✚ O ciclo ✚
— Ele se debatia e piava, eu não pude fazer nada — Disse Sam aos prantos.
O pequeno Tom não resistira o frio e faleceu enquanto estive fora.
— Eu não devia ter usado o nome de Tom... — deu uma pausa para soluçar. — eu amaldiçoei o animal, brinquei com a morte.
Olhei atentamente para ele e passei a mão sobre sua testa, acariciando a franja.
— Não foi sua culpa, não acredito nessa coisa de azar, as coisas simplesmente acontecem.
Peguei a ave e embrulhei num saco de remédios. O pássaro estava durinho, senti um pouco de nojo ao pegar o cadáver.
— Tudo é tão bonito na vida, vem a morte e estraga tudo — queixou-se. — Por que tudo não é diferente? Queria que não morrêssemos nunca, que as coisas nunca tivessem fim.
— Eterno? Hmm... — refleti. — não sei se teria graça.
— Claro que sim, nunca perderíamos ninguém, teríamos a eternidade toda pra passar com as pessoas que amamos.
— Mas é porque sabemos que podemos perdê-lás que damos valor à sua existência, não sei se vivendo para sempre conseguiríamos ter disposição para contemplar e engrandecer o valor de alguém — retruquei.
— É, você pode estar metade certo, mas ainda prefiro que seja assim.
Acariciei novamente à franja e depois beijei suave sobre sua testa.
— Eu também queria muito que Tom ainda estivesse entre nós, mas agora é a realidade que temos que enfrentar. A vida ainda pode ser bela, e será um desafio para nós encontrar a beleza. — Sam me encarou com pesar — Eu prometo te ajudar nesse desafio.
Sam agradeceu e virou a cabeça para o outro lado tristonha.
Ajeitei seu corpo na cama, erguendo seu busto e sentando-a. Pacientemente e com cuidado levava colheradas de sopa até sua boca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Canção da Geada
FantasyUm bardo veterano e misterioso resolve narrar partes de sua vida a uma trupe com qual está viajando em busca de um grande tesouro. Conta sua história e a origem de seu alter ego fim : "O poeta das mil luas" Sempre muito misterioso e articulado, esc...