguma sensibilidade com aquele momento. Eu estava mesmo em crise.
— Quer saber... Vou para casa! Mas que droga de amigo que eu fui arrumar — falei e fui me levantando, já de cara feia.
— NÃO! Espera, espera! Calma aí!
Ele foi levantando também e eu olhei para ele com raiva. Eu sabia que ele não ia acreditar tão fácil, eu mesmo nem estava acreditando ainda. Afinal, nós saímos algumas vezes com nossos respectivos parceiros em encontros duplos ou qualquer coisa do tipo, ele sempre achou que eu tinha um péssimo gosto para mulher.
Mas nada justificava aquela crise de risos. Eu fiquei muito irritado.
— Vai se ferrar Jorge Augusto! — eu ia embora de verdade, tinha essa intenção. Mas quando me virei para partir ele ficou sério.
— É sério isso?
Tive que olhar para ele, no mesmo segundo minha raiva foi embora. Ele estava me olhando com as sobrancelhas erguidas e um tanto surpreso. Ele sabia que era o único com quem falaria abertamente sobre isso. Mas eu não consegui responder, minha voz não saiu e de repente fiquei com medo. Falar aquilo em voz alta, para um amigo, foi como assumir o que estava acontecendo.
— Nossa Joca. Desculpa, eu achei que era brincadeira. Cara que mancada a minha — a última parte falou para ele mesmo.
Quanto mais ele falava mais eu percebia que era real.
— É melhor eu ir para casa, por hoje já deu — falei, desanimado.
Eu não estava mais zangado, apenas aborrecido com a situação toda.
— Para de frescura Joca! Senta logo ai — ele me puxou e me fez sentar.
Vou confessar que não resisti nada. Eu não queria voltar para o meu apartamento, mesmo me irritando, ele era minha melhor opção naquele momento.
— Conta aí.
— Não tem nada mais para contar. Foi o que eu disse.
— Mas você só tem tesão nele? Tipo, nenhum outro cara te deixou de pau duro? — perguntou com curiosidade genuína, mas muito preocupado.
Queria enfiar minha cabeça num buraco nessa hora.
— Porra Guto! Sei lá cara! Eu não ando por ai reparando nos caras na rua não. Como é que eu vou saber! — reclamei mesmo, ele estava me constrangendo.
— Oh! Calma aí. Não é o fim do mundo — ele me abraçou de lado, me senti um pouco estranho com isso.
Nós nunca fomos muito apegados, éramos amigos sim, mas era raro nos abraçarmos.
— Qual seria o problema de você ser gay? — perguntou na maior tranquilidade.
Suspirei outra vez, ultimamente tenho feito muito isso.
— Sei lá. Acho que nenhum — admiti, mas na verdade eu estava confuso.
Ficamos em silencio por um bom tempo, ele fez questão de não me soltar.
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Amigos - Um Romance Clichê
RomanceO que você faria se começasse a se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo? Joaquim, ou melhor Joca, fez o que a maioria das pessoas faria, pediu ajuda do único amigo gay que tinha. Mas até onde Joca está disposto a ir em busca de esclarecimento na...