CAPÍTULO TRÊS

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Eu estava nervoso.

— E se alguém me ver aqui?

Estava contrariado.

— Aqui tem um monte de héteros também, se encontrar algum conhecido pode dizer que está só conhecendo a boate. É verdade mesmo —  ele simplificou tudo.

— Não sei se isso foi uma boa ideia – resmunguei, olhando para os lados.

Guto começou a massagear meus ombros. Eu tenho muitos defeitos e tenho consciência disso, um deles é meu nervosismo excessivo.

A fila andou alguns metros.

— Relaxa Joca. Pensa que pode acabar conhecendo algum cara legal hoje!

Me desvencilhei das mãos dele e me virei para encará-lo, um frio ruim na barriga.

— Nem vem seu pirralho! Pode tirar essas ideias da cabeça! — já estava na defensiva.

Ele sorriu, divertido, me virou e voltou a massagear meus ombros.

— Eu só tô curtindo com a tua cara.

— Palhaço —  resmunguei, mas tenho certeza que ele ouviu, porque ouvi mais uma risadinha gaiata.

A fila andou outra vez.

— É só uma experiência nova. Olha o tanto de bofe que tem aqui, você podia aproveitar hoje para descobrir qual é o seu tipo, se curte mais afeminado, mais sarado, mais rude, ou tipo ursão sabe? Bem peludo e grandão!

Virei para ele com todo o espanto que me dominou. Ainda tinha tudo isso para pensar? Guto revirou os olhos, eu sabia que a paciência dele não era infinita e que eu devia estar chato para caramba. As vezes eu era muito rabugento. Ele me virou de novo.

— Só fica calado e me escuta. Não tô dizendo que você "tem que" ficar com alguém hoje! Mas você precisa olhar para essa oportunidade sem preconceitos Joca. As baladas LGBT tem os melhores dj's , são muito conhecidas pelas músicas. Apenas relaxa e olha para essas pessoas sem rotular elas, apenas curte e se alguém te agradar, tipo... parecer bonito, ou atraente, ou sei lá, apenas não fuja!

— Parece até que não me conhece – respondi baixinho, só para mim mesmo.

As vezes o Guto me surpreendia com seus conselhos providenciais. Eu sabia que ele estava certo, mas entre saber e me despir de qualquer receio existia uma distância gigantesca.

— Ei, se a calma cara. Todo mundo aqui já passou ou está passando pela mesma coisa que você, as mesmas dúvidas e o nervosismo também. Eu tô aqui contigo, então relaxa.

Coloquei um sorriso meio amarelo no rosto.

Depois de um tempo que me pareceu eterno, mas não devia ter sido mais do que uma hora na fila, entramos.

Fazia muito tempo desde a última vez que eu tinha ido numa boate, tinha me esquecido como aquele atmosfera era envolvente. Guto foi me puxando pelo braço, com certeza percebeu meu espanto inicial.

As pessoas dançavam enlouquecidas, agitando os corpos no ritmo da música alta, bebiam e se beijavam sem inibições. Tudo era resultado da segurança que o interior da boate proporciona, por mais "modernos" que estejamos, ainda existe muito preconceito e dificilmente aquelas pessoas que estavam ali trocariam caricias daquela forma na rua.

Homossexuais ou não, todos ali estavam apenas se divertindo. Enquanto dávamos a volta na pista e alcançamos o bar senti vergonha de mim mesmo, do que eu falei para o meu amigo lá fora, senti vergonha de ter tido medo de ser visto ali. Mas eu guardei todas essa sensações para mim, fui chato o bastante do lado de fora e Guto estava muito animado. Estava na cara que ele não estava ali só para me mostrar aquele mundo novo que eu fui jogado porque meu corpo decidiu que se animava com homens.

Amigos - Um Romance ClichêOnde histórias criam vida. Descubra agora